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O olhar ávido pela novidade forma uma geração cada vez mais ansiosa

O roteiro moderno é assim: se a resposta não for imediata e satisfatória aos anseios egoicos, está na hora de partir para a próxima

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Adolescente metro velocidade
1 de 1 Adolescente metro velocidade - Foto: iStock

Domingo estava numa conversa com amigos quando eu disse que preciso trocar os pneus do meu carro, pelo desgaste natural de uso. Uma amiga, bem querida inclusive, sugeriu que eu trocasse de carro. Isso me espantou, mas me fez pensar.

Todo mundo gosta do que é bom, especialmente do que vem com cheiro de novidade. E somos aguçados a substituir mesmo, sem muitos questionamentos. Afinal, consertar é dispendioso e dá trabalho. E não estou mais falando de carros.

Adotar a substituição como caminho é um argumento falacioso. Funciona sem funcionar. No consultório, vejo que grande parte das angústias parte da incapacidade de promover substituições.
O descarte é geral: empregos, amizades, amores, deuses, tratamentos. Se a resposta não for imediata, e satisfatória aos anseios egoicos, está na hora de partir para a próxima. Esquece-se apenas que é depois da sedimentação que encontramos fundamentos sólidos.

É um desafio, enquanto analista, levar certos clientes a perceberem que consertar é uma saída viável – e muitas vezes mais eficaz que a troca. Até porque, se não aprimorarmos a nossa capacidade de viver, teremos grandes chances de “estragar” o novo por “má operação”.

Esse olhar ávido pela novidade, ou simplesmente a incapacidade de lidar com o problema, forma uma geração cada vez mais ansiosa e intolerante com os defeitos – dos outros e os próprios.

É justo que tenhamos tantas dificuldades para lidar com o corriqueiro, principalmente com as finalizações que não deflagramos. Ficamos abalados não pela perda em si, mas por não termos dado a palavra final. Como se algo ou alguém nos tivesse usurpado o poder de decisão. Como se decidíssemos mais do que somos decididos pela vida.

As “loucuras” contemporâneas refletem bem isso: transtornos de ansiedade, síndrome do pânico, distúrbios de autoimagem, depressão… Tudo se desdobra de uma fantasia de controle que, quando falha, parece nos expor a uma vulnerabilidade insustentável.

Não é à toa que buscamos tanta informação, que lemos tanto (não os clássicos, como seria bom, e sim as redes sociais, enunciados de notícias). Queremos sempre saber tudo: o que acontece (what’s up/Whatsapp)? Para quê? Para crer que, assim, não seremos surpreendidos pelo inesperado. Não nos vemos prontos para reagir ao não planejado.

Assim, o defeito, a falha e o problema nos apontam para nossas próprias incapacidades. Neles, encontramos uma chance de irmos além dos limites que já dominamos. Não é fácil, mas a recompensa é certa. E ela jamais viria se apenas tivéssemos substituído, sem reflexão, o fator de incômodo.

Seja uma relação ou um carro, condenar um bem maior em virtude do que vejo como defeito é um desperdício. É certo que nem tudo tem conserto. Mas nosso dever é tentar melhorá-lo. E, assim, melhorarmos também.

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