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É falso que Lula defendeu nazismo e fascismo em evento do PT em 2017

O conteúdo original, uma transmissão ao vivo feita pela página do Facebook do petista em 2017, foi cortado em trechos específicos e editado

atualizado

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Reprodução/Projeto Comprova
Imagem colorida de postagem falsa
1 de 1 Imagem colorida de postagem falsa - Foto: Reprodução/Projeto Comprova

Esta checagem foi realizada por jornalistas que integram o Projeto Comprova, criado para combater a desinformação, do qual o Metrópoles faz parte. Leia mais sobre essa parceria aqui.

Conteúdo investigado: vídeo de um minuto e 44 segundos publicado na plataforma de vídeos Kwai em que Lula supostamente diz ser preciso negar a política e no qual o petista é associado à defesa do fascismo, nazismo e qualquer outro regime autoritário adverso à democracia. Acima das imagens do petista, foram inseridas a palavra “demônio” e a frase “ele quer a nossa destruição”. Abaixo, a seguinte legenda: “Este vídeo foi guardado a sete chaves pelo PT”.

É FALSO vídeo supostamente “guardado a sete chaves pelo PT” no qual o ex-presidente Lula parece afirmar que o partido “precisa convencer as pessoas a negação da política” e defender “fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia”. Editado, o conteúdo teve trechos suprimidos para alterar o sentido do discurso. No vídeo original, de 2017, o presidenciável diz justamente o contrário.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

As imagens, apontadas como sigilosas na publicação verificada, foram, na verdade, transmitidas ao vivo pela página de Lula no Facebook. No conteúdo original, que tem pouco mais de 44 minutos, Lula começa a falar aos 21 minutos da gravação e seu discurso dura cerca de 20 minutos.

Amplamente compartilhada em 2017, a versão manipulada do vídeo voltou a viralizar duas vezes em época de campanha eleitoral – em 2018 e 2022 – e, desde então, vem sendo desmentida por agências de checagem, inclusive pelo Comprova.

Em nota, a assessoria de imprensa do PT afirma que o conteúdo foi “pesadamente editado e manipulado para criar frases nunca ditas pelo ex-presidente”.

Alcance da publicação

No Kwai, até o dia 16 de setembro, o vídeo havia sido visualizado 126,3 mil vezes. A publicação havia alcançado 5,8 mil curtidas, quase 2,6 mil comentários e 16,2 mil compartilhamentos. Antes disso, o mesmo conteúdo manipulado já havia viralizado em 2017 e em 2018, ano do último pleito eleitoral para presidência da república.

O que diz o autor da publicação

Procuramos Nancy Martins, autora da publicação. Questionada se tinha conhecimento de que o vídeo havia sido editado/manipulado, Nancy respondeu que: “Não tem nada de errado com esse vídeo. Muito menos manipulado. É exatamente isso que ele [Lula] prega”. No Kwai, Nancy tem 38,8 mil seguidores.

Como verificamos

Inicialmente, fizemos uma busca no Google pelas seguintes palavras-chave: “lula”; “vídeo”; “negação”; “política”; e “fascismo”. A pesquisa retornou links de verificações do mesmo vídeo feitas anteriormente por agências de checagem, como Estadão VerificaFato ou Fake e Aos Fatos.

A partir do vídeo original, uma transmissão ao vivo de evento do PT feita pelo Facebook, comparamos a fala de Lula na íntegra com as frases do vídeo cortado, editado e distribuído na internet. A edição é nítida, com cortes abruptos de áudio e imagem.

Também fizemos contato com a assessoria de imprensa do PT e procuramos a autora do post verificado.

Vídeo original x versão editada

O vídeo original foi publicado na página oficial de Lula em 22 de setembro de 2017. Trata-se da transmissão ao vivo do lançamento da campanha de filiação ao PT em São Paulo. No segundo semestre daquele ano, eventos como esse eram promovidos pelo partido em diversos pontos do país. Esta ocasião, especificamente, contou com a presença de Lula, que fez um discurso voltado a atrair novos membros para a legenda.

Como já verificado pelo Comprova, no trecho original do vídeo, o petista diz: “Eu penso que as pessoas devem se filiar ao PT. Primeiro porque o PT precisa convencer as pessoas de que não existe saída para o Brasil e para qualquer país do mundo fora da política, ou seja, o PT tem que ser o partido que enfrenta essa discussão contra a negação da política. Fora da política, nós teremos fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia”.

Na versão editada e compartilhada pelo perfil do Kwai de Nancy Martins, o vídeo é cortado, palavras são suprimidas e as frases, retiradas de contexto. A edição faz com que o discurso ganhe sentido oposto ao original.

A declaração do ex-presidente é alterada para: “Eu penso que as pessoas devem se filiar ao PT. Primeiro porque o PT precisa convencer as pessoas a negação da política. Fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia”.

Conteúdo circula desde 2017

Esta é a segunda vez que o conteúdo distorcido volta a ser compartilhado nas redes sociais. O vídeo circula na internet desde 2017. A uma semana das eleições presidenciais de 2018, voltou a circular com força. À época, foi desmentido pelo Comprova. Quatro anos depois, a menos de um mês das eleições presidenciais de 2022, a peça de desinformação viralizou mais uma vez.

Ainda que já tenham sido desmentidos, conteúdos falsos e/ou enganosos costumam voltar a circular em épocas propícias de forma estratégica, como é o caso deste que ganha força a cada eleição. Por vezes, o material é reproduzido exatamente nos mesmos moldes, mas ele também pode ser “reciclado” e adquirir novas roupagens.

PT reafirma manipulação

Procurada, a assessoria de imprensa de Lula, que já havia emitido nota quando o conteúdo circulou pela primeira vez, voltou a afirmar que “o vídeo foi pesadamente editado e manipulado para criar frases nunca ditas pelo ex-presidente”. Acrescentou ainda que o material “foi montado e circula em grupos, em geral de simpatizantes de Bolsonaro, como arma para estimular o ódio político contra Lula e o PT”.

Por que investigamos

O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos e sátiras envolvendo candidatos à presidência, como a peça aqui verificada, podem influenciar os eleitores, que devem basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema

O conteúdo foi investigado pela primeira vez em outubro de 2018 pela equipe do Comprova. Dias depois, foi também desmentido pelo Fato ou Fake. No ano seguinte, em 20 de setembro de 2019, o Estado de S.Paulo fez a checagem do mesmo vídeo. A peça também foi alvo de verificação do Aos Fatos em agosto de 2020.

O Comprova também já investigou conteúdos similares envolvendo candidatos à presidência. Recentemente, apontou manipulação de vídeo para inserir ofensa a Lula em discurso de apoiadora em Pernambuco, que vídeo foi editado para deturpar fala de Lula sobre ‘ideologia do PT’ e que vídeo de Bolsonaro criticando direitos trabalhistas é de 2019.

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