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Queremos pertencer a algum lugar, mas devemos respeitar nossos limites

O mundo líquido, como chamou Zygmunt Bauman, é aquele que se adapta rapidamente à qualquer realidade, sem assimilar o mundo anterior

atualizado

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Mão água
1 de 1 Mão água - Foto: iStock

Tudo que é liquido escorre entre os dedos. Podemos pensar nisso como um signo bacana do desapego, da capacidade de deixarmos a vida ter a continuidade que necessita, mesmo longe de nós. Mas essa também é a imagem da inconsistência, da incontinência, da fugacidade.

Foi a partir dessa imagem que o filósofo polonês Zygmunt Bauman construiu uma importante visão sobre a realidade contemporânea, especialmente após a instalação do paradoxo das novas comunicações. E, naturalmente, dos novos formatos de relações.

Afinal, foi a partir delas que construímos uma nova estratégia de interlocução com o outro. E, nela, nos perdemos na escala de prioridades, daquilo que é verdadeiramente importante no viver. Falo aqui do sentido das coisas.

O mundo líquido, como chamou Bauman, é aquele que se adapta rapidamente à qualquer realidade, sem, no entanto, assimilar algum significado das vivências anteriores. Temos a ânsia de provarmos (ao outro e a nós mesmos) que somos capazes de ocupar qualquer “recipiente”, tomando-lhe a forma.

Somos seduzidos com cada vez mais facilidade, entendemos qualquer oferta como uma oportunidade imperdível. Uma plasticidade desgastante, que se valida apenas na possibilidade de viver a novidade, e não de encontrar uma forma que case harmonicamente com a nossa essência.

Nos perdemos pela vontade de pertencer a todos os espaços, quando deveríamos reconhecer os locais, situações e pessoas que se conciliam com nossa alma. Tornamo-nos fragmentados, distantes da nossa identidade.

Pulamos de um galho para outro, dispensando leituras prévia e posterior dos acontecimentos. Ou seja, sem aquele distanciamento básico para avaliar a realidade na qual estamos inseridos, como reagimos a ela e quais os desdobramentos por nossas atitudes. O nome dessa leitura é reflexão.

E é a partir dela que conseguimos converter uma vivência ordinária em experiência, que norteará nossos passos. Nortear: dar norte, fazer com que estejamos orientados e referenciados em algo maior – o tal do sentido que confere alguma importância à existência.

O próprio Bauman não sabia definir se esse mundo liquefeito é uma nova realidade ou somente uma fase transitória. De qualquer forma, é o que temos para viver. E, nele, precisamos encontrar uma forma saudável de assimilar tudo isso.

O pensador nos deixou nesta segunda, aos 91 anos. Seu legado, nada líquido, orientará nossas estratégias de viver e conviver.

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