metropoles.com

Você está usando sua criança interior como desculpa para ser egoísta?

Tal comportamento tem criado uma “geração floco de neve”: pessoas mimadas, que querem tudo para si e a seu jeito, sempre com vantagens

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Istock
Playful Red Haired Guy Teasing at Camera
1 de 1 Playful Red Haired Guy Teasing at Camera - Foto: Istock

Olha, eu tenho tomado uma certa birra dessa história de criança interior. Birra ou pena, ainda não sei. Mas ela tem me incomodado, e é bem provável que este texto incomode algumas pessoas.

Além de um negócio rentável, acolher a criança interior virou argumento para as mais variadas indulgências e para evocar na imagem infantil a realização daquilo que somos. Essa visão pueril é, muitas vezes, cultuada com o intuito de validar irresponsabilidades, descompromissos e uma dificuldade imensa de aceitar a frustração.

Crianças se frustram e têm nisso um aprendizado, pois a vida é altamente frustrante. Percebem assim que o mundo é para todos e não para si. Mas, aparentemente, isso tem se tornado um fato difícil de realizar.

Talvez isso acompanhe o raciocínio do que estão chamando de “geração floco de neve” – em suma: quem não resiste a nenhuma afetação sem se desconstruir. Pessoas egoístas, mimadas, que querem tudo para si e a seu jeito, sempre com vantagens. Daquele tipo de criança que comanda a brincadeira e se impõe contra os mais novos. E, quando desagradada, encerra o jogo.

Nesses casos, o “resgate” da criança interior não acontece porque, simplesmente, tais sujeitos dela nunca se distinguiram. O corpo emocional estacionou em algum lugar da história.

Adultecer virou um problema. Perceber o peso de cada escolha, parar de atribuir ao outro a responsabilidade de condenação ou salvação, aprender o valor do cuidado responsável. Direitos e deveres. O que gostaria e o que devo fazer. O cotidiano, muitas vezes amargo, o qual precisamos aprender a tolerar.

Atribuições personificadas na imagem do boleto bancário a vencer.

Inclusive, sobre intolerância, vemos uma resistência crescente ao diferente: a marca de quem não está pronto para lidar com aquilo que não espelha a própria imagem e, consequentemente, exigirá mais de si.

Essa é a minha birra. A parte da pena é de ver pessoas que, de fato, desenvolveram-se lapidadas a facão e nem sequer têm consciência de tudo que lhes foi negado na infância. Nessas, percebo a tal criança, no sorriso e na lágrima, quando são enxergadas, ouvidas, gratificadas, recompensadas. E também na resposta oferecida.

Ficam saciadas, gratas, satisfeitas, em vez de exigirem sempre mais e mais. Talvez por valorarem verdadeiramente aquilo que lhes foi dado, por conhecerem de perto miséria, seja a de recursos ou a de afetos.

Em vez de cristalizar essa imagem pueril como recurso às demandas, talvez nos caiba estimular o amadurecimento, acompanhar o tempo das coisas que passam. Devemos acolher também o adulto interior e perceber a importância de viver bem esta fase – apesar das contrariedades inerentes a ela.

Preparar-se para receber o ancião interior. Não o da soberba das respostas prontas, mas aquele que compreende o envelhecimento, a limitação e a perda gradual dos recursos, que culmina na finitude. Só realizamos a vida quando tratamos tais figuras com os mesmos respeito, honra e dedicação.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?