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“Não tenho mais idade”: liberte-se de hábitos e pessoas nocivas

Pessoas preferem engolir a seco, mas manter o semblante de serenidade — enquanto, por dentro, sentem-se corroer por afetos terríveis

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Costumo considerar natural várias situações que muitos chamam de “hábitos civilizados”. Manter pessoas com quem me relacionei na minha lista de amigos ou banir uma pessoa nociva do meu convívio, dizendo o porquê com todas as letras, para muitos, é um grande tabu.

O contrário, sim, é motivo de espanto. Ouço muitas reclamações derivadas da conveniência pura, mas que atentam diretamente contra as crenças e os desejos mais genuínos. Pessoas preferem engolir a seco e manter o semblante de serenidade — enquanto, por dentro, sentem-se corroer por sentimentos terríveis.

A dissimulação é uma estratégia extremamente útil, mas exige um bom estômago. À exceção dos psicopatas, é difícil não transparecer o mal-estar que certo convívio traz. A denúncia virá em um olhar ou numa fala. Cedo ou tarde, a máscara cai.

O pior é saber que grande parte desses dissabores poderia ter sido evitado, sem prejuízo. Não tememos o afastamento de quem nos incomoda, mas, sim, manter o título de quem não conseguiu administrar a situação com maleabilidade e sabedoria.

É como se a aceitação fosse um atributo barato, disponível nas gôndolas da vendinha da esquina. Não é. Ela é resultado de um exercício profundo e contínuo de atenção. Sou um grande defensor da prática, na maioria dos casos.

Mas, a essa altura do caminho, sem pretensões, posso dizer que me conheço minimamente e angariei critérios para me indicar o que não merece mais ser aceito. Já estou perto do meio da vida (se já não passei dele). Isso me confere a prerrogativa do “não tenho mais idade para isso”.

Nem para nada que não ofereça uma contrapartida justa, ou sirva como “experiência” para a vida. Para aqueles que têm dúvidas nefastas, me afastam dos meus valores ou subjugam a minha inteligência e sensibilidade também não há espaço.

Afastem-se os pedantes, buscando convencer sobre os benefícios de serem seguidos e admirados. Afastem-se os abusivos, sempre querendo alguma vantagem sobre o que posso proporcionar. Afastem-se os maliciosos, dissimulados com suas intenções.

Novidades continuam bem-vindas, mas atentem-se à regra: “Tem um aviso na porta do meu coração: quem não dança conforme o ritmo da casa, não perca tempo tocando a campainha”, como ensina Bethânia.

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