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L’entrecôte de Paris consegue sucesso com fórmula acertada

Apesar de monótono, pois a casa serve apenas um prato, o restaurante caiu no gosto dos brasilienses

atualizado

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1 de 1 entrecote - Foto: Divulgação

É seguro constatar que um restaurante para se dizer bem-sucedido em Brasília tenha atravessado ao menos cinco anos em atividade com público cativo e um almoço concorrido. No comércio das entrequadras da Asa Sul e Asa Norte, sobretudo, não são muitos negócios a prosperarem para além do marco dos dois anos – quando supostamente começam a sentir o gostinho da bonança. Acompanho desde o primeiro mês que se instalou por aqui a operação da unidade brasiliense do L’entrecôte de Paris (402 Sul).

No início, o frisson novidadeiro da chegada da rede de restaurantes franceses de um prato só a Brasília assegurou um movimento sólido. A provação veio justamente dois anos depois, engolido pelas outras tantas estreias no frenético abre-e-fecha de casas da Asa Sul. Chegou-se a cogitar uma segunda filial (Lago Sul, talvez?), mas o plano não foi adiante.

Quando menos percebo, eis que o L’entrecôte alcança ao sexto ano de atividade, completos agora em março. E com um movimento deveras surpreendente, principalmente na hora do almoço – vocação maior da entrequadra vizinha ao Setor de Autarquias Sul. E a pergunta, que sempre fora a mesma, volta a nos fazer refletir: como um restaurante de um único prato se sustenta em Brasília?

Primeiro há o fator ambiental. Diferentemente da Asa Norte, a Asa Sul tem como característica restaurantes de salões fechados. Portanto, requer investimentos básicos em conforto interno. O L’entrecôte entrega uma boa estrutura, com sofás em cor vinho um tanto confortáveis, paredes de espelho a fornecer a sensação ilusória de maior dimensão espacial e uma avalanche de alusões à capital francesa – como se precisasse de 25 quadros com a Torre Eiffel e uma biblioteca de quadrinhos do Asterix para nos convencer disso.

Há nesta superexposição um efeito de atração que funciona muito bem para o brasiliense. É quase o mesmo fenômeno da lamparina para as mariposas. Acontece com o Outback, com o Madero e, recentemente, com o Lifebox, em Águas Claras. Um olhar crítico, contudo, nos revela que o L’entrecôte de Paris também parece um tanto apertado. Não raro flagramos traseiros esbarrando nas mesas vizinhas e um atendimento nem sempre muito ágil, como o menu permite.

No cardápio, embora você até possa optar comer uma quiche com salada (R$ 39), o motivo real da visita ao restaurante está no prato-título: um bife de 110g (R$ 49), 150g (R$ 59), 180g (R$ 69) ou 220g (R$ 79) regado a um espesso molho secreto à base de mostarda e ervas, guarnecido por fritas. De entrada, incluso no preço, é servida uma salada de folhas com tomate-cereja mais nozes ao molho de iogurte com mostarda. Não dispense a carta de vinhos – há uma oferta muito diversa em taninos e em preços.

Para o imaginário popular brasileiro, a comida francesa considerada superchique e de proporções parcas para alimentar um indivíduo adulto, ganha no L’entrecôte de Paris sua melhor aderência ao signo nacional da abundância. Afinal, embora a fatia de contrafilé servida seja uma só, de acordo com o tamanho escolhido, molho e fritas são repostos à vontade. Afinal, se persiste o mito de os franceses terem inventado a finesse, também se pode relegá-lo a criação da glutonaria – Obelix está aí para não nos deixar mentir.

A salada não me é particularmente boa. Recomendo solicitar o molho à parte, para evitar que as folhas venham muchas de tão encharcadas. Quanto a carne, há uma atenção especial no ponto a ser solicitado (e anotado sobre a toalha de mesa para posterior conferência). Dificilmente vejo a cozinha errar. Aconteceu uma vez em dezembro – mas o que estava eu pensando em ir almoçar na 402 Sul em mês de confraternizações das firmas?

Para a sobremesa, o cardápio que era modesto no já longínquo 2013 ganhou maior vulto. No entanto, os doces estão ainda muito aquém da estatura da confeitaria francesa. O fondant (confundido ou mesmo considerado o genérico petit-gâteau) é servido quente, com interior cremoso, bem correto; o creme brûlé não tem muita personalidade e esconde o sabor da baunilha, embora a casquinha de açúcar estivesse no ponto; e a cheesecake está longe de ser das mais memoráveis da cidade. Resta mesmo o tal prato chamado L’entrecôte de Paris.

A questão é que o público brasiliense, principalmente aquele do almoço executivo, é um grupo de muitos hábitos e poucos riscos: é a carne-de-sol do Xique-Xique, a picanha do Dom Francisco, o picadinho do Fred… Ora, ao final das contas, não importa o tamanho do menu de cada uma dessas casas, que o cliente executivo voltará sempre a um único prato por afetividade, praticidade ou mero costume. Só é preciso acertá-lo. No caso do L’entrecôte de Paris, esta aposta era 50/50. Ou funcionava ou não. Recife fechou, Salvador também hasteou a bandeira branca. Ainda há 10 unidades em operação (fora as muitas em São Paulo e Rio). Pelo jeito Brasília vai bem.

L’entrecôte de Paris
Na 402 Sul, bloco D, loja 9. Tel: (61) 3264-5780. De segunda a quinta, das 12h às 15h e das 19h  às 23h; sexta e sábado das 12h às 16h e das 19h à 0h; domingo das 12h às 16h. Ambiente interno. Wi-fi. Manobrista. Desde 2013

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