Como contar histórias nos fazer refletir diante dos acontecimentos
As histórias contadas narram transformações. Ao ouvi-las, também somos transformados
atualizado
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A natureza foi sábia ao nos dar dois ouvidos e uma boca. Ouvir histórias é um exercício interessante. Para algumas pessoas, é um dom. Para outras, ofício. Aprendi que é necessário estar atento a cada detalhe que se apresenta nos dramas e nas aventuras dos outros.
Muitos se desencorajam de contar a própria história por menosprezar os acontecimentos que lhe moldaram. Veem como algo sem graça. No outro extremo, temos aqueles que dominam o discurso com um eu imperativo, manifestado até mesmo quando não é chamado.
O importante é que, observada com a atenção devida, toda história merece ser contada. Na verdade, uma narrativa só tem validade quando é compartilhada.
É a partir dos exemplos dos outros que aprendemos sobre a vida que queremos viver. Almejamos os bons exemplos, instigantes e incentivadores. Rechaçamos as práticas não-correspondentes aos desígnios da nossa alma. Crescemos ao ouvir os outros.
Numa retribuição justa, também nos sentimos no dever de mostrar ao outro os caminhos que adotamos, e os desdobramentos seguintes.
Preenchemos com palavras as lacunas que não foram preenchidas com nossa compreensão.
A linguagem é uma forma de reconstruir a verdade inacabada, uma estratégia para atribuir sentido àquilo que ainda não tem significado ou que ficou dissociado dentro de nós.
Entretanto, ela nunca será suficiente para descrever o que de fato aconteceu.
A realidade é sempre maior que a versão que demos a ela.
Tudo o que vivemos pode ser narrado com um enfoque maior para os sentimentos ou para os fatos, a depender de quem conta. No entanto, não há nada contado que não vise despertar algum afeto. A suposta imparcialidade ao falar é uma ilusão.
A impressão será gerada a partir dos afetos que já povoam quem ouve o relato. Quando há ressonância entre eles e a temática em questão, as emoções se mobilizam com mais vigor no corpo psíquico – seja pela identificação com as posturas adotadas pelo interlocutor, ou pela negação das mesmas.
A fala é instrumento de cura por nos fazer acessar a capacidade de reflexão diante dos acontecimentos. As histórias contadas narram transformações. Ao ouvi-las, também somos transformados.