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Nau esconde protagonismo de frutos do mar em receitas genéricas

O restaurante precisa, por fim, se reconectar ao padrão conhecido da rede e cuidar melhor de sua matéria-prima

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1 de 1 WhatsApp Image 2019-03-08 at 17.14.10 - Foto: Guilherme Lobão/Metrópoles

O fato de Brasília não ser banhada pelo oceano não pode servir como desculpa para uma oferta tão medíocre de restaurantes especializados em peixes e frutos do mar. Mas a dura verdade é que, mesmo com a profissionalização crescente no mercado local, tratamos mal a matéria-prima trazida com tanto esforço e tecnologia de distribuição lá do Atlântico.

Não à toa, o brasiliense tornou-se um consumidor frenético de tilápia e salmão chileno de cativeiro submetido a uma dieta com astaxantina sintética – essa substância é a que confere a pigmentação rosácea-avermelhada ao peixe, cuja absorção natural se dá apenas em mares muito gelados, como os do Alasca e da Rússia, por exemplo.

Nem precisamos entrar na polêmica do salmão. Podemos facilmente desvendar as poucas casas que levam a produção de receitas com frutos do mar: ou se enquadram entre as cozinhas regionalistas do Recôncavo Baiano (Casa de Mainha e Ki-Mukeka, para citar dois bons endereços) ou são as internacionais (New Koto e Kawa, à tradição japonesa; Taypá à moda peruana; e um ou outro prato dos bons restaurantes variados, como o Dom Francisco).

Fora isso, nossa gastronomia litorânea está nas mãos de redes de pescados como Coco Bambu, Rei do Camarão e Nau Frutos do Mar. Aqui vamos desferir uma crítica específica ao Nau, ao meu ver, a mais interessante das três (o que não quer dizer muita coisa).

Cardápio objetivo
O Nau se deixou influenciar pela popularidade, já que se rende também à infame fórmula daquela argamassa de arroz melado em bechamel com batata palha que o Coco Bambu popularizou como “camarão internacional” – aqui chamado de camarão à Nau (R$ 96).

A casa apresenta uma proposta mais interessante que a do principal concorrente, pois mantém um cardápio mais objetivo, permitindo, teoricamente, melhor controle de qualidade e de consistência nas receitas e no serviço.

Guardava memórias interessantes da época da inauguração do restaurante, em 2013. Sobretudo daquela ostentatória e quase sensual chapa de frutos do mar com legumes (R$ 242). Com o tempo, notei primeiramente uma certa queda na qualidade da matéria-prima (sim, um desafio no quesito fornecimento).

Mas, na última vez, o belíssimo prato coroado por três caudas de lagosta demonstrou uma enorme falta de rigor na seleção dos ingredientes e, principalmente, na execução deveras simples do produto final.

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Chapa de frutos do mar com legumes: falta rigor e qualidade da matéria-prima, sobretudo o azeite utilizado

 

Os mexilhões mirradinhos, tristes e acinzentados até que estavam apropriados para consumo, mas uma casa com um bom controle de qualidade não deixaria esses mariscos entrarem na cozinha. O mesmo ocorre com o camarão cinza e o polvo: chapeados além do ponto.

O pior mesmo foi a lagosta. O garçom, prestativo, não conseguiu arrancar a carne do crustáceo da casca devido a um padrão inapropriado de cozimento. Ele logo comandou novos preparos à cozinha. Mas o problema não era mais a cocção e, sim, a acidez intragável do azeite utilizado no preparo da chapa – que certamente não era o mesmo Herdade do Esporão a 0,2% servido à mesa.

O mesmo sabor ostensivo, típico de um azeite saturado ou não extravirgem (acima dos 0,5% de acidez), repercutiria numa segunda visita que fiz ao pedir o sirigado (uma das espécies do popular badejo) refogado com camarões e alcaparras. A esse prato, soma-se a falta de atenção ainda para o corte e cozimento dos legumes que acompanham.

Apesar dos deslizes e uma queda visível no padrão de qualidade, o Nau não naufragou – prometi a mim mesmo não usar esse trocadilho, mas acabo de me sabotar. Primeiro porque o serviço apresenta a eficiência esperada de um pequeno império como esse da rede paraibana Mangai. Há quem não se importe tanto com a comida e fica satisfeito só de sentar-se sob as enormes luminárias em forma de águas-vivas com ampla vista para a Ponte JK.

Do espelho com cordas de marinheiro descortinadas à recepção aos espelhos alusivos a uma embarcação antiga, tudo é muito bem desenhado ao redor das cadeiras confortáveis e da varanda espaçosa. Para mim, nada disso funciona se a comida não estiver brilhando como a estrela da casa.

E isso acontece timidamente. No camarãozinho empanado com gergelim (R$ 58), também servido no bufê do Mangai; e no camarão à grega (R$ 93), receita pedestre, mas que leva um molho de tomate suavemente adocicado sobre o gratinado do crustáceo misturado ao arroz (R$ 96).

Há uma entradinha muito famosa que parece fazer as delícias da maioria. E disso sempre desconfio. Ainda mais se soubermos que os pratos mais solicitados em casas com esse perfil de pratarraz tamanho família são justamente as grosseiras combinações de arroz cremoso, camarão e batata palha.

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Bolinho de macaxeira com camarão

 

Pois o abre-alas mais famoso da casa é um bolinho de macaxeira, moldado em torno de um camarão (nem todos desveinados como deveria) e empanado (R$ 39,90). Boa técnica, mas com textura massuda e sabor sem muita personalidade. Fica bonito na foto.

Cheguei até a sobremesa. E já esperava por aquela cartola indefectível do Mangai, combinando o umami da banana-da-terra com queijo de coalho salgadinho num gratinado sob açúcar e canela. Receita certeira. E muito superior à musse de chocolate da casa, servida em copinho com um creme indecifrável por cima (R$ 27).

Gostei muito do sorbet de cajá produzido pela rede, que compõe uma sobremesa muito bem-apresentada chamada pôr do sol (R$ 28). Consiste na bola do gelado sobre molho de chocolate branco com maracujá, adornado por merengue, crumble de cookie e morango fresco. Pesou a mão no açúcar e matou as nuances cítricas da combinação.

O Nau Frutos do Mar precisa, por fim, se reconectar ao padrão conhecido da rede e cuidar melhor de sua matéria-prima. Quanto àquela maçaroca de arroz cremoso, sei que sempre vai haver público para consumi-la, mas é preciso que alguém lembre: um restaurante que se nivela por baixo nunca vai se fazer relevante.

Nau Frutos do Mar
No Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 2 , Conjunto 41, Orla da Ponte JK. Telefone: (61) 3252-0155. De terça a quinta, das 12h às 15h30 e das 18h30 às 23h. Segunda até 22h. Sexta e sábado, das 12h à 0h. Domingo das 12h às 22h. Wi-fi. Estacionamento coberto gratuito. Ambiente interno e externo. Brinquedoteca. Desde 2013

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