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Queremos paz e sossego, mas quando conseguimos, falhamos em aproveitar

Precisamos tanto de tudo porque nos desprendemos de um princípio básico: somos a nossa melhor companhia

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Thoughtful stressed young man with a mess in his head
1 de 1 Thoughtful stressed young man with a mess in his head - Foto: Istock

Querer um tempo para si, longe de qualquer demanda ou incômodo. Muitas pessoas desejam momentos assim, trocariam por qualquer luxo. Percebem-se vítimas da correria, das demandas da vida moderna. E reclamam, nostálgicas, da capacidade de um território só seu.

Mas, quando se veem em pequenos refúgios do cotidiano, tais pessoas nem sempre aproveitam a dádiva que ansiaram. Perdem-se em distrações baratas, a ponto de, quando chamadas a retornar aos afazeres habituais, mal perceberem sobre como gastaram um recurso tão valioso.

O que lhes falta não é exatamente tempo, mas principalmente uma forma saudável de manejá-lo. Em geral, a questão encobre outra, um pouco mais profunda: a dificuldade de fazer-se bem, de estar em paz consigo.

Estamos impregnados por uma cultura de excessos, marcada por uma ansiedade devoradora. Visamos sempre mais, e melhor. Nada passa despercebido, tudo pode ser o gatilho para a dita felicidade. Curiosamente, esta parece correr na direção contrária: quanto mais a buscamos, mais distante dela ficamos.

Nesse frenesi, percebemo-nos acumuladores natos. Gastamos nossa energia vital para adquirir um score sem limites de bens, de relações, de informações e de experiências. Estamos em lugares que pouco nos falam em sentido, conversando com pessoas que nada dizem respeito àquilo que somos, de posse de algo que poderíamos viver sem.

E atribuímos a tudo isso, que mal sabemos para que serve, uma importância vital. Apego mesmo. É como se vivêssemos num clima constante de guerra, na qual a economia se orienta pelo princípio da escassez: melhor ter para guardar do que um dia sentir a falta.

Fora isso, tem a parte da manutenção de todos esses nossos acessórios. Num show de equilibrismo, parte do trabalho está em fazer os pratos rodarem sobre as varetas. A outra parte é impedir que eles caiam. Ambos são extenuantes.

Precisamos tanto de tudo porque nos desprendemos de um princípio básico: somos a nossa melhor companhia. Não por sermos muito interessantes, mas por tempo de convivência. E talvez por isto desprezamos tanto a solidão: por acharmos que já nos conhecemos demais, que somos territórios dominados. Ou talvez pelo contrário disso.

Quando respeitamos nossos momentos a sós, uma fresta se abre em nossa superficialidade. E, através dela, podemos observar toda nossa complexidade. Nossas faltas, nossos excessos. Uma imagem perturbadora, especialmente para quem se identifica com o espírito controlador que comanda a época.

Não é uma questão de ter um tempo, e sim de dar um tempo. Não será medido pela quantidade, e sim pela qualidade. E em especial pela condição de lidarmos razoavelmente com a ideia de jamais encontrarmos essa paz idealizada.

O suposto sossego almejado reside na capacidade de aceitarmos os ruídos que nos povoam e, neles, ouvir uma sinfonia.

No próximo sábado (1º/12), às 9h, amplio esse tema na palestra Solidão, que será apresentada no projeto Café com Debate, da Editora Paulus. O investimento é de R$ 10 (pagamento somente em dinheiro). A Livraria Paulus fica no SCS Quadra 1. Informações e inscrições pelo WhatsApp: (61) 98341-0228

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