Impulsividade é um termo de compromisso assinado às cegas
Sofremos quando não distinguimos com clareza a diferença entre um desejo fugidio e um propósito pertinente a quem somos
atualizado
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Talvez nem tudo desejado possa ser sustentado. Só descobrimos isso depois. Quem dera se pudéssemos descartar, sem dano ou prejuízo, as apostas equivocadas feitas ao longo da vida. Assim, como se nunca estivéssemos estado ali, feito aquela compra, tido aquele diálogo.
Somos ávidos demais por saciar aquilo que parece ser a origem de todo o nosso desconforto. Somado a isso, temos uma capacidade fantástica de imaginação. E, para completar a fórmula, comparamos nossa realidade com as demais ao redor.
O resultado dessa somatória é uma prospecção infinita daquilo que pode parecer meu mundo ideal. Brincamos de querer. E manipulamos nossa intenção para chegar lá. Às vezes, irresponsavelmente: abrimos uma porta a qual não conseguiremos fechar.Calculamos mal o empenho de tempo e energia demandada por cada desejo. É como uma criança que pede um animal de estimação, ignorando os cuidados imediatamente exigidos por ele. Não será só prazer e diversão.
Nos atos impulsivos, impensados, assinamos um termo de comprometimento às cegas. Seremos exigidos, social ou internamente, a atender os requisitos daquilo que nos propusemos a sustentar.
Disso deriva um mal-estar profundo: o de sentirmo-nos alienados de nossa própria história, de estarmos cumprindo agendas que já não fazem mais sentido. É o preço de nossa avidez, muitas vezes orientada por um medo de convivermos com o vazio.
Sofremos quando não distinguimos com clareza a diferença entre um desejo fugidio e um propósito pertinente a quem somos. Essa diferença não é medida pelo prazer, e sim pela satisfação. Quando há uma pertinência, a recompensa pode não ser imediata, mas é plena.
Fizemos a escolha certa, sabemos disso. Estamos exatamente onde deveríamos estar. Mesmo que a exigência seja grande, a recompensa parece ser dada à altura: nutre com sentido, traduz quem somos. Mesmo quando não sabemos definir o porquê. Para outros olhares, pode parecer uma loucura. Porém, não há dúvidas quando estamos em consonância com a alma.