Meat House prepara carnes deliciosas, mas peca nos acompanhamentos
A casa oferece poucas opções para comer ao lado dos gostosos cortes servidos no misto de açougue e restaurante
atualizado
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Um bom assado começa com a escolha da carne. O trabalho do chef de cozinha, portanto, inicia bem antes de acender o fogo ou pisar o alho. Selecionar um gado de fornecedores específicos, de preferência dedicados a uma criação sustentável, é fundamental para garantir a qualidade do produto.
Por isso, sempre me pareceu uma ótima ideia aliar um restaurante a um açougue, a exemplo da Meat House, inaugurada em agosto passado na 116 Norte com uma proposta híbrida de restaurante, empório e casa de carnes.
Nesses seis meses de operação, a casa abriu as portas também para degustações – o que evoluiu a um restaurante especializado em carnes. Associado à modesta adega de vinhos e à enxuta carta de cervejas especiais, o local concentra algumas qualidades raras para a praça de Brasília. Por exemplo: o ambiente informal, com cozinha aberta ao público, e preços razoáveis na hora do almoço.A rigor, o empreendimento insinua-se mais como uma boutique do que um açougue. Afinal, onde estaria o açogueiro? Não se pratica aqui a arte do corte, da desossa, da maturação ou mesmo da charcutaria. A Meat House segue a linha da Chicago Prime e da Viande. Como vantagem de trabalhar com frigoríficos específicos, a maior parte exclusiva na cidade, como o 481.
Temos aqui dois sistemas. Para uma refeição vespertina, o menu apresenta três pratos. Talvez um número muito reduzido para uma casa que ostenta mais de dez cortes nobres só de bovino em sua câmara fria. A outra opção sugere um serviço mais dinâmico, afinal, a ênfase e a prioridade da operação é vender peças congeladas, resfriadas e in natura. Se quiser fazê-lo, reserve antes. A Meat House não trabalha com grandes estoques, até mesmo como forma de garantir a qualidade do produto.
Embora essa seja uma baita característica de respeito, traz consigo grandes limitações. No serviço noturno, de quinta a sábado, o cliente pode selecionar a carne que quiser na vitrine para o chef Bruno Curuja prepará-la na hora. Cobra-se R$ 10 a mais pelo serviço Acompanha alho assado e um molho barbecue pronto que considero dispensável.
Curuja, que conheci quando escrevíamos ambos sobre cinema e cultura pop anos atrás, trilhou uma carreira no mercado gastronômico iniciada como bartender do Outback até assumir a missão de tratar magníficos cortes. E ele se sai muito bem.
Em uma visita, escolhi um prime rib (ancho retirado da quinta vértebra com o osso) de 800g, com belo marmoreio (R$ 99,89 o quilo). Torça para encontrar uma boa peça ainda não reservada. Pode ser que aquele belo tomahawk ou a costelinha suína a passar pela timeline das redes sociais da loja não estejam disponíveis quando se sentar à mesa.
Selado propriamente, com a gordura devidamente renderizada e finalizado com manteiga e tomilho, a carne chegou à mesa devidamente descansada, com todos os sulcos preservados internamente e cozimento uniforme no ponto correto. Aliás, o grande teste para determinar a habilidade do assador não deve ser o de escolher o ponto de preferência, mas sim exigir que seja entregue no ponto da casa. Na mosca.
Outro tiro certeiro veio com o assado de tira (R$ 71,90 o quilo), corte uruguaio transversal à costela envolvendo a parte mais saborosa do contrafilé. Para uma refeição noturna, exige um bom malbec. Arrisquei um Norton Porteño Malbec, na promoção da happy hour (R$ 69), que cumpriu o objetivo embora apresente taninos baixíssimos para a uva em questão.
Entendo o desejo de manter a simplicidade do menu, com poucas opções, mas fiquei surpreso com a falta de acompanhamentos mais leves. Não há uma salada, legumes na brasa ou coisa que o valha. O cliente conforma-se com uma boa farofa de bacon (R$ 9), mandioca que deve melhor cozimento (R$ 15) ou o, inexplicavelmente popular, creme de cogumelo (R$ 15). Campeão de vendas da casa, o purê tem excesso de creme de leite e manteiga, capaz de mascarar o sabor do ingrediente central e tirar toda a leveza possível.
Na hora do almoço, dentre as três opções de pratos (R$ 32 cada), optei pelo ótimo bombom de alcatra, mais uma vez com o ponto rigorosamente respeitado. A carne veio à mesa junto a um risoto de limão-siciliano a dever um grão al dente e muito carregado de parmesão. Outro prato de boa execução, os cubinhos do mesmo corte acompanhavam uma batata sautée bem temperada, mas pouco cozida, coberta por queijo maçaricado.
Dispenso as sobremesas. Cheesecake massuda com calda de goiabada marcada pelo excesso de açúcar (R$ 12) e uma mousse de chocolate também com problemas em equilibrar amargor e dulçor (R$ 12).
No balanço final, gosto da proposta da Meat House. Como boutique de carnes, precisa organizar melhor a logística de estoque e diversificar um pouco mais a oferta. Considerando o restaurante, há uma enorme capacidade em entregar grelhados, mas falta atenção às guarnições.
Meat House Brasília
Na 116 Norte, bloco D, loja 60. Telefone: (61) 3536-9794. De 9h às 20h (almoço das 12h às 16h e happy hour a partir das 18h, de quinta a sábado). Sexta e sábado até 22h; domingo até 15h. Fecha segunda. Wi-fi. Ambiente interno e externo. Aberto em 2017