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Ampliar a consciência é um risco com chances de alto retorno

Perseguimos conteúdos inconscientes com certa obsessão, mas incontáveis tesouros também podem nos surpreender nesta jornada

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Jung já nos alertava: até tomarmos consciência dos conteúdos desconhecidos que nos povoam, eles dirigirão nossa vida e, por nós, serão chamados de destino. Já vi essa sentença ser usada diversas vezes como uma espécie de acusação enviesada ou até mesmo como validação de maus presságios. Entendo exatamente o contrário. Explico.

O que chamamos de destino também pode ser entendido como a realização daquilo que há de mais intrínseco e verdadeiro em nós. Interpretar o inconsciente como algo adverso à consciência é um erro basal. Imaginá-lo como algo o qual visa predar a consciência é menosprezá-lo e acirrar ainda mais tal polarização.

Na análise, o exercício é justamente o contrário. Primeiro, aprendemos a diferenciar tais conteúdos, mas não com o objetivo de extirpá-los. E sim para encontrar a melhor forma de integração, de viabilizá-los.

Ampliar a consciência não é querer dar a ela uma hegemonia, uma espécie de domínio sobre o inconsciente. Até porque essa luta é inglória, a causa é perdida em sua origem. Por uma questão de incompetência, mas especialmente de incapacidade: seria impossível elucidar tudo que há no inconsciente, pois este toca (e participa) do imenso, da totalidade.

É claro que perseguimos, às vezes até com uma certa obsessão, aqueles conteúdos inconscientes atravessados no caminho, trazendo sofrimento. Uma tentativa de controle? Sim, em grande parte. Mas a melhor parte não é bem essa. Há incontáveis tesouros que podem nos surpreender nesta jornada.

Costumo diferenciar os processos de terapia e de análise justamente neste ponto. Geralmente, as pessoas buscam o consultório com alguma queixa clara. Querem resolver algo, esquecer algo, encaminhar algo. Quase sempre, percebem tempos depois que era justamente o problema quem as salvava de um mal maior.

Sofrem, choram, agoniam-se. Transformam muito de suas crenças e comportamentos, sentem o alívio. Parecem ter chegado numa espécie de platô, um lugar de conformidade diante daquilo que não pode ser mudado. Ali se encerra o período terapêutico, e muitos se despedem.

Quem fica está pronto para se ocupar do lado bom do tal destino. Mergulham profunda, mas respeitosamente, na alma. São despretensiosos, e assim podem vivenciar a surpresa limpa – como crianças que encontram um pequeno tesouro enterrado no jardim. Limpam, cuidam, valorizam. Abraçam esse destino como sua maior preciosidade.

E a vida corresponde: o inesperado acontece, os vínculos se renovam, as dificuldades se superam. O rio da vida volta a correr em seu leito, e nele flui com naturalidade. Parece mágica ou algo sobrenatural, mas é só o si mesmo se realizando.

Quase sempre não se arvoram a querer mostrar o encontrado, nem disso se vangloriam. Pois sabem que este valor só lhes é pertinente, os demais jamais serão tocados com a mesma intensidade. Estes primeiros são raros, bastante raros. São os que mais dão trabalho, mas também os que mais me gratificam em meu ofício.

Fico emocionado e honrado simplesmente por ser testemunha desse caminhar. Para mim, é uma tarefa difícil, pois sei que muitos dos passos por eles dados traduzem a coragem de quem se arrisca à beira do despenhadeiro. Também não é fácil, pois a cada encontro eles me lembram de que também devo me encarregar de minha busca.

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