Extravasar nem sempre é um problema. Mas a ressaca vem e tem seu valor
Muitas vezes, o prazer alcançado dura menos do que as consequências por ele geradas. Entender isso também é autoconhecimento
atualizado
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É muita bebida, comida, conversa. É muita informação, opinião, vontade a realizar. Diante das ofertas e oportunidades, não sabemos mais dizer não. Queremos tudo, todos. Confundimos isso com uma vida rica.
Daí, diante disso, vem uma ressaca. Damo-nos conta do excesso. Percebemos que esse frenesi exige muito da vida – e, quase sempre, só nos damos conta disso no dia seguinte. E, muitas vezes, o prazer alcançado durou menos do que as consequências por ele geradas.
Quase sempre, tais atitudes são resultado de uma vida inconsciente, compulsória. Fazemos sem nos darmos conta. A consciência só vem depois. Daí prometemos não repetir. Mas não vencemos o impulso, o chamado, e em breve lá estaremos novamente.
A ressaca é o sinal do escrúpulo, a capacidade de nossa psique de pesar nossos atos para avaliar o bem e o mal que eles nos trazem. A partir dela, amadurecemos as nossas atitudes, especialmente aprendemos a discernir qual a justa medida que nos satisfaz.
Aprendemos que tudo pode ser bom, útil e interessante. O que separa o remédio do veneno é a dose, como alertou o alquimista Paracelso. Acrescento aqui um novo aspecto: a intenção.
Muitas dessas experiências excessivas vêm como tentativa (frustrante) para suprir outras faltas, das quais nem sempre nos damos conta. Queremos o alívio de outras dores, a compensação para outras frustrações. A fome não será saciada com um copo de água, somente dissimulada.
Extravasar é um problema? Nem sempre. Desde que saibamos as consequências que, certamente, virão. E, assim, lidemos com elas de forma responsável: atenuando os danos e sorvendo da experiência o melhor que ela tem a nos oferecer. Até mesmo as ressacas: aproveitemos, elas nos farão pessoas melhores.
Tudo é válido, desde que estejamos presentes e entregues ao momento. Somente assim poderemos elaborar o sentido de cada atitude e contextualizá-la como parte daquilo que somos.
E, assim, não será excesso: será do tamanho daquilo que, naquele momento, somos.