É falso que boletim de urna encontrado em Curitiba não foi computado
Vídeo no Kwai mostra uma mulher com boletins de urna (BU) impressos que foram encontrados ao lado de terminal de ônibus em Curitiba, Paraná
atualizado
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Esta checagem foi realizada por jornalistas que integram o Projeto Comprova, criado para combater a desinformação, do qual o Metrópoles faz parte. Leia mais sobre essa parceria aqui.
Conteúdo investigado: em vídeo publicado no Kwai, uma mulher de Curitiba afirma ter encontrado boletins de urna jogados no chão, quando a contagem de votos no país ainda não havia sido finalizada, no domingo, 2 de outubro. Na publicação, a mulher questiona o sistema eleitoral e diz que vai encaminhar o conteúdo para a polícia, para a justiça eleitoral e para alguns candidatos.
É FALSA a informação de que boletins de urna encontrados na rua na capital do Paraná comprovam que a contagem de votos no primeiro turno das eleições de 2022 não foi feita de forma honesta. Diferentemente do que afirma uma mulher em vídeo publicado nas redes sociais, o boletim de urna não conta com impressão única e, além das cópias impressas, os resultados da votação também são disponibilizados de forma on-line para atestar a quantidade de votos registrados.
O Comprova classifica como falso todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação
O Comprova verifica conteúdos com grande alcance nas redes sociais. A publicação verificada tinha 4,4 mil visualizações, 167 curtidas, 79 comentários e 588 compartilhamentos no Kwai até o início da tarde desta quarta-feira (5/10). No Facebook, o conteúdo teve 559 visualizações, 10 curtidas e 28 comentários até a mesma data.
O que diz o autor da publicação
Procurada por e-mail, a autora do vídeo respondeu que, no domingo (2/10), ela e o marido encontraram dois Boletins de Urna no chão, os quais foram levados à Justiça Eleitoral no dia seguinte, às 14h.
Ela afirmou que se tratavam da 6ª e 8ª vias de cada boletim e que, após conversar com o gabinete de um candidato (a autora não revelou o nome), foi informada que os dados da votação são transportados em uma espécie de pen drive até a Justiça Eleitoral, e não em boletins de urna. “Porém, trata-se de um documento eleitoral que jamais poderia ter sido abandonado ou jogado em via pública”, disse.
Segundo a autora, o vídeo original foi excluído da plataforma pela repercussão que tomou. “Perdi minha liberdade de ir e vir e de possuir contas em redes sociais”. Outro conteúdo foi publicado posteriormente, no dia 3 de outubro, em que a mulher diz que os boletins foram entregues ao órgão competente.
Como verificamos
Primeiramente, foi feita uma busca no Google pelos termos “Paraná”, “Boletins de Urna” e “eleição”. Como retorno, foram apresentadas checagens feitas pelo Estadão Verifica e pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) sobre o tema. O Comprova também entrou em contato por e-mail com o TRE daquele estado e com o TSE, bem como com a autora da publicação.
Votos dos boletins foram contabilizados
Conforme mostrou a checagem do Estadão Verifica, em determinado momento do vídeo, a autora mostra de perto um dos boletins de urna encontrados. No documento é possível ler: “Zona Eleitoral 0175”, “Seção Eleitoral 0164”, “Eleitores Aptos 0380”, “Comparecimento 307”, “Eleitores faltosos 0073”.
Essas informações correspondem ao que está registrado no portal de resultados do TSE. Na Seção Eleitoral 0164, Jair Bolsonaro (PL) teve 152 votos enquanto Lula (PT) teve 115. São os mesmos dados ditos pelo casal no vídeo, o que prova que os votos nos boletins encontrados por eles foram contabilizados.
Boletins de Urna
Procurado pelo Comprova, o TRE-PR ressaltou que após o encerramento da votação, as urnas que foram distribuídas em seções por todo o país emitem cinco Boletins de Urna oficiais, sendo que dois são enviados à Justiça Eleitoral, um é afixado na sala da seção eleitoral onde ocorreu a votação e as outras cópias são entregues aos fiscais dos partidos, à imprensa e ao Ministério Público. Com o fim do primeiro turno das eleições deste ano, foram emitidos mais de 472 mil Boletins de Urna, que podem ser consultados por qualquer pessoa.
Nas eleições deste ano, a diferença é que os Boletins de Urna foram impressos em tempo real, na medida em que os dados chegavam para a totalização na Corte Eleitoral. O TSE sempre disponibilizou para a consulta pública os boletins de urna alguns dias após a votação.
Além das cinco versões mínimas emitidas, os fiscais, caso acreditem ser necessário, podem emitir outros cinco BUs para levar à conferência do TSE. Após isso, os boletins são descartados.
Consulta ao resultado
Todo boletim de urna conta com um QR code que possibilita que cada eleitor fiscalize o processo de apuração das urnas eletrônicas nas seções eleitorais e acompanhe a totalização feita pelo TSE. Para isso, basta baixar no celular o aplicativo Boletim na Mão, que está disponível nas lojas virtuais Google Play e App Store.
Pelo aplicativo, qualquer pessoa pode obter cópia de quantos boletins quiser, bastando que realize a captura do código impresso nos BUs das seções eleitorais. As informações podem ser comparadas com os dados disponibilizados na internet no mesmo dia da votação, por meio do aplicativo Resultados, também da Justiça Eleitoral, ou na página Resultados, do TSE.
Contagem de votos
A contagem dos votos não se dá a partir das vias impressas dos boletins de urna, mas sim a partir da leitura das mídias de resultado. A checagem dos votos constantes do boletim de urna e dos votos contabilizados pode ser feita a partir do QR code, o que garante a inviolabilidade do número total de votos, de acordo com o TSE.
A mídia de resultado é um pen drive que toda urna tem. A diferença é que os arquivos que a mídia traz possuem uma série de travas eletrônicas de segurança que fazem com que eles só “conversem” com os programas que foram desenvolvidos e lacrados exclusivamente para aquela eleição. Se alguém tentar colocar a mídia de resultado em um computador comum para acessar os dados, eles não poderão ser alterados.
Depois de imprimir os boletins de urna, o presidente da seção eleitoral rompe o lacre da urna eletrônica e retira a mídia de resultado, para enviá-la ao cartório eleitoral da localidade junto a uma via do boletim de urna impresso. A partir do cartório é que a totalização dos votos contabilizados é enviada para o TSE.
Caso não foi levado à Justiça Eleitoral
Em seu perfil na rede social Kwai, a autora afirma em sua descrição que: “a todos que estão aqui por causa do vídeo. cumpri meu DEVER como cidadã e entreguei à justiça eleitoral, que é o órgão competente para averiguar a questão”.
O vídeo original em que ela mostra os boletins de urna não está disponível no perfil. Há apenas outro conteúdo publicado no dia 3 de outubro em que ela afirma que encaminhou os BUs à Justiça Eleitoral. No vídeo, ela mostra que está na frente do Fórum Eleitoral de Curitiba e que entregou os boletins a um rapaz na recepção do local, às 14h.
Ao Comprova, o TRE-PR informou que o caso não foi denunciado ao tribunal e nem à Procuradoria Regional Eleitoral.
Por que investigamos
O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Conteúdos falsos, enganosos ou fora de contexto sobre as urnas eletrônicas e a contagem de votos podem criar suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral, prejudicando as eleições, as instituições e a democracia brasileira.
Outras checagens sobre o tema
O vídeo já foi desmentido por outras agências de checagem como Estadão Verifica, Aos Fatos e pelo site Boatos.org. O Gralha Confere, do TRE-PR, e o Fato ou Boato, da Justiça Eleitoral, também classificaram o conteúdo como falso.
Em verificações recentes envolvendo as eleições e as urnas eletrônicas, o Comprova mostrou que o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, não disse que vai mandar prender eleitor que reclamar das urnas; que não há evidências de que urnas tenham chegado a Cordeiro (RJ) com votos já registrados; que em Londres, mesária foi afastada após responder pergunta de eleitor sobre número de candidato; não houve confusão; e que queixas sobre urnas devem ser registradas com o presidente da mesa, não em aplicativo do TSE.