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Vídeo de pai desesperado é antigo e não tem relação com vacina

Filmagem mostra homem gritando em um hospital com a legenda “vacinação mata criança na Paraíba”. Porém, vídeo foi feito no Amazonas em 2019

atualizado

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Esta checagem foi realizada por jornalistas que integram o Projeto Comprova, criado para combater a desinformação, do qual o Metrópoles faz parte. Leia mais sobre essa parceria aqui.

Conteúdo verificado: vídeo mostra um homem gritando e sendo contido por seguranças em uma sala de espera de hospital. O vídeo contém uma legenda no topo que diz “vacinação mata criança na Paraíba”. Na parte de baixo, há a frase “pai desesperado ao ver seu filho morto”.

É FALSO o vídeo que alega mostrar um “pai desesperado ao ver seu filho morto” por causa da vacinação contra a Covid-19 na Paraíba. As imagens na realidade foram feitas em 2019 em uma maternidade no Amazonas. Além disso, nenhuma criança morreu após ter sido vacinada na Paraíba, segundo o governo local.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

A maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus, confirmou ao Projeto Comprova que o vídeo é de fevereiro de 2019. A Secretaria de Saúde da Paraíba divulgou nota à imprensa dizendo que as imagens não foram feitas no estado, “tampouco que [a morte] tenha sido um efeito da vacina contra Covid-19”. O órgão também informou que “nenhum efeito adverso grave em decorrência da vacina foi registrado no estado”.

Para o Comprova, o vídeo é falso porque sofreu edições a fim de mudar o seu significado original e foi divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

O Comprova recebeu o vídeo por meio do WhatsApp. A equipe começou uma busca para localizar o conteúdo em outras redes sociais e encontrou uma publicação de 2019 no Facebook, citando o caso de uma mulher que teria morrido em uma maternidade em Manaus. Com essa informação, a equipe pesquisou a respeito dessa morte em sites jornalísticos locais e encontrou publicações que contavam a história com imagens do vídeo em questão (12 e 3).

Depois, a equipe entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas, que confirmou que o vídeo foi gravado dentro de uma maternidade de Manaus, em que uma mãe e uma criança morreram após procedimento obstétrico.

A Secretaria Estadual de Saúde da Paraíba também informou à equipe que o caso não ocorreu no estado e que nenhuma morte após a vacinação contra a Covid-19 foi registrada no local.

Verificação

O vídeo

O vídeo recebido pelo Comprova via WhatsApp tem pouco mais de dois minutos de duração e mostra um homem gritando e sendo contido por seguranças em uma sala de espera de um hospital. Apenas pelas imagens, não é possível entender o que motivou a reação do homem, mas as legendas colocadas na gravação (“vacinação mata criança na Paraíba” e “pai desesperado ao ver seu filho morto”) induzem o espectador a acreditar que o caso tem relação com a vacinação contra a Covid-19.

Uma busca pelo termo “pai desesperado” na plataforma de monitoramento Crowdtangle trouxe como resultado o mesmo vídeo, mas sem a legenda enganosa e em um post feito por um perfil pessoal em 17 de fevereiro de 2019. A autora do post diz que o vídeo mostra um “acontecimento de ontem na maternidade Balbina Mestrinho. (…) Aqui está um pai, marido desesperado, pois perdeu a sua esposa e o bebê por tamanha negligência médica”.

Notícias de veículos locais

Uma busca no Google mostrou que a maternidade Balbina Mestrinho fica em Manaus e pertence à rede estadual de saúde do Amazonas. Outra busca usando trechos do texto do post do Facebook levou a diversas notícias publicadas pela imprensa local em fevereiro de 2019, que falavam de um caso idêntico relatado no post encontrado pela reportagem na rede social. Mais do que isso, algumas dessas publicações continham o vídeo do pai desesperado na sala de espera do hospital (12 e 3).

As notícias também traziam uma resposta dada na época pela Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas que citava a reação do pai após receber a notícia da morte da mulher e do bebê.

“No momento em que recebeu a notícia das perdas da mãe e do bebê, o pai da criança ficou transtornado e tentou quebrar a máquina de lanche e outros objetos da recepção da maternidade. Os seguranças foram chamados para conter o pai. O serviço social prestou assistência à família, incluindo locomoção para a resolutividade dos trâmites póstumos”, diz a resposta da secretaria que foi publicada no noticiário local.

O que diz o governo do Amazonas

A Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) confirmou ao Comprova que o vídeo foi gravado na maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus, em fevereiro de 2019. À época, uma mulher grávida de 34 semanas deu entrada no hospital, com risco de parto prematuro. A morte da criança, que gerou a revolta do pai, ocorreu após um deslocamento prematuro de placenta. Posteriormente, a mãe foi internada em uma Unidade de Terapia Intensiva e também não resistiu.

Sobre o caso, a pasta alega que a maternidade “passou por melhorias estruturais para oferecer o melhor acolhimento a grávidas, puérperas e recém-nascidos, assim como também houve investimento na capacitação de todos os profissionais que compõem a equipe multidisciplinar da unidade e dos equipamentos para exames”.

A morte da criança e da mãe não teve qualquer relação com a vacina da Covid-19, de acordo com a confirmação da SES.

O que diz o governo da Paraíba

Em comunicado, a Secretaria de Saúde informou que o caso não ocorreu no estado. O órgão afirmou ainda que não foram registrados episódios de efeitos adversos à vacinação contra a Covid-19.

“Não é verdadeira a informação de que tenha ocorrido na Paraíba, tampouco que tenha sido um efeito da vacina contra Covid-19. Nenhum efeito adverso grave em decorrência da vacina foi registrado no estado”, diz a nota.

Atualmente, o estado aplica a vacina pediátrica da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos, de acordo com recomendação do Ministério da Saúde.

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A vacina é específica para crianças e tem concentração diferente da utilizada em adultos. A dose da Comirnaty equivale a um terço da aplicada em pessoas com mais de 12 anos
A tampa do frasco da vacina virá na cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de imunização e também por pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para receberem a aplicação do fármaco
Desde o início da pandemia, mais de 300 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência do coronavírus no Brasil
Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias. Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no público infantil é significativa. Fora o número de mortes, há milhares de hospitalizações
De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenos
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A Anvisa aprovou, em 16 de dezembro, a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Para isso, será usada uma versão pediátrica da vacina, denominada Comirnaty

baona/Getty Images
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A vacina é específica para crianças e tem concentração diferente da utilizada em adultos. A dose da Comirnaty equivale a um terço da aplicada em pessoas com mais de 12 anos

Igo Estrela/ Metrópoles
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A tampa do frasco da vacina virá na cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de imunização e também por pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para receberem a aplicação do fármaco

Aline Massuca/Metrópoles
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Desde o início da pandemia, mais de 300 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência do coronavírus no Brasil

ER Productions Limited/ Getty Images
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Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias. Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no público infantil é significativa. Fora o número de mortes, há milhares de hospitalizações

Getty Images
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De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenos

Vinícius Schmidt/Metrópoles
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Contudo, desde o aval para a aplicação da vacina em crianças, a Anvisa vem sofrendo críticas de Bolsonaro, de apoiadores do presidente e de grupos antivacina

HUGO BARRETO/ Metrópoles
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Para discutir imunização infantil, o Ministério da Saúde abriu consulta pública e anunciou que a vacinação pediátrica teria início em 14 de janeiro. Além disso, a apresentação de prescrição médica não será obrigatória

Igo Estrela/ Metrópoles
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Inicialmente, a intenção do governo era exigir prescrição. No entanto, após a audiência pública realizada com médicos e pesquisadores, o ministério decidiu recuar

Divulgação/ Saúde Goiânia
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De acordo com a pasta, o imunizante usado será o da farmacêutica Pfizer e o intervalo sugerido entre cada dose será de oito semanas. Caso o menor não esteja acompanhado dos pais, ele deverá apresentar termo por escrito assinado pelo responsável

Hugo Barreto/ Metrópoles
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Além disso, apesar de não ser necessária a prescrição médica para vacinação, o governo federal recomenda que os pais procurem um profissional da saúde antes de levar os filhos para tomar a vacina

Aline Massuca/ Metrópoles
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Segundo dados da Pfizer, cerca de 7% das crianças que receberam uma dose da vacina apresentaram alguma reação, mas em apenas 3,5% os eventos tinham relação com o imunizante. Nenhum deles foi grave

Igo Estrela/Metrópoles
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Países como Israel, Chile, Canadá, Colômbia, Reino Unido, Argentina e Cuba, e a própria União Europeia, por exemplo, são alguns dos locais que autorizaram a vacinação contra a Covid-19 em crianças

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Nos Estados Unidos, a imunização infantil teve início em 3 de novembro. Até o momento, mais de 5 milhões de crianças já receberam a vacina contra Covid-19. Nenhuma morte foi registrada e eventos adversos graves foram raros

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A decisão do Ministério da Saúde de prolongar o intervalo das doses do imunizante contraria a orientação da Anvisa, que defende uma pausa de três semanas entre uma aplicação e outra para crianças de 5 a 11 anos

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Por que investigamos?

O Comprova tem o compromisso de investigar conteúdos suspeitos que tenham relação com a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. O vídeo foi enviado por um leitor e traz informações enganosas sobre a vacinação destinada ao público infantil.

Publicações como essa podem prejudicar o andamento da campanha de vacinação em curso no país. Todas as vacinas aplicadas atualmente no Brasil têm eficácia e segurança comprovada por órgãos de saúde nacionais e internacionais.

O tema tem sido alvo de constantes ataques por grupos contrários à vacinação. O Comprova já verificou uma publicação enganosa que distorce dado de estudo alemão para criticar a vacinação infantil e mostrou que a morte de um adolescente brasileiro mostrado em vídeo de protesto nos EUA não teve relação com a vacina.

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