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Amar com entrega, sem exigências, é algo que demanda muito da gente

A verdade é que nossa história foi o que podia ser, dentro daquilo que éramos

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Broken hearted
1 de 1 Broken hearted - Foto: iStock

Eu não fui capaz de dar a você todo o amor que eu gostaria. Não pela falta do amor em si, mas pela dificuldade de chegarmos a um consenso entre o que seria amor.

O que me guiou foi aquilo que já me faltava. Queria que você me suprisse com aquilo que, de certa forma, nunca soube proporcionar a mim. Em contrapartida, quis oferecer a você o que me lotava. Achava que, assim, viria a recompensa.

Mas não me atentei que você poderia estar agindo exatamente da mesma forma. Não somos exatamente culpados, e sim despreparados para relações.

Sua falta me ressentia. Mas, pensando bem, este ressentimento vinha de outras épocas. Sempre achei que merecia mais, que o mundo me devia algo. Confesso: nem sempre soube aproveitar as ofertas, nunca soube desfrutar do que estava disponível.

Talvez eu tenha errado por não compreender que a falta não é algo a ser necessariamente suprido. Especialmente por outra pessoa, em uma relação. No fundo, eu sabia. Mas era como uma birra de criança que se recusa a crescer. Amar com entrega, sem exigências, exige muito da gente.

Nossas escolas também não foram as melhores. Quando via, já estava repetindo as frases de minha mãe. Copiando o exemplo de meu pai. Em alguns momentos, esperava que você se comportasse como eles. Noutros, quis transferir para nosso relacionamento a punição que não lhes pude dar.

Errei por não conseguir te ouvir. Guiei minhas atitudes a partir do que eu já sabia. Ou, no máximo, daquilo que supunha. Não soube interpretar os sinais, e eles estavam lá. Mas era difícil compreender aquilo que, de alguma forma, exigiam de mim uma mudança de atitude.

O interessante é que no começo nada era assim. Nos interessávamos mutuamente, eu por você, você por mim. Desse encanto, estávamos também mais disponíveis para sermos interessantes! Você era admirável, e eu sentia orgulho por também perceber sua admiração.

Aí chegou aquele momento em que parecia que tudo tinha ficado fácil. Eu já sabia das suas respostas, previa cada um dos seus atos. Até mesmo quando não acertava, não dava o braço a torcer. Entramos numa competitividade, disputando uma razão inútil.

Nosso prêmio era o silêncio sinistro, desconfiado. Era a marca do desentendimento. Ali já não estávamos mais juntos pelo bom que sentíamos. O que nos unia era o comodismo e, especialmente, o medo de assumir a separação.

Aguardávamos a oportunidade ideal para a conversa ideal. Afinal, já estávamos vivendo a partir de idealizações. Inclusive, os outros passaram a ser idealizados – eram quem gostaríamos de ser, ou ter. Passamos a ver a realidade por filtros do Instagram.

Hoje, meu orgulho vem de sermos honrados e decentes para conversarmos sobre tudo isso. Não mais por nossa história: ela foi o que podia ser, dentro daquilo que éramos. Mas espero que possamos ser mais que isso. E que, nas próximas, saibamos encarar a nós próprios antes de olharmos para fora.

Com amor.

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