Intenção e disponibilidade: ingredientes essenciais para mudar de vida
A reclamação, transferência do mal que existe em mim para uma causa externa, é a saída mais simples para não se mexer
atualizado
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Procrastinação, indefinição. Enquanto sobrevivemos sem encarar o problema, adiamos a possibilidade de uma solução. Jogamos novas necessidades por cima, mesmo quando não são tão necessárias assim. Coisas vão se entulhando na nossa lista de débitos: afazeres, tarefas, conversas.
E não é por falta de tempo, definitivamente. É por covardia: pelo medo de que, ao agirmos, o novo mundo se apresente pior. Em suma, exija mais, especialmente no quesito “mudança de atitude”. O joguinho do autoengano é sedutor.
Seguimos reclamando, a saída mais simples para aquilo que não queremos mexer. Reclamar é, basicamente, transferir a responsabilidade do mal atravessado em mim para um passivo externo. O outro, o mundo, o defeito, a falta de misericórdia de algum deus, a perversidade de algum diabo. Algo tem de justificar a diferença entre o vivido e o idealizado.Para quem, como eu, conhece e não subestima a força do inconsciente, qualquer tipo de determinismo soa como papo furado. O poder de mando do ego sofre um bombardeio constante do desconhecido. São tantos os interesses cultivados por nós que fica difícil ser coerente.
Mas não podemos usar isso como argumento barato para buscar uma autoindulgência. Mudar nossa realidade é resultado de intenção e disponibilidade. Não é bem pegar o boi pelo chifre – ele tenderá a ganhar essa peleja. Mas, também, devemos sair da espera: aguardar por um acontecimento transformador pode ser profundamente frustrante.
Definir um lugar, assumir uma postura, pagar um preço, ter um lado para defender. Tudo isso nos tira desse estado desgastante de aguardo. Mesmo que, depois, tenhamos de nos contradizer. Não temer a contradição é, entendo eu, um bom indicativo de saber viver bem. Assumir o que sou, mesmo que, num determinado momento, eu resolva deixar de sê-lo.
Gosto da expressão “freio de arrumação” para definir esse chamado feito pela vida em alguns momentos. Ao darmos o tranco, arriscamos perder parte da carga, mas permitimos o encaixe do essencial. Garantimos, assim, uma viagem mais segura, confiantes de termos realizado nossa parte, o que nos era devido.