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Simbaz traz a Brasília sabores e cultura da África

Localizado na 412 sul, o restaurante oferece receitas como Yassa, Arroz Jolof, Fufu, Akara, Okro Soup e drinques como o African Sunrise Zobo

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Embora a África seja, reconhecidamente, uma das maiores influências na formação da cultura alimentar brasileira, sua gastronomia sofre um apagamento histórico.

Reconhecemos o azeite de dendê e alguns preparos do feijão e do milho pelos africanos, mas o empreendedorismo afrodescendente é tardio — frustrado pelos séculos de escravidão e pelo racismo estrutural presente, ainda hoje, na sociedade. Enquanto as cozinhas étnicas asiática, europeia e árabe sempre encontraram guarida em nossas ruas comerciais, a milenar cozinha africana parece distante até hoje.

Em Brasília, o Simbaz – Culinária Afro e Bar rompe esse ciclo de invisibilidade da riquíssima tradição, sabores e técnicas africanas, apresentando um cardápio com genuínos pratos típicos de várias regiões do continente. Eu mesmo só conhecia algumas das receitas por ter ido a  jantares em embaixadas e feiras promovidas pelo corpo diplomático. Mas me parece especialmente importante falar sobre o Simbaz nesta semana, quando celebramos o Dia da Consciência Negra (20/11).

O nigeriano Chidera Ifeanyi Umenyiliora Ajulu Okeke abriu a casa, há três meses, na 412 Sul, ao lado dos irmãos e com ajuda de um amigo de Benin. Em tão breve espaço de tempo, já se tornou ponto de referência para a promoção da cultura africana — incluindo lançamento de livros e shows de autores e artistas negros. Em Brasília há oito anos, Chirera capitaneou o serviço de alimentação da delegação do escrete nacional da Nigéria durante a Copa do Mundo de 2014. O sonho de criar um restaurante dedicado aos sabores de sua terra natal nasceram ali.

No entanto, o Simbaz não apresenta uma gastronomia nigeriana, senão continental. No cardápio, cada prato traz em sua descrição a origem etnográfica. O yassa (R$ 30,90), carro-chefe da casa, pode ser encontrado em toda a região do noroeste, centro e sudoeste africano. Coxa e sobrecoxa de frango, temperadas em molho rústico à base de cebola, apresentam cozimento à perfeição, com a carne descolando facilmente do osso. De guarnição, há o tradicional arroz jolof, temperado com curry e tomate, e acompanha uma salada ou porção de banana da terra madura frita.

A banana da terra (plantain), aliás, tão bem absorvida pela cultura sul-americana de um modo geral, tem origem africana, está presente de leste a oeste do continente. Aqui, uma boa forma de começar a refeição, ou beliscar com uma cerveja gelada na animada happy hour da casa, vem com os chips da fruta. Fatiados finamente e com ótima crocância, chegam à mesa com mais oleosidade do que o ideal (R$ 10 a porção).

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Ambiente interno da casa: celebração da culinária africana continental
Yassa é o prato mais popular da casa
Fufu feito com farinha de arroz acompanhado de ensopado de quiabo
Típico do rio Niger: tilápia frita com banana da terra
Chips de banana da terra: entrada boa para acompanhar uma cerveja gelada
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Fachada do Simbaz, na 412 Sul

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Ambiente interno da casa: celebração da culinária africana continental

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Yassa é o prato mais popular da casa

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Fufu feito com farinha de arroz acompanhado de ensopado de quiabo

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Típico do rio Niger: tilápia frita com banana da terra

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Chips de banana da terra: entrada boa para acompanhar uma cerveja gelada

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Algo semelhante ocorre com outra entrada, o akara (pelo mesmo preço). O nome não soa estranho. Afinal, essa é uma das formas comumente utilizadas em terreiros de candomblé para se referir ao acarajé (considerando a redundância gerada pelo sufixo “je”, que significa comer, em iorubá). Aqui, o petisco é feito a partir da massa de feijão-fradinho e frito em óleo vegetal (não em dendê, como na famosa receita baiana).

O melhor do menu está relacionado dentre os pratos principais. Com pouco tempo de atividade, o restaurante ainda está para finalizar um menu definitivo, acrescentando sobremesa e importando alguns dos renomados grãos de café africanos. Aposte nas sugestões de Chirera, que atende pessoalmente as mesas com extrema simpatia e muita informalidade. Lugares assim, são ótimos para almoços demorados e confraternizações.

Há uma tilápia frita inteira excepcional (R$ 46,90), crocante por fora, com a carne ainda úmida, e tenra por dentro. O peixe de rio servido desta forma, sob molho levemente adocicado de tomates com cebola e pimentão, tem notório reconhecimento nas regiões da África Ocidental cortadas pelo rio Niger. Acompanha banana da terra madura frita.

No entanto, minha eterna busca quando o assunto é culinária africana surge com um prato que conheci como senegalês (mas também típico de outros países, incluindo a Nigéria): 0 fufu. Originalmente, esse bolinho branco insosso consiste em uma massa homogênea de mandioca fermentada, pilada por horas (ou até dias) até ser cozida e ficar na textura correta — naturalmente, a modernidade desempenhou o papel de adequar as receitas para o signo da velocidade dos dias atuais, permitindo que a receita possa ser preparada de forma menos trabalhosa e mais dinâmica.

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Oka, swallow de farinha de milho com ensopado de espinafre: para comer com as mãos

No Simbaz, esse preparo está na seção chamada Swallow. São bolos massudos feitos de diversas farinhas. O fufu deles é de farinha de arroz (R$ 35), mas é possível solicitar com farinha de mandioca (eba, R$ 30), de inhame (pounded yam, R$ 40) ou a minha predileta (que não está no cardápio), de milho (oka, R$ 40).

Chirera, ou um dos atendentes, leva uma tigela de água para higienização, pois os swallows devem ser comidos com a mão (uma única mão, literalmente, como demonstro no vídeo abaixo). Basta destacar um pedaço da massa, achatá-la com os dedos e mergulhar em um dos ensopados que acompanham. De todos, o mais saboroso me parece ser o de espinafre com carne, generosamente temperado. O okro soup, de quiabo com carne no dendê, semelhante a um caruru, estava melhor da primeira vez que comi (na segunda visita, faltou sal e pimenta mais pronunciados).

O atendimento, embora superatencioso, ainda precisa ser melhor coordenado com o serviço da cozinha, de modo que os pratos cheguem à mesa todos ao mesmo tempo. A informalidade proposta pela casa, naturalmente, minimiza esse efeito negativo. De noite, o ambiente ganha um clima ainda mais descontraído.

Hora de passar pela seção de drinques. Aqui, nada me impressionou. Combinações interessantes, com sabores mais ensolarados, porém, falta mais equilíbrio ao African Sunrise Zobo (R$ 14,90), cuja mistura de hibisco, vodca e hortelã resulta numa bebida adocicada demais. O Simbaz Special (R$ 20,90) me agrada, pois traz mais adstringência com hibisco, laranja, conhaque e pimenta.

Espero que a carta de bebidas ganhe mais atenção, até porque o Simbaz tem tudo para ser um ótimo reduto para a careta noite brasiliense. Uma das propostas da casa é a de incorporar um lounge com jogos no ambiente superior, além de mais shows e iniciativas de dança (como oficinas de kuduro).

Importante o Simbaz ter a plena consciência de que a gastronomia ali praticada é apenas uma premissa da função sociocultural muito maior desempenhada nesta Brasília, ainda muito limitada a modismos e pautada pela cultura alimentar hegemônica, eurocêntrica e com grande influência norte-americana.

Talvez seja este o único restaurante africano com endereço fixo em todo o Distrito Federal. Desejamos que este Dia da Consciência Negra abra mais caminhos para o afroempreendedorismo*.

Simbaz – Culinária Afro e Bar
412 Sul, bloco D, loja 15. (61) 3346-7540. De segunda a sábado, das 12h à 0h. Ambiente interno e externo. Aceita cartões. Inaugurado em 2017.

*Em tempo: ainda na esteira de celebrações do Mês da Consciência Negra, está rolando, até este sábado, a primeira Feira de Afroempreendedorismo do Distrito Federal, no Centro de Economia Popular e Solidária. Ao lado do Conjunto Nacional, o evento conta com exposição de artigos de artesanato, roupas étnicas e opções gastronômicas.

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