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Honestidade, uma virtude para cultivar

O sujeito honesto sabe contextualizar-se no mundo. Não só a partir dos limites que recaem sobre si, mas principalmente diante daquilo que pode fazer em nome dos demais

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1 de 1 honestidade justiça - Foto: iStock

Quando olho para você, sei o que enxergo. Você pode até não corresponder àquilo que interpreto. Mas só mesmo o tempo e os fatos poderão me promover outra leitura. Sei que o mesmo ocorre daí pra cá. Mas vivemos numa sociedade, dita civilizada, e precisamos manter uma relação cordial, respeitosa. Mas só isso.

No entanto, não alimentamos mutuamente uma linguagem de hipocrisia. Afinal, há algo entre nosso olhar que nos impede de acreditar que “nada está acontecendo”. Reconhecemos que, apesar de qualquer divergência de propósitos, isso nos une: sabemos o mal-estar que se impõe entre nossos corpos.

A lucidez que temos ao admitirmos tudo isso, silenciosamente, nos eleva a um patamar especial, o das pessoas sinceras. Somos honestos com o que sentimos, com o que acreditamos, com o que esperamos da vida. Não se trata de avaliar se estamos certos ou errados nas nossas opiniões. Mas somos genuínos, ao menos nessa relação. Essa característica já nos diferencia de uma grande massa – para melhor.

Simplificar a vida
No mínimo, nossa vida fica mais fácil. Não precisamos nos policiar para evitar deslizes, mentiras ou evitações. A falsidade nos tira a espontaneidade, e isso é uma lástima. Quase nada nessa vida merece que deixemos de ser o que somos em nome da expectativa dos outros. Talvez somente a compaixão mereça esse sacrifício.

Obviamente, a vida pautada na honestidade é mais parca. Não temos tantos amigos, convites e ocupações. E é justamente disso que parte a sensação de libertação. Muitas das demandas que “perdemos” representam, na verdade, um acréscimo. Sobra tempo e energia – nossos recursos mais caros – para o que realmente faz diferença em mim.

A atitude legitimamente honesta depende desse senso de justiça. E a balança não apela para a autoindulgência ou autocondenação exageradas. Ela é exata, encontra a medida certa para o tamanho que conseguimos ocupar a cada momento, a depender de cada situação. Não ser nem a mais, nem a menos. O primeiro e mais difícil dos passos para atingir essa virtude: ser honesto consigo e, a partir daí, olhar para fora.

Contextualize-se
Dessa forma, perceberemos que não temos condição de cobrar aquilo que não estamos dispostos a oferecer. O sujeito honesto sabe contextualizar-se no mundo. Não só a partir dos limites que recaem sobre si, mas principalmente diante daquilo que pode fazer em nome dos demais. Por essa razão, podemos entender que da honestidade brota a verdadeira solidariedade, a relação saudável com o outro.

Minha avó já dizia: cada um só dá o que tem. Erramos quando, para parecermos melhores, queremos oferecer o que não estamos dispostos a compartilhar. Seja um gesto, um sentimento, uma atitude. Mesquinharia não é negar, é oferecer com finalidades não declaradas. Admiro profundamente quem não dissimula intenções, e encontra uma forma sábia de declará-las. São pessoas em quem busco inspiração.

E é em nome delas que nego, que acolho, que brigo, que sorrio. E é a elas que dedico meus melhores momentos. É delas que espero a parceria, o lado a lado, os ensinamentos. Dos demais, aprendi a não esperar nada. A não ser distância.

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