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Ilgiorno inaugura novo momento da gelateria profissional do DF

Sorveteria refresca o cenário gastronômico brasiliense com bons gelatos e sobremesas

atualizado

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Guilherme Lobão/Especial para o Metrópoles
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1 de 1 ilgiorno1 - Foto: Guilherme Lobão/Especial para o Metrópoles

Devo ter dito alguma vez por aqui que me recordo com certa nostalgia – e deliberado prazer – das colheradas cheias que desferia na banana split da sorveteria Palato na Asa Norte ou nos sundaes da lojinha da Kibon na Rua das Farmácias.

A produção de sorvete em Brasília só atingiu status profissional nos anos 1990, com a Saborella, esta icônica marca local que poderia se tornar referência em gelateria em qualquer lugar do mundo. Daniel Briand, nesse período, também começara a produzir seus sorbets de forma natural, sem artifícios de coloração ou saborização. O mesmo fizeram a Sorbê, com um diálogo mais estreito com ingredientes locais, e o Sorvete da Torre, de modo artesanal, porém sem a técnica italiana que cristalizou-se como a mais acurada universalmente.

No Distrito Federal, a sorveteria está embarcando em nova fase, depois de um interessante boom de lojas da especialidade, de Sobradinho a Gama, que inclusive ranqueamos no ano passado.

De todas elas, poucas se destacariam em nível de excelência próximo ao da Saborella ou da Fabrizzio Gelato Italiano. Embora apresentem qualidade superior aos sorvetes carregados de gordura, estabilizantes e açúcar que moldaram minhas memórias de infância, houve certa estagnação em termos de apuração técnica.

Guilherme Lobão/Especial para o Metrópoles

É por isso que percebo em 2018 o início do tal momento novo para este segmento, com lojas que elevam a altura do sarrafo e aquecem de forma muito positiva a concorrência.

A Ilgiorno Gelato seguramente surge como primeira da leva a refrescar o cenário gastronômico – em seguida apareceriam Matteo Gelato Criativo e Cremeria Italiana, com conceitos renovados e ideias instigantes.

Mas vou me deter na Ilgiorno por agora. Em um ambiente bem-decorado e confortável em uma das não esquinas de Brasília, a casa apresenta-se com muita segurança ao menos no aspecto da linguagem. É sempre importante, mas só funciona se o produto ou serviço estiver à altura do discurso.

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Ao ostentar em lettering de giz, à moda das cafeterias hipsters, seus argumentos “sem gordura trans” ou “ingredientes naturais”, consegue uma imediata consonância com a ética da alimentação responsável – algo sempre em risco, vulnerável aos sabores do Congresso e do Planalto.

Uma paletada por entre os lábios e logo é possível constatar a validade da narrativa. Percebe-se todo o azedume da seriguela (um dos sabores sazonais, em vigor neste momento), a crueza ressequida do umami do gergelim-preto (outra receita incidental) e o resquício granular do pistache, da framboesa e da amora. O pote pequeno (ou casquinha artesanal, produzida ali mesmo) sai por R$ 12, podendo comportar até três sabores.

Faria algumas ressalvas pontuais à manutenção da temperatura das cubas – talvez o maior desafio do sorvete em varejo. O sorvete de caramelo salgado, um dos orgulhos do menu da casa, já me aparecera com excesso de cristais e, da última vez, foi servido quase que derretido. A textura, afinal, é tão importante quanto o equilíbrio do dulçor para a experiência do sorvete.

Guilherme Lobão/Especial para o Metrópoles

Na Ilgiorno, para além da produção dos gelatos, há um expressivo cardápio de sobremesas completas, algo comumente ignorado pelas sorveterias – a não ser aquelas bizarrices da Stonia e self-services gulosos, que desconsideramos para o propósito da boa degustação.

A sorveteria não está alheia às modinhas. Coisa que me irrita, mas vamos lá jogar o jogo do comércio. A primeira escolha, por sugestão da garçonete, foi a esfera de chocolate branco (R$ 29). É aquela bolona oca de chocolate a encher os olhos, mas que logo desmorona ao derramar da calda quente servida em movimentos circulares. Ao final das contas, todo aquele trabalhão de temperar o chocolate e moldá-lo como esfera vai para o ralo, porque desmancha e se mistura a tudo o que há no prato, ficando apenas um sorvete fora de temperatura com uma megalambança de calda de chocolate.

Por outro lado, a torta de nozes com caramelo à base de uísque Jack Daniels com castanha-de-caju acompanha um bolona de sorvete (R$ 19). E é assim que se serve uma sobremesa decente.

Em certa medida, o trabalho que encontramos na Ilgiorno, embora exemplar, não é o que podemos tentar caracterizar como “o melhor sorvete de Brasília”. As variáveis são muitas e acho que a Saborella segue imbatível. O certo é que esta nova geração, que frui de uma sorveteria muito diferente daquela que conheci nos anos 1980, deverá ressignificar o imaginário do sorvete quando ele se tornar uma memória afetiva de infância.

Ilgiorno Gelato
113 Norte, Bloco A, Loja 1/5. Telefone: (61) 3203-4608. De terça a domingo, das 12h às 20h30. Ambiente externo. Wi-Fi. Desde 2018

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