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Generalizamos situações quando estamos fisgados por algum complexo

A depender da força do complexo, ele limita a nossa visão: só permite que interpretemos a realidade a partir da lógica por ele desenvolvida

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Todo mundo sente ciúme de mim. Sempre acontece isso comigo. Nunca consigo resolver essa questão. Ninguém é capaz de me entender. Adoramos generalizar para definir questões do cotidiano. Fazemos isso sem nos darmos conta de como tais apontamentos indicam questões profundas da alma.

Sempre que algum desses termos aparece numa frase, principalmente quando acompanhados de entonação enfática, é bem provável que estejamos tomados por alguma força psíquica de grande intensidade. É o que chamamos de complexos afetivos.

É como se todas as experiências que tivéssemos sobre um determinado tema fossem organizadas e assimiladas em uma espécie de compartimento interno – os ditos complexos. Eles vão processar as imagens e emoções referentes a essas experiências. E criam, a partir delas, prospecções sobre novos acontecimentos que envolvam o mesmo tema.

Assim, criamos scripts com base nas referências internas. O problema é que, a depender da força do complexo, ele limita a nossa visão: só permite que interpretemos a realidade a partir da lógica por ele desenvolvida. É o lado ruim dessa dinâmica natural de processamento de conteúdos na psique.

Para avaliar a força do complexo no nosso psiquismo, basta avaliar a tonalidade do discurso empregado quando falamos de um determinado tema. Quanto maior for a intensidade das emoções manifestadas (seja de pesar, euforia, raiva etc.), mais robusto está esse complexo e maior a capacidade que ele tem de nos dominar.

Nessa lógica, nada mais eficaz que expressões generalistas para falar daquilo que é intenso em nós. Quando ouvimos que “homem nenhum presta” ou que “todo filho é ingrato“, por exemplo, estamos diante de pessoas muito contaminadas pela própria história – ou por histórias herdadas.

Sim, complexos são compartilhados como piolhos, de cabeça a cabeça. Especialmente quando não aprendemos a refletir. Vão das questões mais triviais à origem de ideologias e culturas.  O problema é que o discurso generalista é incoerente.

Nossos complexos são míopes, e costumam enxergar o mundo pela limitação da unilateralidade. Assim, “sempre”, “nunca”, “ninguém” e similares demonstram uma dificuldade em perceber um universo maior que o imposto pela viseira da nossa interpretação

Além disso, as generalizações chamam a força do coletivo. É só começar alguma frase com algum desses termos num grupo de pessoas para ver o que acontece: grande chance de aparecer alguém que reitere a crença, o que ajuda a endossar e fortalecer o complexo.

Um perigo, pois atrai para si o “peso” coletivo das experiências negativas sobre o tema em questão. Vira um emaranhamento interminável, incessante. Um castigo eterno.

Escapamos disso quando, pela reflexão, percebemos que cada situação é única, apesar das semelhanças que trazem. Dessa forma, oferecemos ao complexo outras versões para a mesma história – diminuindo assim a sua dinâmica nociva. Alargamos nossa visão para outras possibilidades.

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