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Itália, Arábia e Japão: um passeio pelos restaurantes de Lídia Nasser

O complexo mistura culinárias de lugares distintos com níveis diferentes de qualidade

atualizado

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A trajetória da chef brasiliense de ascendência libanesa Lídia Nasser é única no mercado local. Ela transformou o pequeno empório de produtos árabes da família na Praça do DI em Taguatinga em um complexo gastronômico de 1,5 mil m² com três restaurantes em Águas Claras, que desdobrou-se até o finalzinho da Asa Sul, onde mantém filiais de dois deles: Empório Árabe e Dolce Far Niente. O terceiro, exclusividade do endereço original, é o japonês Mayuu.

 

Estamos diante de um negócio bem sucedido, do triunfo empresarial que tem como carro-chefe não exatamente a comida, mas todo o aparato simbólico e comercial que o envolve. Lídia conseguiu encontrar um lugar que correspondesse à experiência possível dentro da caótica formulação urbanística de Águas Claras. Tudo é galeria e shopping center no emergente bairro de classe média. Ainda este mês, o projeto de Lídia embarca também na onda das hamburguerias com o Dólar Furado dividindo o espaço.

 

Foram ao menos cinco dias de visitas ao complexo para buscar conhecer melhor a proposta, experimentar dos pratos para então me afeiçoar a ele. Lembro-me de quando era apenas o empório transformado em restaurante. Um baita salão, decoração de chita, sofás, almofadas e adornos que remetem ao mundo árabe de modo um tanto genérica.

 

Quando chegou a pizzaria em 2014, parecia um mundo diferente. Ambiente mais sisudo, mais formal e um bom lugar para tomar vinho. Foi quando o Mayuu chegou, ocupando inclusive onde originalmente funcionava a Dolce Far Niente, que Lídia se abriu para a proposta eclética. Um baita acerto foi criar ligações entre cada um dos ambientes.

 

Deu muito certo, embora o atendimento no Mayuu fosse, notoriamente, mais desatento e confuso que os demais. O chef e itamae (sushiman) da casa, Leonardo Bezerra, chegou a me justificar de outra vez que estava num momento de transição para o novo cardápio da casa. A grande vocação culinário-empresarial de Lídia, ao final, continua sendo o Empório Árabe. Vamos passear por cada um dos restaurantes agora.

 

Empório Árabe
Rafael Lobo Zoltar/divulgação
Ambiente do Empório Árabe da Asa Sul, uma réplica de Águas Claras
Não à toa, esta é a menina dos olhos de Lídia Nasser. O empório cresceu, o nome permanece e as receitas caseiras também. Porém, sinto muita inconsistência nos preparos, especialmente, nas pastas: a babaganush já viu dias melhores e já comi homus seco em duas ocasiões.

 

Da vitrine de quitutes, a esfirra me parece um tanto massuda. Quanto ao quibe, é uma coisa muito de receita de casa. Difícil de julgar nesse sentido. Do ponto de vista técnico, estava correto. Porém, menos carne, mais carne, mais seco mais úmido… isso vai depender da família por trás da concepção do prato.

 

Coisas maravilhosas como tâmaras palestinas, castanhas de toda a sorte, figo desidratado fazem do hall de entrada do restaurante uma experiência por si só. Confesso preferir outros empórios árabes, como o Marzuk, o Lagash Mediterranée ou o Arab Sweets (no que se refere à confeitaria).
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turbante árabe: o carro-chefe da casa
vegan arabic: falafel com arroz de mijadra
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Ensopado com cuscuz árabe

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turbante árabe: o carro-chefe da casa

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vegan arabic: falafel com arroz de mijadra

O diferencial do Empório Árabe, contudo, está no cardápio de pratos. Lídia consegue fazer uma boa amostra dos sabores do Oriente Médio, assumir alguns riscos (com pratos mais exóticos para o imaginário brasileiro) e ainda flertar com a cozinha ocidental de influência europeia sem comprometer o conceito étnico.

 

O vegan arabic (R$ 31,90) consiste em uma porção falafel (passando um pouco para além do ideal nas notas de amargor) guarnecida de arroz com lentilha. Mas me chama mais atenção a boa diversidade de pratos com carneiro. Desfiado e misturado a arroz e amêndoas dentro da massa folhada do turbante árabe (R$ 47,90) e o cuscuz ábare (R$ 64,90 para dois). Trata-se de um ensopado de carneiro com linguiça mais carne bovina, grão-de-bico e cenoura, guarnecido de uma porção grande de sêmola soltinha.
 

 Diariamente, das 10 às 0h, na Asa Sul (CLS 215, Bloco A, Loja 3); (61) 3363-3101 e em Águas Claras (Avenida Castanheiras, Lote 1060, Loja 24, Ed. Vila Mall); (61) 3436-0063
 

Dolce Far Niente

Thiago Bueno/Divulgação
Ambiente interno da pizzaria e ristorante Dolce Far Niente: música ao vivo e forno a lenha

 

Quando chegou a Águas Claras, a Dolce Far Niente era uma das poucas casas com forno a lenha e pizza de preparo mais cuidadoso. O problema, para mim, sempre foi a massa. Falta melhor fermentação, menos gosto de farinha e mais acidez.

 

Enquanto servia os discos e vinhos, a Dolce me parecia mais assertiva tanto no atendimento como na produção mesmo dos pratos. Mas era de se esperar desse projeto de expansão de Lídia Nasser que se abrisse para uma experiência mais completa, de ristorante. O grande problema, mais uma vez, está nas massas.
 

Thiago Bueno/divulgação
Cupim com papparelle: serve muito bem duas pessoas, mas não se deixe enganar pela foto

 
Do cardápio novo, provei o pappardelle com um cupim bem macio (R$ 109, serve duas pessoas). Molho muito aguado e que invadia o macarrão supostamente refogado apenas na manteiga com sálvia, conforme promete o cardápio. Se havia, não apareceu. Fosse mais reduzido e temperado, ficaria ideal. Contudo, a massa tem problemas fundamentais. Quebradiça, com sabor de farinha transparecendo, requer ajustes de receita mesmo.

 

No vasto menu, também explorei as pizzas. Gosto da marguerita da casa: correta e sem exageros. Não consegui terminar a pizza mineirinha, sugerida pelo garçom como um dos carros-chefes do restaurante. Pimenta-de-cheio até enjoar e uma linguiça pouco saborosa deixaram má impressão.

 

De terça a quinta, das 18h à 0h; e sexta a domingo, das 11h30 às 15h e das 18h à 0h, na 215 Sul, bloco A, loja 9; Tel: (61) 3345-4267. Na Avenida das Castanheiras, Lote 1060, Loja 24, Edifiício Vila Mall. Tel: (61) 3254 2263. Estacionamento com manobrista. Wi-Fi. Ambiente interno. Desde 2014

 

Mayuu

 

No MaYuu, a pegada de sushibar é daquelas que não me agrada, como gosto de lembrar sempre. Cream cheese pra lá e pra cá, excesso de teriyaki, abuso do maçarico e do azeite trufado. Para se conseguir comer bons sushis em Brasília, precisamos olhar para a qualidade dos insumos e para o nível técnico do itamae e da brigada. Isso o MaYuu entrega.

 

Conseguir desviar-se dos pavorosos atuns selados e dos gunkans com gema de ovo de codorna maçaricado é a grande habilidade a se desenvolver. Por princípio, em casas abertas à experiência do omakase (algo próximo ao menu confiança), costumo aderir sempre com a expectativa de que a cozinha me surpreenderá com sabores nítidos, delicados ou mesmo ousados, mas sem ser piegas. Coisa rara de se ver.

 

O MaYuu, provavelmente, se apresenta como a melhor opção para a cozinha fria japonesa na região. Os pratos quentes, entretanto, decepcionam: peixe fora do ponto, yakissoba pouco temperado, sem graça… do novo menu, provei as vieiras (R$ 48,90, quatro unidades).
Thiago Bueno/divulgação
Vieira no fogo: muito ingrediente mascara o sabor delicado do molusco
Quanto excesso para encobrir o suave e adocicado gosto do molusco! Servidas sobre cama de mandioquinha e com uma espécie de pesto de ervas mais ovas de massagô, as vieiras apresentam bom cozimento, mas é tanta informação e sabores juntos que o ingrediente mais nobre (e caro) desaparece do paladar.

 

De sobremesa, provei uma dessas lambanças gerais que mistura quente e frio: uma banana empanada com sorvete e muito chocolate. Superdoce, sem equilíbrio de texturas. Não havia no dia, mas voltaria para provar a tal esfera shenlong, uma bola de chocolate com creme de wassabi e algum “mix surpresa”.

 

De segunda a quinta, das 18h à 0h. De sexta a domingo, das 11h30 às 15h30 e das 18h à 0h. Na Avenida  das Castanheiras, Lote 1060, Loja 24, Edifício Vila Mall. Tel: (61) 3382-0927. Estacionamento com manobrista. Ambiente interno. Wi-fi. Desde 2017

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