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É impossível mudar de vida sem autoconhecimento

Não devemos temer o vazio, a incerteza e a inquietação, pois é a partir deles que encontraremos novos recursos

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Man pulling curtain of darkness to reveal a new better world. Change.
1 de 1 Man pulling curtain of darkness to reveal a new better world. Change. - Foto: Istock

Defender o autoconhecimento é quase um cacoete para nós, terapeutas. Entendemos que, quanto mais mergulhado naquilo que é, maior a capacidade de realização do ser humano. Mas esquecemos de uma valorosa lição anterior a essa questão.

É bem comum receber em meu consultório pessoas com queixas difusas, um tanto repetitivas, sobre o mal-estar que as acompanha. Quando convidadas a se aproximarem do motivo da perturbação, assumem uma postura de esquiva.

Algumas chegam a confessar (pouco antes de abandonarem o processo) que não gostariam de mudar. Até mesmo quando atestam como o modo de ser acarreta sofrimento.

A dificuldade manifestada é a do autodesconhecimento. Em suma, a nossa capacidade de revisar e avaliar crenças que nos guiam, antes de propor alguma transformação.

É impossível reestruturar a vida sem uma disposição prévia de mudança de perspectiva, sem estarmos dispostos ao compromisso do exercício. As transformações quase nunca se dão pelo curso natural dos acontecimentos, e, sim, porque nos dispomos a alterar rotinas, conceitos e interpretações. Dá trabalho, mas pode valer a pena.

Especialmente porque esse processo de desconstrução não é exatamente um aniquilamento daquilo que fomos até agora. É como um brinquedo de peças de montar: elas continuarão úteis e necessárias às novas formas elaboradas ao longo desse processo.

Desconhecer-se é também desacostumar-se com os velhos discursos, muitas vezes repetidos e assumidos sem mais nenhum questionamento: muitas vezes, velhas formas de proteção para ameaças já ausentes e que, se ainda presentes, seríamos capazes de enfrentá-las.

Muitos se perturbam com um sentimento esquisito, como se experimentassem uma sensação de traição a estes ideais que foram tão caros. Honrar as bandeiras orientadoras do passado não significa precisar mantê-las hasteadas – quando não mais traduzem nosso norte atual.

Não devemos temer o vazio, a incerteza e a inquietação, pois é a partir deles que encontraremos novos recursos – muito mais pertinentes àquilo que nos atravessa hoje. O velho pode encobrir o novo, o saudável.

Nisso consiste de fato o tal autoconhecimento tão desejado. Ampliar a consciência do si mesmo é poder explorar ao máximo as possibilidades e potências que nos consagram como um ser único. Mas elas só se revelam quando olhamos para dentro, norteados pela máxima socrática do “só sei que nada sei”.

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