Se tiver algo a pedir a Deus, peça coragem
Pode ser aniversário, casamento, Natal, trabalho novo. Em qualquer ocasião, tenho me percebido repetir um voto: coragem. Irrestritamente, a quem quer que seja. Dos mais amados, aos meros conhecidos, até mesmo para quem não carrego muita simpatia. E o faço por perceber que o mundo está carente desse atributo. Coragem é diferente de valentia […]
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Pode ser aniversário, casamento, Natal, trabalho novo. Em qualquer ocasião, tenho me percebido repetir um voto: coragem. Irrestritamente, a quem quer que seja. Dos mais amados, aos meros conhecidos, até mesmo para quem não carrego muita simpatia. E o faço por perceber que o mundo está carente desse atributo.
Coragem é diferente de valentia de brigão, de quem se justifica pelo fogo nas ventas. Esses aí estão muito mais comprometidos com a afronta do que com o resultado que deriva da batalha. Sofrem mais com a ideia de serem julgados incapazes diante do outro. Mas não sabem exatamente o que querem fazer com os recursos que têm. Perdem tempo tentando provar que são fortes. E isso também não é força.
A etimologia latina da palavra ensina que quando a ação (-aticum) brota do coração (cor-), essa será uma atitude corajosa (coraticum). Para os gregos, era no centro do peito que moravam nossas emoções. E dali partia o ímpeto que conduzira à ação – a tal da “força de vontade”.
Inveja é covardia
Uma boa vida depende de coragem para se realizar. O indivíduo covarde é aquele que foge do enfrentamento das limitações que lhe são impostas. É verdade que nem toda barreira pode ser transposta. Ser corajoso é compreender isso também. E que, para que algo se dê, um preço será cobrado. Ciente disso, cabe arriscar. Perder é sempre uma possibilidade, mas nem sempre uma certeza. A vida do corajoso se foca no acerto.
Quando falo em enfrentamento, não estou aqui seguindo o discurso do “matar um leão por dia” – é um pavor viver assim. Só temos um bicho a encarar: o que nos habita. Ele nos consome pelo comodismo, pela procrastinação, pela ambição descomunal diante do esforço que nos dispomos a empreender. O mundo cerceia a todos. O corajoso se diferencia por não usar esse argumento para justificar sua situação.
Uma boa régua para medir a covardia é a inveja – no caso, com medidas inversamente proporcionais. Quanto mais invejoso, menor a capacidade de se deixar envolver por aquilo que planeja. Quem consegue de fato torcer pelo sucesso do outro é o verdadeiro valente. Maior ainda é a valentia de quem vê o outro crescer sem se desesperar.
Desenvolva a virtude
Coragem é a chave-mestra, melhor que qualquer reza ou simpatia. Abre os caminhos para o trabalho, leva à entrega a um novo amor, desperta a saúde no corpo adoecido, revela o lado obscuro da alma. Permite as reviravoltas que levam a vida pra frente. Se tiver algo a pedir a Deus, peça coragem. Com ela, o resto vem.
A covardia, por sua vez, é como uma maldição. Tudo fica mais difícil, o fluxo estanca. Destacam-se os inimigos que cobiçam o que é seu. Até a feiura se realça: nada pode ser feito para deter o destino cruel. A reclamação vira fiel companheira – uma parceria bem egoísta, daquelas que exige exclusividade. Sim, gente covarde acaba sempre só. No máximo, cercada por semelhantes.
Dizem que coragem é questão de sorte, ou de temperamento. Acredito que é como fazer um destro escrever com a mão esquerda: uns terão mais facilidade para aprender, outros não. Mas, a priori, todos são capazes de desenvolver. Aos que ainda não atentaram a essa necessidade, eu desejo coragem. Aprendi a querer para o outro o que quero para mim.