EUA não pediram retirada do Brasil de lista de aliados, como diz post
Postagem engana ao sugerir que o Congresso dos EUA pediu recentemente a remoção do Brasil da lista de aliados
atualizado
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Esta checagem foi realizada por jornalistas que integram o Projeto Comprova, criado para combater a desinformação, do qual o Metrópoles faz parte. Leia mais sobre essa parceria aqui.
Conteúdo investigado: Postagem traz notícia veiculada na CNN com a legenda “Congresso americano pede para retirar o Brasil da lista de aliados”.
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: É enganosa a postagem que sugere que o Congresso americano solicitou recentemente a remoção do Brasil da lista de aliados extra-Otan. A notícia é de 2021, e o pedido foi feito por apenas 63 deputados e não por todo o Congresso (os Estados Unidos têm 435 deputados e 100 senadores), como alega o post investigado.
O vídeo tirado de contexto é da CNN Brasil, exibido em 14 de outubro de 2021, quando esses congressistas democratas enviaram uma carta ao presidente Joe Biden pedindo que ele reconsiderasse a oferta para o Brasil se tornar um parceiro global da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e revogasse a condição de aliado extra-Otan, concedida durante o governo do republicano Donald Trump. O pedido foi baseado na preocupação de que o governo de Jair Bolsonaro (PL) representasse uma ameaça à democracia.
Hank Johnson, congressista democrata e autor da carta, declarou à BBC: “Precisamos rever isso para garantir que não estamos fortalecendo um exército que poderia ser usado em um golpe de Estado”. Segundo Johnson, “Bolsonaro já demonstrou que está criando as condições para um golpe militar. É uma situação alarmante para o Brasil, e nosso país não pode contribuir com isso”.
O pedido dos deputados, contudo, não avançou. Embora o Brasil não tenha ingressado na Otan, o país manteve o status de aliado prioritário extra-Otan. A informação foi confirmada ao Comprova pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Essa posição continua a oferecer vantagens, como a facilidade na aquisição de tecnologia militar e armamentos dos EUA, entre outros benefícios.
O autor da postagem foi procurado, mas não respondeu.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 21 de agosto, a publicação atingiu 130,9 mil visualizações, 6 mil curtidas e mil compartilhamentos.
Fontes que consultamos: Procuramos a matéria original no canal da CNN, conferindo a data de publicação. Também entramos em contato com a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil.
Estados Unidos designam Brasil como aliado extra-Otan
Em julho de 2019, o então presidente dos EUA, Donald Trump, designou o Brasil como aliado militar preferencial fora da Otan, facilitando a compra de tecnologia e armamentos americanos e aprofundando a cooperação militar entre os dois países.
O Brasil foi o segundo país da América Latina, depois da Argentina, a obter esse status, que foi oficializado após o Congresso americano não se opor à designação. A medida permite ao Brasil participar de leilões do Pentágono e colaborar no desenvolvimento de soluções de defesa.
Trump também apoiou a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), embora o processo possa levar anos.
Atualmente, a Otan conta com 32 países membros. Em abril de 2019, o secretário-geral da entidade, Jens Stoltenberg, indicou que a aliança militar poderia considerar parcerias com mais países da América Latina, incluindo o Brasil. No entanto, o Tratado de 1949, que criou a Otan, limita a adesão formal a países europeus, conforme estipulado pelo artigo 10, o que impede que nações latino-americanas se tornem membros plenos da organização.
Mesmo após carta, Brasil continua como aliado extra-Otan
Em nota, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil confirmou que a posição do país de “aliado importante extra-Otan” não mudou desde 2019. “A cooperação em defesa entre os dois países continua se intensificando, abrangendo pesquisa, desenvolvimento, segurança tecnológica e a aquisição de produtos e serviços”, informou.
A embaixada destacou que, em 2022, o Congresso brasileiro ratificou um acordo que facilita parceria entre empresas de tecnologia de defesa dos dois países, decisão que, segundo o posicionamento, fortalece “ainda mais essa colaboração”. De acordo com a nota, a designação de aliado extra-Otan proporciona privilégios militares e econômicos, mas “não implica compromissos de segurança para os Estados Unidos”.
No texto, a embaixada afirma que os “Estados Unidos reafirmam sua confiança na democracia do Brasil e destacam que a relação bilateral é baseada em valores democráticos compartilhados”.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O UOL Confere publicou, em 2023, uma checagem sobre post que também retirava essa notícia de contexto. O Comprova já verificou outros conteúdos enganosos e mostrou que Lula não admitiu gastar R$ 300 milhões para se eleger e que a trilha sonora de Rebeca Andrade em Paris não faz homenagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Esta verificação contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.