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É fácil querer ser interessante. Difícil é se fazer interessante

Não há como sermos interessantes sem estarmos disponíveis para viver. Da forma mais plural possível

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Ilustração mostra um lado do cérebro colorido - Metrópoles
1 de 1 Ilustração mostra um lado do cérebro colorido - Metrópoles - Foto: iStock

Queixar-se da solidão é algo curioso. O mundo, cheio como está, com uma infinitude de possibilidades de comunicação, ainda tem esse argumento como causa da infelicidade de tanta gente. Ironias à parte, talvez a falta de companhia encubra questões mais profundas.

O problema é: muitas pessoas carregam junto a esta lamentação uma série de adjetivos (quase sempre pejorativos) em relação ao outro. Reclamam tanto, e de tudo, que chegam a contradizer os próprios argumentos de desqualificação que utilizam para o descarte.

A conclusão: “ninguém é bom o suficiente”, “não compensa apostar”, “sei como é esse tipo de gente”. Uma série de respostas prontas, sempre bem na posição de defesa, para dizer que o problema não está em si. E quase sempre está. Ou estariam todos aquém do aceitável?

Muitas vezes, defender-se não é uma atitude soberba, como pode parecer. É justamente o contrário: apenas uma forma de minimizar o desconforto de sentir-se invisível. De não se perceber minimamente interessante para despertar a atenção do outro.

Uma pessoa se torna interessante por sua história. Por onde caminha, as escolhas que faz, o que viveu, em que empreende, o que realiza, o que perde, com quem se relaciona. Tudo isso propiciará um repertório de vivências.

Também conta a forma como se interpreta tais acontecimentos. Por exemplo: as marcas da dor fazem despontar numa pessoa a amargura e a melancolia; em outra, podem virar resiliência e determinação. A primeira será pouco desejável, enquanto a segunda pode ser altamente atrativa.

Não há como sermos interessantes sem estarmos disponíveis para viver. Da forma mais plural possível. Arriscar, experimentar, desacostumar, buscar a autenticidade. Tudo isso molda pessoas únicas, que despertam a curiosidade do outro.

É necessário valorar tanto o acerto quanto o erro. Em seus altos e baixos, a vida permitirá que aflorem em nós aquilo que somos: personalidade, características, temperamento. Cada blend que se forma é único, autêntico. E será interessante. Não a todos, mas a quem de fato interessa.

Muitos solitários, no entanto, buscam nas relações uma oportunidade para despertar tudo isso. Enxergam no outro uma espécie de paleta para colorir uma existência pálida, para preencher vazios. Um grande erro.

Não que uma relação não fará aflorar novos atributos, mas isso se dará de forma orgânica. Inclusive, Jung nos ensina que o relacionamento é a via régia do autoconhecimento, justo por fazer evidenciar o desconhecido que nos habita.

O lugar da princesa, adormecida à espera de um príncipe que a desperte, é uma boa imagem para falar dessas expectativas. Nessa história, a vida não se apresenta no sono dela, e, sim, no caminho dele. O cavaleiro se torna interessante ao assumir uma missão, ao enfrentar desafios com coragem, ao confiar no triunfo.

Ou seja: é a postura ativa, a forma como participamos de qualquer situação, que nos torna mais ou menos interessantes. Viver é diferente de existir, e quem entende isso consegue a atenção (e o respeito) do outro. Não há como atrair olhares se não tivermos o que mostrar.

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