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Sabor de Portugal: coma delícias lusitanas aqui no Cerrado

A tradicional culinária europeia tem apetitosos representantes em Brasília e em Goiânia

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Guilherme Lobão/Metrópoles
sardinha
1 de 1 sardinha - Foto: Guilherme Lobão/Metrópoles

Brasileiros não costumam se atentar para a data. Mas o 1º de dezembro consiste em um marco importante no calendário lusitano, quando celebra-se o golpe revolucionário de 1640, também conhecido como Dia da Restauração da Independência de Portugal. A efeméride me levou a fazer um breve retrospecto da tão influente culinária portuguesa em nossa mesa diante da pouco representativa presença de bons restaurantes dedicados a essa especialidade em Brasília – com um bônus em Goiânia.

Em Brasília encontramos pouquíssimos restaurantes portugueses. Sentimos a baixa do Mouraria – uma das casas mais tradicionais, que perdurou por três décadas na 404 Sul até não suportar mais a alta do aluguel e, em 2014, fechar as portas. Houve ainda a crise do grupo Bela Sintra, que manteve por pouquíssimo tempo um elevado padrão de serviço na 105 Sul (e desceu a ladeira depois de tornar-se Trindade, também fechado).

Poderíamos citar como referência alguns pratos típicos produzidos à perfeição pelo chef Francisco Ansiliero no seu Dom Francisco ou o famoso bacalhau do Santana, na Praça do DI, em Taguatinga. No entanto, queremos aqui relacionar os restaurantes dedicados a uma gastronomia portuguesa. Os bons, claro.

Infelizmente, não vou gastar muito tempo falando do Bistrot do Manuel (Lago Norte), pois minha última visita para o jantar à la carte demonstrou que a cozinha precisa de mais atenção. Basicamente, em todos os pratos experimentados faltava sal (peixe dessalgado além da conta tanto na infame punheta de bacalhau como na posta à lagareira). Uma surpresa, diante da reputação criada pelo chef português Jorge Santos desde sua finada Taverna do Infante, na Asa Norte.

Português com algumas notas catalãs e situado no hotel Brasil 21 Convention Suites, o Dalí Camões foi, tristemente, alijado da lista dos bons restaurantes da especialidade para fins desse pequeno roteiro. Era uma casa de serviço exímio e pratos irreparáveis até pouco tempo, um dos mais bem cotados restaurantes da cidade. Ostenta uma estrela do finado Guia 4 Rodas, mas acho improvável que a mantivesse caso fosse reavaliada.

Dalí Camões apresenta serviço muito disperso, frequentemente sem a presença de garçons no salão. Na cozinha, algo desandou. Recebi um paio na Bagaceira (aguardente) completamente ressecado, um bacalhau espiritual (com creme de batatas) faltando tempero e um polvo à lagareiro cozido mais do que o ideal e sem alho.

Espero que ambas as casas deem um trato para reforçar a cena brasiliense.

Dos melhores restaurantes com sotaque português, relaciono – sem realizar um ranking – aqueles em que o ambiente somado ao trabalho na cozinha reverenciam essa clássica cultura europeia. Para isso, elaborei a lista abaixo por ordem de antiguidade, finalizando com uma menção ao Porto Cave, de Goiânia.

Sagres

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Bacalhau à lagareiro do Sagres: um exímio exemplar

É o porto seguro para quem busca uma autêntica culinária portuguesa. A charmosa casa tem inspiração nas tascas do Minho, norte de Portugal, e trabalha com bacalhau gadus morhua, presente na excelente porção de bolinhos, no peixe desfiado em natas (R$ 85) e no melhor lombo de pescado à lagareira da cidade (R$ 102) – assado à perfeição, com abundância de lâminas de alho e azeite extra-virgem de qualidade.

Na entrada, costumo dispensar os bolinhos tradicionais para pedir uma alheira defumada (R$ 48) que só encontro por lá. Embutido clássico composto por carne de aves (embora este leve também coelho), possui uma película crocante (após bons minutos no forno) e um interior quase cremoso. A chef Olga Soares o serve da forma mais típica: apenas com cebolas e azeitonas – nada de fritura.

Sagres reúne uma cozinha superatenciosa com os ingredientes e um ambiente dos mais aconchegantes. Apresenta música ambiente suave, um tanto eclética, mas interessada em passear pelos fados (que na noites de quinta ganha performance ao vivo).

Na carta de doces, utiliza o método popular de apresentação de todos os itens sobre uma bandeja para o cliente escolher. Sou um voraz devorador de doces conventuais. Depois que a confeitaria portuguesa Delícias Lusas fechou, sobra o Sagres fazendo muito bem algumas dessas receitas: papo de anjo (R$ 14), um bolinho levíssimo à base de gema com calda de açúcar; barriga de freira (R$ 12), pastelzinho de hóstia com creme de gemas; e pastel de Santa Clara (R$ 12), uma massa folhada com creme de amêndoas.

Na 316 Norte, Bloco E, loja 24/28. Telefone: (61) 3347-2234. 12h à 0h. Domingo só almoço, até 18h. Fecha segunda. Ambiente interno e externo. Aberto em 1995

Tejo

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Toucinho do céu, um divino bolo à base de amêndoas

Aberto na virada de 2015 para 2016, o jovem estabelecimento nasceu veterano. É que costumamos medir o êxito de um restaurante pela experiência de seu chef, da brigada da cozinha. Nem sempre lembramos do maître. Pois o português Manuelzinho Pires, embora seja agora um restaurateur, é um maître por excelência. Cresceu em restaurantes, principalmente o Antiquarius, no Rio de Janeiro, onde começou como garçom e assumiu a filial do grupo em Brasília, no ano de 2011.

O Antiquarius fechou e ele e a esposa, Natividade Pires, assumiram o comando do praticamente falido Dalí, rebatizando-o para Dalí Camões. Assim, instituíram o perfil português da casa – onde permaneceram até 4 ou 5 meses atrás (talvez motivo central da queda de qualidade do restaurante do Brasil 21).

No Tejo, homenagem à região de origem da alentejana Natividade, Manuelzinho trouxe todo o know-how adquirido em décadas de experiência e o infalível menu que já praticava em parte do Antiquarius e no Dalí Camões.

O restaurante é caro, com uma carta de vinhos pouco acessível (em comparação aos demais portugueses da cidade). Mas a qualidade dos ingredientes e a minúcia no preparo dos itens saltam como característica forte do lugar. O bacalhau é gadus morhua, sem sombra de dúvidas. Bolinho sequinho (R$ 18, a porção com seis unidades) e sopas maravilhosas. Tanto a folclórica sopa de pedra (cortesia) como a de tomate com ovo pochê (R$ 26).

Na etapa principal, há uma paleta de cordeiro à moda de Braga (R$ 115) de lamber os beiços. Assada à perfeição, com a carne ainda firme, porém tenra e descolando do osso, acompanha feijão branco e arroz puxado no molho à base de tomate com um toque de pimenta. Para finalizar, o toucinho do céu é caro, porém, divino (R$ 23).

Na 404 Sul, Bloco B, Loja 27. Telefone: (61) 3264-7005. 12h às 15h e 19h à 0h. Sábado almoço até 16h. Domingo só almoço até 17h. Fecha segunda. Aberto em 2015

Tasca da Vila

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Arroz de pato com paio ao vinho tinto da recém-inaugurada Tasca da Vila

 

Aberto há apenas dois meses na Vila Planalto, portanto ainda precisando de ajustes no serviço e na cozinha, a casa do português João Manoel pratica a culinária informal das tascas portuguesas – algo semelhante a um bistrô com preços um pouco mais acessíveis e propício para se degustar vinhos.

No menu comandado pela chef Yannah Raslan, experimentei uma sardinha saborosíssima. Assada, perfumada com azeite e salsa, suculenta, e guarnecida por uma ótima broa de milho, finalizada com sal grosso (R$ 9,50). De entrada, a alheira da casa é frita e servida com batata e ovo, um método comumente encontrado em Portugal, mas para o qual muitos puritanos torcem o nariz. Dizem eles que alheira não pode ir ao óleo nem romper seu invólucro, muito menos levar batata frita. Bem, o sabor do embutido está no ponto, mas de fato despedaçou-se ao servir.

Na etapa principal, o arroz de pato (R$ 59) apresenta um bom cozimento, no caldo da ave com vinho tinto. Finaliza da maneira clássica: coberto com fatias de paio. E você ainda pode pedir no menu executivo de almoço a R$ 49, com direito a bolinho de bacalhau de entrada e pastel de belém de sobremesa.

Há também um prato chamado Melhor de Dois (R$ 125), que inclui tanto bacalhau como polvo à lagareiro, com batata ao murro, tomate e brócolis. Um peixe de boa qualidade, muito saboroso. O mesmo não se pode dizer do molusco: tentáculos um tanto rijos ainda, apesar do bom tempero.

Na Rua 1, Lote 1, Loja 1, Vila Planalto. Telefone: (61) 99244-1669. 11h30 às 22h, de terça a sábado. Domingo, segunda e feriado só almoço, das 11h30 às 17h. Wi-fi. Ambiente interno e externo. Aberto em 2017

Bônus: Porto Cave (GO)

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Bolinho de bacalhau: sequinho e leve, servido com maionese

 

Compreensível que o agradável português situado numa esquina do Setor Marista tenha sido concebido inicialmente como adega. Esse traço é o mais forte desta tasca comandada por José Pedro Martins dos Santos e sua esposa e chef, Edvânia Nogueira.

São mais de 200 rótulos só de vinhos portugueses, com uma enorme variedade de opções abaixo dos R$ 100. De entrada, há uma sardinha com pimentão assado mais pão (R$ 19) e uma porção de bolinhos de bacalhau leves e muito saborosos (R$ 19, quatro unidades).

Para a etapa principal, o bacalhau entremeado surge como uma das opções que melhor ativa as glândulas salivares: lombo de gadus morhua com batata, cebola, tomate e crosta de alho ao vinho branco e azeite extra-virgem (R$ 174 para dois). O cordeiro ao vinho tinto deixou sobrar muita acidez, talvez precisasse de mais tempo ao forno (R$ 144,90).

As sobremesas estavam em falta quando fui (e a maior parte delas são servidas apenas sob encomenda). Pastel de belém saboroso e servido quentinho (R$ 7,90). Assim que se faz.

Na Rua 28, 210, Setor Marista, Goiânia (GO). Telefone: (62) 3278-2670. 11h30 às 15h e 18h30 às 23h. Sábado, jantar a partir das 19h30. Domingo só almoço. Fecha segunda. Wi-fi. Ambiente interno e externo. Aberto em 2003

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