Não é amor. O ciúmes é um sinal de baixa autoestima e insegurança
Quando o ciúme vem seguido de abuso, o desvincular-se nem sempre é fácil
atualizado
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Amar nem sempre vale a pena. Tudo irá depender da qualidade daquilo que se nomina amor. Especialmente porque são incontáveis as atrocidades cometidas, a cada dia, em nome deste afeto.
Podemos classificar um relacionamento como algo destrutivo quando compromete o bem estar de, ao menos, um dos integrantes. Esse dano pode ser físico, psíquico ou moral.
Como a dor e a humilhação são valores subjetivos, é a medida de cada um que dirá se a relação se transformou em algo danoso ou não. Quando as crenças, o espaço ou a integridade do outro são violados, podemos pensar que a relação está onerando mais que acrescentando.
São elas, as mulheres, as presas mais fáceis desse jogo perigoso. Um paradoxo: logo elas, acostumadas e educadas desde cedo para cuidar e amar. Talvez justamente por isso. A estrutura machista faz com que homens se familiarizem menos com as próprias emoções, tornando-nos mais intolerantes.
Menos tolerância e mais reatividade à dor e à frustração. O ataque e o revide são sintomas claros da imaturidade para lidar com o desconhecido que nos habita. Ainda são minoria os que reconhecem as próprias vulnerabilidades e delas cuidam. São, consequentemente, minoria os que de fato são capazes de enfrentar corajosa, sincera e respeitosamente um relacionamento.
Ao assumir um papel de dominação em um relacionamento, o indivíduo busca uma compensação inconsciente para as impotências que percebe em si. Quer mostrar que, ao menos ali, é “forte” e capaz de dominar. É a popular autoafirmação.
As projeções inconscientes conduzem tais relações. Um bom exemplo está nos casos de ciúme patológico: mesmo que não exista nenhum indício, o ciumento “verá” uma potencial traição em gestos corriqueiros, sem nenhuma carga afetiva ou sexual.
Denuncia, assim, a insegurança que sente. A inteligência e a perspicácia poderão elevar o grau de violência psíquica estabelecida na relação: em vez da brutalidade física, o agressor buscará ataques mais refinados, que lesam o outro de dentro para fora.
Apesar de enxergarem o dano, o desvincular-se nem sempre é fácil para quem vive relações abusivas. Justamente porque elas, também, estão unidas ao outro por feridas semelhantes, complementares. A baixa autoestima que apresentam remetem a um histórico de depreciação, abandono e violência.
O maltrato é tolerado pois ainda projeta no outro a capacidade de cuidado, força e valoração – aquilo que não aprendeu a reconhecer em si. Associa-se o dano e a limitação impostos pela relação como o preço do amor, por não saberem que o amor não cobra tais tributos. Cobra diversos outros, mas não estes.
Quem se vê atrelado a tais dinâmicas percebe-se só, incompreendido. Pelo parceiro, pela família, pela sociedade. E, quando se olham, veem também em si essa incompreensão. Muitas vezes se desesperam por não conhecerem outra forma de amar.
Mas elas existem. Para descobri-las, e reconhecerem-se capazes delas, é preciso fazer uma revisão íntima e profunda. Descobrir que o amor que desenvolvemos para o outro é reflexo direto daquele que nutrimos por nós mesmos. Amar-se para aprender a amar, como na máxima do Cristo.