A gigante história escrita por artilheiros ofuscados
A questão é que a década foi inteiramente dominada por duas máquinas incansáveis: Messi e Cristiano Ronaldo
atualizado
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Robert Lewandowski e Karim Benzema. Em comum, a camisa 9 de clubes enormes já há muitos anos. As diferenças são muitas, desde o estilo de jogo, passando pelo status diante da própria torcida e a trajetória pela seleção nacional.
A semana de Champions League ajudou a reforçar marcas que muitas vezes não recebem o devido valor. Lewandowski marcou quatro gols na goleada do Bayern sobre o Estrela Vermelha. Benzema fez os dois do Real Madrid no empate contra o PSG.
Que o polonês é um grande definidor, não resta a menor dúvida. A temporada 2019/20 tem sido um escândalo, no melhor sentido da palavra. Somando Bundesliga e Liga dos Campeões, são 26 gols em 17 partidas. Números impressionantes em um clube distante da tranquilidade de anos anteriores. Tanto que já trocou de técnico, com a demissão de Niko Kovac.
Quanto a Benzema, o número de gols cresceu desde a saída de Cristiano Ronaldo, mas o protagonismo é muito maior do que o papel de artilheiro. O francês é uma referência na armação de jogadas, se movimentando e facilitando a vida de todos que atuam ao seu redor. Seus 14 gols nos 17 jogos, somando Champions e La Liga, não dão a real dimensão da importância que possui no Real Madrid.
A questão é que a década foi inteiramente dominada por duas máquinas incansáveis. Messi e Cristiano Ronaldo não dão brechas para seus concorrentes, seja nas premiações individuais ou nas inúmeras estatísticas e recordes quebrados ao longo do tempo.
Na Liga dos Campeões, não é diferente. Só que entre os “mortais”, Benzema e Lewandowski se aproximam de uma marca muito expressiva. Com 64 e 63 gols marcados, respectivamente, estão no top-5 da artilharia histórica do maior torneio continental da Europa.
Até alguns anos atrás, os 71 gols de Raúl pareciam inalcançáveis. O ídolo do Real Madrid marcou época e deixou grandes lendas para trás na lista de uma competição extremamente difícil. Eusébio nos anos 1960, Gerd Muller nos anos 1970, Jean-Pierre Papin nos anos 1990 e Ruud Van Nistelrooy nos anos 2000. Os únicos quatro artilheiros de mais de duas edições de Champions League.
Pelo menos até 2007/08, temporada que marcou o começo de uma nova era. Desde então, foram 12 edições dominadas por Cristiano Ronaldo e Messi como principais goleadores. Neymar foi o único “intruso”, dividindo a artilharia com a dupla em 2014/15. Como consequência, todos os parâmetros foram alterados. Os inigualáveis 71 gols de Raúl foram atropelados por uma disputa entre atacantes que já superaram os 100 e não perderam fôlego.
Agora, com referências tão anormais e implacáveis, o excelente já não basta. É o caso de Lewandowski e Benzema, que deixaram Van Nistelrooy, Henry, Di Stefano, Shevchenko, Inzaghi, Del Piero, Drogba e muitos outros para trás. Muitos podem argumentar que o número de jogos é maior nos dias de hoje. E é verdade, especialmente no caso de Benzema, que não é um finalizador como outros da lista. Mas a média de “Lewa” não fica atrás de muitos dos grandes nomes históricos.
O ponto principal é mudar a perspectiva do olhar para a história que tem sido construída. E não é pouca coisa. Da mesma forma que grandes jogadores foram ofuscados ao longo da atual década, grandes goleadores também ficam muitas vezes em segundo plano. Lewandowski é um dos principais centroavantes de sua geração. Benzema é um dos camisas 9 mais completos do mundo e, mesmo assim, ainda desperta desconfiança para muitos no Real Madrid. Talvez sejam nomes que só ganharão o devido peso quando estiverem como ex-jogadores em posições tão relevantes de listas históricas.