Le Parisien é um bistrô francês com espírito brasiliense
A casa faz uma conexão entre Paris e Brasília
atualizado
Compartilhar notícia
Sabe aquele papo de “um pedacinho da França em Brasília”? Acho que chegou a hora de superarmos esse olhar provinciano e assumir toda a característica cosmopolita da capital federal, forjada desde sua fundação, atraindo embaixadas e imigrantes empreendedores. No ramo da alimentação, essa influência ficou evidente lá atrás.
Em 1958, os franceses Roger e Lucette Nöel já mantinham o Nosso Bar, na Asa Sul, que logo depois ganhou roupagem de restaurante fino, o clássico La Chaumière, ainda em atividade na 408 Sul sob as ordens do chef Severino Xavier, o Severin, a quem o casal estrangeiro conferiu o comando. Esse foi – até onde sei – a primeira casa de comida francesa na capital. Ora, sempre tivemos um pedacinho da França em Brasília.
Recém-chegado à comercial da cidade, o Le Parisien Bistrot soma-se a outros cantinhos de ares francófonos. O restaurante pode ser que conte bastante com o atrativo do charme francês, clara intenção dos sócios Maxime Colin e Jeremy Gentilleau, mas percebo muito do espírito candango por lá.
A começar pelo local escolhido: uma entrequadra, virada para a residencial arborizada e ao ar livre. Muito semelhante ao empreendimento “conterrâneo” do outro lado da rua, o Daniel Briand Pâtissier & Chocolatier.
O chef consultor, responsável pela criação do menu e dos processos que o envolvem, também é uma figura já conhecida no mercado local. O paraense-brasiliense Leandro Nunes (ex-Leo e ex-Jambu), vem escolado em cozinha francesa, formado pelo Le Cordon Bleu Paris. Atualmente, comanda a casa o chef Éder Pinheiro. Cardápio bem tradicional, mas obedecendo uma demanda tipicamente brasiliense de pratos para petiscar, a exemplo dos vous-la-vents (tortinhas de massa folhada) e das tartines (torradinhas com coberturas).
Nessas duas seções, encontram-se os melhores abre-alas de uma refeição substancial ou alternativas para ficar petiscando e bebericando. Uma boa baguete para torrada e coberturas com ingredientes de qualidade compõem as cinco opções de tartines. As de que mais gosto são as de salmão curado e as de tapenade com castanha de caju (R$ 22 e R$ 15, respectivamente, a dupla).
Outro prato tradicional, a bouillabaise (ensopado de frutos do mar, aqui com camarão e peixe-branco) apresentou-se irretocável. Pedi a versão de entradinha (R$ 30), reduzida com umas fatias de pão. Opções mais interessantes do que as tábuas de rillettes e terrines. É preciso melhorar técnica e sabor na produção dos “patezinhos”.
Outro ponto fraco foi a salada de pato (R$ 24). Folhas frescas, crocantes, porém com uma geleia de maçã excessiva, que joga contra o equilíbrio delicado necessário ao preparo.
No enxuto menu de pratos principais, a seleção consegue escapar um pouco do classicismo com uma versão dos famosos nhoques de beterraba (R$ 38) que o chef Leandro Nunes praticava em seus antigos restaurantes. Acho criativo, mas não vejo lá muita graça, embora atenda o público vegano.
Prefiro me ater à tradição. Steak au poivre-vert correto, com uma bela porção de batata gratinada com queijo gruyère (R$ 58) – o chef optou pelo contra-filé em vez do mignon. Acho intenso demais para a receita a escolha do corte mais gorduroso. Mas tudo servido no ponto correto, como no meu favorito: peito de pato ao molho diable (uma derivação mais complexa do demi-glace) acompanhado por um aligot aveludado de gruyère mais quejio minas (R$ 72).
Uma boa surpresa fora da curva aparece com a bisteca suína, suculenta, em molho rústico com uma aromática batata salardaise que substitui a tradicional gordura de pato do preparo pela de porco, para fazer mais sentido. Bela combinação e mais em conta: R$ 48.
Sinto falta de uma coxa de pato confitada, de alguma ousadia ou de sobremesas mais rebuscadas (muito embora não façam parte do repertório clássico de bistrô). A lista de doces limita-se a uma torta de maçã, profiteroles, fondant (popularizado como petit-gâteau) e créme brûlée. Este último substitui a baunilha por cumaru, semente amazônica de propriedades gustativas e olfativas semelhantes.
No caso do fondant, preparado com bom chocolate e decorado com um crocante de castanha-do-pará, sinto que fica um tanto pesado ao ser servido com sorvete de pistache. São dois produtos de muita personalidade. Mas há quem considere uma coisa boa – melhor dos dois mundos, coisa do tipo… pode ser.
De volta ao debate lá de cima, pergunto: você quer comer num pedacinho de Paris? Viaje para a França. Mas se quiser encontrar uma gastronomia tipicamente francesa em Brasília, este é um lugar que reproduz bem a sua essência.
Le Parisien Bistrot
Na 103 Norte, Bloco B, Loja 2, (61) 3033-8426. Terça a sexta, das 18h às 23h; sábado das 12h às 23h; domingo das 12h às 16h. Wi-fi. Ambiente externo. Aberto em 2017