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Quando nos apegamos às nossas verdades, não exploramos novos caminhos

Não saber me alerta para preconceitos e promove a visão de oportunidades diversas

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Serious pretty woman covering ears with hands with her eyes closed
1 de 1 Serious pretty woman covering ears with hands with her eyes closed - Foto: Istock/MangoStar_Studio

Eu não sei de tudo. Às vezes, isso me aborrece. Mas quase sempre me liberta.

A escassez de silêncio me mostra que ainda está longe de eu me transformar em um sábio. Ainda falo muito, escrevo muito. Os anos me ensinam, a cada segundo, vale mais a mim do que a qualquer outro ser. Nem sempre acato – e esta coluna é prova documental disso.

E assim ganho a vida, faço minha história. Dizendo o que, para muitos, é indizível. Auxiliando-os a encontrar a palavra que ajuda e expressar os sentimentos e credos. Mas sou só uma voz, um ponto de vista. Em meu ofício, tento ser mais lupa que farol. Ambos são guiados por lentes côncavas, mas com funções opostas.

Determinar verdades seria incoerente com meu papel. Cada verdade é uma amarra que inviabiliza todas as outras possibilidades. Minha tarefa é fazer com que a mesma coisa seja vista por diferentes ângulos, e que, em cada um, perceba-se um novo detalhe que faz do óbvio algo novo. Não é fácil.

Especialmente porque lido, diariamente, com aquilo que está cristalizado em mim. Também carrego minhas certezas, e, quase sempre, vem delas o meu mal. É péssimo ter de contradizê-las, pois com elas estabelecemos uma espécie de pacto. A certeza se esvazia, “disfunciona”, e o pacto sobrevive.

Também é difícil porque cada livro que leio, cada debate de que participo, cada arte que aprecio me chamam a entender uma nova verdade. E muitas vezes é sedutor querer colocá-las em pedestais, consagrando-as a novos faróis. E isso seria apenas trocar de senhor, mas manter-se igualmente escravo.

Quando o “não sei” vem à mente como resposta, a gente se inquieta, a angústia cresce. Mas com ela vem a sensação de estar no caminho certo.

Não saber me alerta para os preconceitos e promove a visão de novas oportunidades. Faz com que eu me estranhe e me perceba agindo de outra forma. Repito: não é fácil.

O mesmo vale para quando o cliente que acompanho há anos chega e apresenta uma nova face. E, diante do próprio espanto, indaga a mim o que está acontecendo. Vibro ao desconhecê-lo também, a não querer enquadrar aquela reação no hall das já conhecidas.

Acompanho o profundo que toma aquele momento como o momento mágico que me faz vir, dia após dia, praticar o exercício da escuta.

Assim, somos dois estranhos novamente, buscando um no outro o que pode nos atrelar num novo trecho da caminhada. Fórmula perfeita para renovar qualquer tipo de relação, não só as profissionais. Mas isso depende, exclusivamente, do abandono ao impulso de querer colonizar o outro, do esvaziamento do poder.

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