Como eu vou querer ser lembrado depois de partir?
As memórias evocadas em torno daquilo que fomos repercutirão o quão inteiro fomos em nossos propósitos e nossas intenções
atualizado
Compartilhar notícia
Quando nascemos, choramos enquanto os outros sorriem; quando morremos, somos os únicos a sorrir, enquanto todos choram. Esse provérbio chinês traz ensinamentos profundos. O primeiro deles: tudo é uma questão de perspectiva.
Quando recebi esse ensinamento, todos choravam. Mas, apesar das lágrimas, o sentimento presente não era propriamente de tristeza, mas de dó, como quando comemos a última colherada da sobremesa favorita. Ainda assim, sabemos que ela foi suficiente.
Pessoas cheias de alegria e concórdia, quando se vão, deixam todo mundo meio órfão. Com uma sensação de que deveríamos ter aproveitado mais, sorvido suavemente cada momento.
A consciência da morte, trazida por esses momentos, é o contraste necessário para evocar a importância da vida. Essa se dá, sumariamente, a partir das relações cultivadas, da forma como dedicamos nosso tempo e nossa energia para estar com o outro.
Nisso, caráter e carisma são determinantes. Ou seja, a forma como nos portamos diante das questões propostas pela vida e a capacidade que exercemos de atrair o bem querer do outro.
Não são dons, exatamente. É, na verdade, resultado do comprometimento com nossa realidade e com o diálogo travado com a de nossos semelhantes. Seremos amados quando, a nosso jeito, conseguirmos semear o amor.
A integridade com a qual conseguimos cumprir a vida consolidará nosso legado. As memórias evocadas em torno daquilo que representamos repercutirão o quão inteiro fomos em nossos propósitos e em nossas intenções.
Assim, as lágrimas da despedida logo se transformarão em uma saudade terna, repleta de lembranças e ensinamentos daqueles que partem. E, assim, voltamos a comungar do sorriso mais sincero, aquele que brota da alma.