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O tempo ensina sobre aquilo que pode esperar

Basta percebermos que cruzamos a linha da metade da vida para compreendermos que não podemos nos gastar com qualquer coisa

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Man being anxious about time pressure
1 de 1 Man being anxious about time pressure - Foto: Istock/SIphotography

A vida se dá num encadeamento de prioridades. Das escolhas mais corriqueiras às mais complexas, elegemos tudo a depender daquilo que, em nosso imaginário, nos fará mais felizes.

Nisso, passamos à frente na fila os eventos e companhias que atendam melhor esse propósito. Gastamos com eles nosso principal recurso: o tempo – moeda de maior valor, uma vez que é irrecuperável.

Por vezes, o equívoco nos leva a investimentos ruins. Apostamos errado ao dar a preferência ao que não nos merece, mas que, igual ao imprescindível, nos tomará o mesmo tempo. E o fazemos por crermos numa rentabilidade que não chega.

Mas o tempo ensina. Especialmente quando nos damos conta de que a vida é uma chama, sujeita ao acaso de um sopro. Ok, sem fatalismos nem chavões. Mas basta percebermos que cruzamos a linha da metade da vida, uma espécie de Equador da existência, para compreendermos que não podemos nos gastar com qualquer coisa. Nem com qualquer pessoa.

É uma medida econômica simples: poupar para gastar com o que verdadeiramente importa. Daí, quando há alguma sobra, dedicamos ao supérfluo. O supérfluo é a marca de qualidade de vida: sobrar energia para além do essencial, e dedicar-se sem o medo da falta.

Brota daí um paradoxo: refinamos nossos gostos enquanto simplificamos o cotidiano. Precisamos de menos, mas tem de ser bom. O volume das coisas diminui: das compras, das relações, dos programas. Mas eles ganham um rebuscado barroco dentro de nós: é a alma se fazendo.

Ao redor, alguns se espantam, outros invejam. Há também quem duvide. Afinal, nenhuma mudança presenciada é mais intensa do que a experimentada. Quando chegar a vez deles, entenderão. Se chegar a vez deles.

Digo isso porque nem sempre conseguimos ter a lucidez sobre a areia que se desloca na ampulheta. E gastamos a vida como se não houvesse amanhã. E um dia não terá.

Esse viver enxuto, sem penduricalhos desnecessários, depende de uma boa agenda. Não para que vivamos de forma sistemática, controlada, e sim para que possamos nos dar conta do limite. A onipresença é atributo divinal, não nos pertence. “Mas será bom!” Não duvido disso. Só não cabe no meu orçamento existencial.

Ou pode aguardar um pouco mais, galgando uma colocação melhor na lista dos supérfluos. Podemos fazer isso sem soberba nem egoísmo. Apenas dando importância à recíproca, por exemplo. Não preciso estar onde não faço nenhuma diferença, nem ser deferente a quem comigo não se importa.

Talvez, nas avaliações constantes que devemos fazer, percebamos que o tal compromisso, em vez de escalar como prioridade, encaminha-se aos poucos para o fim da lista. Aí você perceberá que aquilo que pode esperar, na verdade, nunca precisou participar de sua vida.

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