Vídeo de pole dance com Jesus foi gravado nos EUA, e não no Brasil
É enganoso um post que associa uma performance de pole dance em uma cruz à Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo e ao governo federal
atualizado
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Conteúdo investigado: Post no TikTok mostra vídeo no qual um homem aparece representando Jesus crucificado, enquanto outro faz pole dance na cruz com o homem preso a ela. As imagens são apresentadas após o tiktoker afirmar que não concorda com o atual governo e que apoiadores da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “estão brincando com a crença do povo brasileiro, com o evangelho, com nosso Deus, com nosso Jesus”. A publicação foi feita um dia após a realização da 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, em São Paulo.
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: É enganoso post que associa uma performance de pole dance em uma cruz registrada em São Francisco, na Califórnia, estado norte-americano, ao governo brasileiro e à Parada do Orgulho LGBT+, realizada em 11 de junho em São Paulo.
As imagens, na verdade, foram gravadas na Páscoa deste ano, em 9 de abril, durante o evento anual Easter Sunday (Domingo de Páscoa, em tradução livre do inglês), quando são realizados os concursos de fantasia Hunky Jesus (Jesus Bonitão, em tradução livre do inglês) e Foxy Mary (Maria Sexy, também em tradução livre do inglês). A ação é organizada desde 1979 pelo grupo Sisters of Perpetual Indulgence, um coletivo composto por pessoas LGBT+.
Uma busca no Google pelas palavras “cruz”, “dança” e “Jesus”, em português e inglês, levou a notícias sobre o evento e a posts contendo vídeos e fotos da mesma apresentação. Estes conteúdos viralizaram e renderam protestos de grupos católicos.
Imagens da performance chegaram a ser utilizadas pelo jornal Daily Mail, ao noticiar, em 24 de maio, que a equipe de beisebol LA Dodgers se desculpou com o coletivo Sisters of Perpetual Indulgence por ter desconvidado-o, em 17 de maio, para uma premiação. O time havia desistido da homenagem após a polêmica em decorrência de imagens oriundas do evento realizado na Páscoa. Ao final, voltou atrás e a homenagem aconteceu no último dia 16.
Uma reportagem do noticiário San Francisco Chronicle também apresenta uma foto da performance e informa que ela foi realizada pelos artistas Bob Exothermal e Aurora Rose. Uma busca pelos dois nomes no Instagram levou aos perfis de ambos, onde foram feitas postagens (Bob e Aurora) sobre a apresentação.
Em seu site, o grupo Sisters of Perpetual Indulgence afirma usar de “humor e sagacidade irreverente para expor as forças da intolerância, complacência e culpa que acorrentam o espírito humano”.
No Brasil, a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ ocorreu em 11 de junho, em São Paulo, com o tema “Políticas sociais para LGBT+: Queremos por inteiro, não pela metade”.
Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post aqui verificado teve 30,8 mil visualizações, além de 2,1 mil curtidas, 205 comentários e 363 compartilhamentos no TikTok até o dia 19 de junho.
Como verificamos: Fizemos uma busca no Google por combinações de palavras-chave, como “cruz”, “dança” e “Jesus”, em português e inglês, que nos levaram a notícias e posts sobre o assunto. Também pesquisamos informações sobre a Parada do Orgulho LGBT+ no Brasil. Foram consultadas verificações de outras agências sobre o fato, que estão citadas ao fim deste texto. Por fim, procuramos o autor do post.
O que diz o responsável pela publicação: Procurado, o perfil @isacfaris não respondeu até a publicação desta checagem. Esta não é a primeira vez que um post feito por ele é alvo de checagem do Comprova. Anteriormente, ele espalhou de forma falsa que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, teria convocado o Congresso norte-americano por falas de Lula em apoio à Venezuela.
O que podemos aprender com esta verificação: Imagens relacionadas ao movimento LGBT+ fora de contexto podem incentivar ataques de ódio contra a comunidade, que já é alvo frequente de condenações morais e violências. Como é comum o aumento de desinformação circulando nas redes sociais durante e após a realização de eventos da comunidade, é importante o usuário estar atento àquilo que é ou não verdadeiro. Imagens podem ser consultadas com o uso de ferramentas de busca reversa, como a que o Google disponibiliza. Também é possível usar o mesmo buscador para combinar palavras-chave e procurar por notícias publicadas pela imprensa sobre o assunto, como foi feito pelo Comprova.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi checado por Estadão Verifica, Aos Fatos, Reuters, AFP Checamos e UOL Confere. Já o Comprova demonstrou recentemente ser enganoso um post que associa uma foto de uma criança interagindo com homens com máscara de cachorro, registrada em 2019, no Canadá, à Parada LGBT+ de São Paulo.