Antes de querer salvar o mundo, cuide do seu próprio jardim

Antes, faça o seu.

Antes de varrer as folhas secas de uma floresta, veja como está a sua calçada. A dificuldade de se encarregar dessa tarefa trará uma nova dimensão para o problema coletivo. Querer começar do grande para o pequeno é, muitas vezes, uma forma de nos esquivarmos do que, de fato, precisa e pode ser feito.

Assista os problemas daqueles com quem convive em sua casa antes de hastear bandeiras em defesa de quem sofre longe. Não subestime a dor, seja ela qual for, em quem for. A distância é uma forma de assepsia, para não nos contaminarmos com o sofrimento ao redor.

Resolva seus problemas, quite suas pendências e dívidas – as que tem com o outro e consigo. O tempo é um deus que não se engana. Um deus velho, o qual saberá cobrar no momento certo a paga de sua morosidade e negligência. O que se esvai durante a sua espera é a própria vida.

O seu tempo vale tanto quanto o do outro. Achar que domina ao colocá-lo em espera é um jogo bobo de criança, no qual você também se prende. Atrasar o caminho alheio é injusto, e a lei do retorno é uma das medidas da justiça universal.

Admita e corrija seus erros, antes de acusar alguém. Ninguém nasceu sabendo e, ainda que saiba, está sujeito a equívocos. Encobrir a própria falha com a de alguém é mais que assumir a incompetência: é indício de falha de caráter.

Reconheça suas necessidades. Ninguém saberá mais delas do que você. O estado de espera para que nos façam felizes é uma ilusão imatura. Encarregar-se do próprio bem estar vai além do bem de qualquer relação.

Cuide-se, proteja-se do mal já reconhecido em si. Vitimizar-se ou desqualificar os danos auto ocasionados não mudarão o mal estar experimentado. Não há como reverter uma história triste sem antes apropriar-se dela, responsavelmente.

Leve-se para passear, tenha em si a melhor companhia. O outro deve ser visto como um acréscimo positivo, mas não como a motivação para desfrutarmos o bom da vida. Sua ausência não pode ser impeditivo para aproveitarmos as oportunidades.

Reclamar não muda situações. Nossa atitude, sim. A conivência com aquilo que não concordamos é a contribuição efetiva para termos um mundo melhor. Quem tem filho sabe: ensinamos mais com nossos exemplos que com nossa fala.

O mundo não precisa de pessoas para apontar soluções, e sim de quem se dispõe a solucionar o que precisa mudar.