Vila Madalena leva à Asa Norte modelo bem-sucedido fora do Plano

Costumávamos dizer que para abrir um negócio bem-sucedido no setor de alimentação bastava farinha de trigo, disposição e um bom forno. Com esses ingredientes seria possível abrir uma padaria. Notívagos, contudo, passaram a usar a mesma receita na criação de pizzarias. Se esse modelo funcionou nas primeiras décadas do Distrito Federal, hoje a coisa está muito mais complexa. Requer tino comercial e uma dose cavalar de trabalho e produtos de qualidade.

A pizzaria Vila Madalena, quando chegou à entrequadra 412/413 Norte, no final do ano passado, pareceu-me um grande ponto de interrogação. Há quatro ou cinco anos, uma filial da grife paulistana Babbo & Giovanni deixava a comercial após meros dois anos de operação. O vizinho, El Negro, seguiria o mesmo caminho pouco tempo depois. Aliás, essa esquina avarandada do bloco comercial ocupada pela promissora casa de parrillas é justamente o ponto da nova Vila Madalena.

Não estou aqui agourando negócio dos outros – longe de mim. Mas a “rua dos restaurantes” da Asa Norte ainda não conseguiu chegar ao melhor momento (e nessa conta entra crise econômica, transição de governos etc.). A boa notícia é que a Vila Madalena vai ao Plano Piloto com um modelo que se provou bem-sucedido em Planaltina, onde os sócios fundaram a Moema Pizzaria em 2014.

A marca expandiu para Sobradinho e Formosa, mas a sociedade se desfez. Os parceiros de negócio que ficaram com a unidade de Sobradinho da Moema refizeram o conceito da casa. No projeto de proliferação dos estabelecimentos, optaram por conferir a cada casa um nome diferente que representa um bairro paulistano. Foi assim que a Asa Norte ficou com a Vila Madalena. Há planos de chegar até Águas Claras.

Pois bem, na primeira vez que fui à pizzaria, a familiaridade foi enorme. Conheço esta massa e estas combinações. Lembram muito a Fratello Uno e, igualmente, a Moema. O estilo é parecido e muitas receitas se repetem. Mas é o caso da Valentina, também, que detém muitas similaridades com o cardápio da Fratello e, por consequência, da rede Moema. É bom que se copiem, caso se pense na receita da abobrinha com tapenade de azeitona preta e linguiça picante (com algumas variações de casa pra casa); é ruim se pensarmos nas pizzas de camarão com queijo, um troço que não funciona – mesmo.

Ou seja, uma pizza de fermentação um tanto apressada, mas que preserva alguma acidez na massa, embora não haja qualquer traço do belo processo de alveolagem (a formação de bolhas de ar que conferem mais leveza, sobretudo à borda). Mas o resultado não estaria incorreto. Fina, a massa apresenta o tradicional chamuscado do forno à lenha, de onde saem mais de 50 sabores.

Um dos que mais me agradam chama-se Pompéia. Reúne muçarela de búfala, molho de tomate pelado e cogumelos shiitake e shimeji com uma pimenta dedo-de-moça. Uma das poucas a conseguir balancear bem a profusão de ingredientes sobre o disco.

Devo insistir que pizza boa não é pizza com muito recheio, pensamento que se popularizou por Brasília, principalmente nos tempos áureos dos rodízios da Primo Piato. Ora, muito queijo, muito molho, enfim, muitos pertences sobre a fina massa só levam a um único resultado: pizza molenga, molhada, pesada, malcozida e com sabor prejudicado pelo excesso.

A Vila Madalena consegue usar com parcimônia a muçarela de búfala na marguerita e no peperoni da pizza Pinheiros. No entanto, costuma ser ainda muito irregular na proporção da cobertura para a massa, caso da pizza de berinjela agridoce, cuja mão do pizzaiolo pesou tanto no ingrediente, a ponto de parecer uma pizza de sobremesa.

Colocando na balança, a pizzaria Vila Madalena oferece uma concorrência de bom nível, para o bem do cenário brasiliense, usando ingredientes nobres (fora a calabresa do tenebroso e oleoso pão da casa). Aos poucos a cidade vai se despertando e aprendendo a comer melhor. Em tempo: tão logo consiga, trarei pra vocês a avaliação da N – Pizzeria Napoletana, recentemente aberta em Águas Claras. Que venham mais e melhores pizzarias.

Vila Madalena Pizzaria
Na 413 Norte, Bloco C, Loja 3/13. Telefone: (61) 3053-0033. Ambiente interno e externo. Wi-Fi. Desde 2018. Das 18h à 0h. Sexta e sábado, até 0h30