Posts mentem ao dizer que Bruno Maranhão foi preso por tráfico
Vídeo de uma ação da PF voltou a circular apontando Maranhão como um dos detidos. O ativista do MLST morreu quatro anos antes da filmagem
atualizado
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Esta checagem foi realizada por jornalistas que integram o Projeto Comprova, criado para combater a desinformação, do qual o Metrópoles faz parte. Leia mais sobre essa parceria aqui.
Conteúdo investigado: publicações acompanhadas por um vídeo mostram uma operação da Polícia Federal, em 2018. Nas imagens, dois homens aparecem deitados no chão e um terceiro está sentado em uma cadeira, com as mãos para trás, aparentemente algemado. A postagem acompanha um texto que atribui a ação policial à prisão de Bruno Maranhão.
Conclusão do Comprova
É FALSO o conteúdo de posts segundo os quais um aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamado Bruno Maranhão, foi preso acusado de tráfico de drogas. O vídeo que circula nas redes sociais mostra, na realidade, uma operação da Polícia Federal (PF) realizada em 2018, em Paraguaçu Paulista (SP), quatro anos depois da morte de Maranhão.
Para o Comprova, falso é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Naquela ação da PF, os agentes apreenderam 900 quilos de maconha, um avião agrícola e outros 400 quilos da mesma droga escondidos no hangar. Uma reportagem da TV Record veiculada na ocasião mostra, a partir de 1 minuto e 40 segundos, o nome dos acusados de envolvimento no crime e não há qualquer menção a Maranhão. A matéria apresenta as mesmas imagens mostradas no vídeo verificado.
Bruno Maranhão não poderia ter sido relacionado pela polícia neste caso porque morreu em 2014. Outro boato da postagem é a participação dele no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na verdade, Maranhão era liderança em outro grupo, o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST).
O que diz o autor da publicação
O Comprova tentou contato com os três perfis em que o vídeo viralizou. O primeiro, Informe Amapaense, é identificado como um blog pessoal no Facebook e tem mais de 51 mil seguidores. O contato foi feito por e-mail e pela plataforma. Nela, em troca de mensagem, foi informado um celular para contato diretamente com o editor. Procurado pelo Comprova, o editor do Informe Amapaense não respondeu aos questionamentos e disse apenas que “o assunto já está encerrado”.
Uma usuária do Twitter identificada como Nalva compartilhou a publicação naquela rede social. Com mais de 5,8 mil seguidores, ela se declara apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PL) e frequentemente publica conteúdos em defesa do presidente. A autora também não respondeu à mensagem.
O terceiro perfil que publicou o vídeo no Twitter não tem canal para mensagem direta e não foi possível o contato.
Como verificamos
Por ser um conteúdo já investigado em outras ocasiões, começamos essa apuração recorrendo a materiais publicados por agências e seções de checagem sobre o mesmo assunto. Também buscamos reportagens para explicar quem foi Bruno Maranhão, sua atuação em movimentos sociais e sua morte.
O Comprova ainda procurou os responsáveis pelas publicações que, embora já desmentidas algumas vezes, voltaram a viralizar nas redes sociais.
Operação mirou tráfico de drogas
A apreensão mencionada nos vídeos ocorreu em março de 2018. Segundo o portal G1, a investigação apurava um caso de tráfico de drogas no interior de São Paulo. Os policiais federais interceptaram o avião carregado de maconha e contaram com a ajuda da Polícia Militar para realizar as prisões.
No dia da operação, três pessoas foram presas. A aeronave estava no aeroclube de Paraguaçu Paulista, cidade distante 117 quilômetros de São Paulo. Segundo os policiais, os criminosos adaptaram o tanque do avião para conseguir transportar a droga.
Vinte dias após essa apreensão, a PF deflagrou a operação “Voo Cego”, como desdobramento das investigações. Nesta ocasião, foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão também na cidade de Paraguaçu Paulista, além dos municípios de Cornélio Procópio e Londrina – ambos no Paraná. Nesta ação, uma segunda aeronave foi apreendida.
Em nenhuma das reportagens sobre a operação o MST ou Maranhão são citados.
Quem é Bruno Maranhão
Filho de usineiros de Pernambuco, o engenheiro-mecânico Bruno Maranhão defendia a reforma agrária no país. Uma reportagem do Estadão sobre sua morte, que aconteceu em 25 de janeiro de 2014, ressalta sua última ação pública, três anos antes, na Marcha da Reforma Agrária do Século XXI, realizada pelo MLST, uma dissidência do MST.
Maranhão foi militante do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCBR) e, após voltar do exílio na França imposto pela ditadura militar, ajudou a fundar o PT. Ele morreu de falência múltipla dos órgãos, aos 74 anos. Na ocasião, o Instituto Lula divulgou uma nota de pesar, assinada pelo ex-presidente e pela ex-primeira-dama Marisa Letícia. No documento, Maranhão foi destacado como um companheiro de luta.
Relacionamento com Lula
Natural de Pernambuco, assim como Lula, Maranhão e o ex-presidente se aproximaram no processo de fundação do PT, partido do qual o líder do MLST quase foi expulso após participar de um ato no Congresso Nacional que acabou em quebra-quebra, em junho de 2006. O episódio chegou a ser cogitado como um risco à campanha de reeleição do ex-presidente naquele ano.
Membro da Executiva nacional do PT, Maranhão tinha a função de mobilizar os movimentos sociais em apoio a Lula, conforme uma reportagem da Folha de S.Paulo em que traçava o seu perfil. Com a vitória de Lula nas eleições de 2006, em janeiro de 2007, Maranhão foi um dos convidados especiais, como dirigente petista, a integrar a comitiva na posse do ex-presidente.
Por que investigamos
O Comprova verifica conteúdos sobre políticas públicas, pandemia e as eleições presidenciais de 2022 que viralizam na internet. As postagens sobre Bruno Maranhão, falsamente associado ao tráfico de drogas e indicado como braço direito de Lula nos vídeos aqui investigados, podem distorcer a percepção das pessoas sobre o ex-presidente petista, que é, hoje, pré-candidato à Presidência da República. A decisão da população no momento de votar deve ser baseada em fatos, e não em boatos. Mentiras enfraquecem o processo eleitoral e democrático.
Alcance da publicação
Até o dia 1º de abril, a publicação tinha mais de 1,1 mil visualizações no Facebook e mais de 580 visualizações em um perfil do Twitter. Após contato do Comprova, a postagem no Facebook foi deletada.
Outras checagens sobre o tema
Esta não é a primeira vez que o nome de Bruno Maranhão é associado, indevidamente, ao tráfico de drogas. O boato já havia circulado em 2019 e foi desmentido pelo G1, e, em 2020, foi contestado pela Aos Fatos. O Estadão Verifica também apontou que se tratava de boato a prisão por tráfico de Maranhão, que já havia morrido na época da operação policial. Em outra reportagem, ressaltou que fotos de drogas e armas não foram tiradas em acampamento do MST.
Conteúdos falsos e enganosos relacionados a eleições e candidatos estão frequentemente circulando nas redes sociais. O Comprova já mostrou que vídeo engana ao dizer que pesquisas eleitorais foram forjadas na eleição de Bolsonaro em 2018 e também que Parque do Iguaçu não foi criado por Lula.