Assuma as rédeas da própria vida. Não se “desautorize”
Permitir-se viver bem é um dever tão primordial quanto respirar. Só assim nos tornamos capazes de construir nossos próprios caminhos
atualizado
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Basicamente, três prerrogativas conduzem nossa vida: o que quero, o que devo e o que posso fazer. Nem sempre se conjugam harmonicamente, devido a diversos fatores. O querer, às vezes, não é adequado, ou não corresponde ao exigido para o momento.
Muitas vezes, no entanto, está tudo certo. Mesmo assim, não conseguimos seguir adiante. Surge um interdito: somos desautorizados à realização dos propósitos. Ou, mesmo que o embargo não seja tão claro, não nos sentimos devidamente autorizados. E emperramos no trajeto.
Tal autorização não é um simples “eu pago minhas contas”. Vai além, remonta a questões primordiais do desenvolvimento da personalidade. Se refere à forma como somos vistos e, também, à forma como aprendemos a nos ver.Na prática clínica, presencio diversas formas de desautorização em meus clientes: pessoas competentes indisponíveis à prosperidade, pessoas interessantes com inseguranças tremendas para empreender relacionamentos e pessoas saudáveis com fantasmas inexplicáveis de adoecimentos.
Grande parte dos roteiros seguidos foram escritos por outras pessoas. Ora repetem histórias, ora tentam compensar frustrações de terceiros. A principal desautorização sofrida é a de viver a própria vida com as particularidades que ela tem.
Em casos mais graves, alguns não se sentem habilitados para definir o que querem, quem são e o que lhes faz bem. É grave e triste, pois são indivíduos com oportunidades verdadeiras de conquistas.
Desautorizados, sentimo-nos impotentes. Nossos recursos se tornam inviáveis ou nulos. As tentativas de realização, quando não frustradas pelo boicote, virão atreladas à culpa, à sensação de estarmos traindo algo. E estamos: as figuras a quem projetamos autoridade, a quem decide meus passos.
Entre os mais jovens, a queixa costuma ser projetada com mais facilidade em agentes externos. É o mundo o responsável pela ausência de ganhos. Para quem já possui certa experiência, o sofrimento é duplicado: por aquilo que não realizaram e por se sentirem atados de forma tola.
James Hollis fala que a metanoia (crise existencial da meia-idade) tem como tarefa principal recuperar a autoridade pessoal subtraída ao longo da vida. É um chamado ao comprometimento com a verdade mais profunda do indivíduo, com o propósito que fará de si alguém único e memorável.
É nessa fase que muitos percebem ser inútil esperar por autorizações externas. Não serão mais os pais, cônjuges ou a sociedade que deverão carimbar o passaporte. O tempo já atua como o grande cobrador de impostos, sempre em vigília.
Autorizar-se a viver bem é um dever tão primordial como respirar. Substitui, saudavelmente, a melancolia (e suas filhas primorosas: queixa, frustração e amargura) pela sensação de êxito: somos capazes de construir o nosso próprio caminho.