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Nossa maior injustiça é querer definir a felicidade do outro

Amar é amparar e estar pronto para o resgate, caso seja necessário. Não é a defesa incapacitante, que impede a experiência

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angry young woman with megaphone shouting at stressed scared man blown away by wave of alphabet letters
1 de 1 angry young woman with megaphone shouting at stressed scared man blown away by wave of alphabet letters - Foto: Istock

Acompanho, durante esta semana, os relatos e fotografias efusivas de uma amiga. Ela realiza o grande sonho: uma viagem internacional, na companhia de dela mesma. E, por conhecê-la relativamente bem, sei do profundo significado de tudo isso.

Não sei se faria a mesma viagem, sinceramente. Aquele cenário não me representa em quase nada – seria algo interessante, mas é pouco provável que me mobilizasse tanto. Porém, muitas das minhas “viagens” não fazem o menor sentido para grande parte dos meus amigos.

Nem por isso nos deixamos desamparados nesses momentos. Talvez por isso nos consideremos amigos: somos capazes de respeitar a felicidade do outro da forma como se apresenta, sem tentar revertê-la ao nosso plano de salvação do mundo.

A tarefa é complicada, exige um sacrifício constante. Especialmente por aprendermos que o exercício do amor confunde-se com a privação do sofrimento do outro – um grande erro.

Amar é amparar, é estar pronto para o resgate caso seja necessário. Não é a defesa incapacitante, que embota a experiência e, por tabela, a chance de aprendizado.

O silêncio e as retiradas estratégicas nem sempre são por negligência, mas por respeito ao processo alheio. Especialmente quando, por questões particulares (muitas vezes reflexos de nossas limitações), não conseguimos prestar o incentivo merecido naquela empreitada.

Sim, a concretização dos sonhos do outro nos força a avaliar a forma como lidamos com nossas próprias metas. Isso pode ser perturbador o suficiente para que queiramos resguardar distância.

Além do mais, nossos propósitos parecem tão corretos e eficazes justamente por não termos uma visão mais ampla de nossa própria realidade. Pergunte a um amigo honesto e ele também terá receitas muito mais produtivas sobre seus modos de fazer, sobre os pontos-cegos da vida. E certamente muitas dessas dicas são pertinentes – apesar de resistirmos em aceitá-las.

Daríamos ótimos conselhos a nós mesmos se as armadilhas do ego não estivessem quase sempre engatilhadas.

A postura despretensiosa incentiva os caminhos que nos levam a quem somos. Medir o tamanho dos sonhos e definir felicidade é uma injúria: desonramos as estratégias de realização de cada alma. Pode parecer chavão, mas “viva e deixe viver” soa sempre adequado.

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