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Entenda por que o Outback é um sucesso em Brasília

Há méritos na casa que, com várias unidades, vive sempre lotada

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junior ribs
1 de 1 junior ribs - Foto: Divulgação

A Brasília da Churrascaria Paranoá, do Espeto de Ouro e do churrasquinho se modernizou e se globalizou. A medida do churrasco agora é representada pela tradição gaúcha, a porteña, a americana e até mesmo a francesa. Pude tratar de quase toda essa diversificação do comércio carnívoro local, mas, até então, não havia dedicado um tempo para refletir sobre um dos modelos mais influentes da cultura gastronômica brasileira de hoje: o das steakhouses.

Entre eles, sem dúvida, o Outback é o que melhor simboliza, neste momento, o processo de americanização do serviço de carnes, o barbecue. Não foi, naturalmente, o pioneiro. Antes dele, outras tantas franquias do Tio Sam tentaram e fracassaram na aridez do Cerrado. O T.G.I. Friday’s me parecia uma promessa dourada, com os atendentes atenciosos. Por mais tempo, a Roadhouse rivalizou com maestria também ali na região do Pier 21. Em comum, ambas serviam as costelinhas suínas ao bbq (barbecue).

Tão grande foi o gosto do brasiliense pelo molho adocicado e defumado à base de tomate e açúcar mascavo, que esse prato hoje figura em qualquer self-service e botequim, sem importar a bandeira regional ou nacional defendida. Depois, vieram os generalistas locais: Capital, Detroit, American Prime… Absorveram o know-how, mas sofrem com dificuldades de manutenção do padrão de serviço e cozinha.

O Outback chegou arrasando em um mercado em decadência – consequência provável da crise norte-americana de 2008, que fez afundar grandes e até então sólidas redes internacionais. E veio com tanta força a ponto de atrapalhar futuros possíveis planos de expansão da Applebee’s e da Longhorn.

Assim, a pergunta que se impõe (a que se deve tanta fama?) não pode ser respondida com tanta simplificação, mas se deve sobretudo ao projeto de expansão internacional de sucesso. Diferentemente das demais concorrentes, o Outback explora um novo sentido, narrativamente falando. É menos careta que as outras e propõe a exótica temática australiana, libertando-se em certa medida da cafonice dos saloons alusivos ao Velho Oeste.

Pois o modelo do Outback tem funcionado, vide a expansão: unidades no ParkShopping, no Iguatemi Shopping, no Pier 21, no Venâncio, em Águas Claras. São muitas e sempre muito lotadas. Tente chegar para o happy hour em qualquer uma delas uma hora depois de o serviço iniciado. Você pegará uma enorme fila de espera.

Enquanto isso, há trânsito muito suave em casas de carnes muito superiores em termos de qualidade de ingredientes, consistência de serviço e ponto de cozimento, como Toro, Chicago Prime etc. O que faz tanta diferença para que o Outback arranque o público desses estabelecimentos mais personalizados, digamos assim, e opte pelo serviço generalista da franquia americana? Certamente, há méritos ali.

Tudo bem que há processos mecanizados no Outback, que garantem certa consistência entre uma loja e outra. Caso das bloomin’ onions, a cebola gigante fatiada em pétalas e empanadas numa mistura secreta de temperos, com um bom grau de picância. Às vezes, estão mais ou menos oleosas. No geral, contudo, a cebola permanece um sucesso retumbante, capaz de se fazer suficiente para trocar em miúdos durante o papo e as canecas de chope semicongelado – outra pista da popularidade inabalável da rede.

Mas há nos preços do Outback e no conforto reservado, apesar de barulhento, um outro motivo para justificar essa popularidade. Incrustou-se, no imaginário da classe média brasiliense, o caráter acessível financeiramente dos produtos ali servidos. O Outback favorites, que considerei uma bola dentro, infelizmente saiu do menu. Era como aqueles pratarrais de entrada do Friday’s com um sample de cada acepipe.

Desses, há o tal de firecracker shrimp nachos, que apresenta os camarões muito bem cozidos numa maionese um tanto excessiva. Mas cuja picância não envergonhada eleva o sabor a uma instância pouco explorada na cozinha nacional (ainda que reproduzindo a internacional).

Os rubs (misturas de temperos secos) do Outback também me parecem muito acertados, embora apareça aquele retrogosto de tempero industrializado ao final. Por isso, quando passo pelo menu de carnes grelhadas, prefiro optar pela chama aberta, como se apresenta o rib-eye (ancho ou contrafilé). Carne angus de boa procedência e um cozimento invariavelmente correto, com boa selagem, porém pouco descanso (R$ 61,90, com acompanhamento, que costuma ser, para mim, o purê com alho).

Por outro lado, devido a sua dependência crônica da aprovação popular, deve profundidade, ousadia e mais sabor. Veja as sobremesas da casa: um carnaval de caldas, cremes, sorvetes, misturados com chocolate, caramelo etc. Não há qualquer sutileza. É como os tenebrosos grand gateaus do Paris 6, uma mistureba de elementos adocicados, com uma ou outra textura, mas que abusa do poder viciante do açúcar para convencer o cliente a consumi-la. Viram o novo “hambúrguer” de brownie? O horror! O horror!

Definiria o Outback como aquela banda de rock de arena com um par de riffs canonizados, sendo esses a cebola frita e a costelinha ao barbecue (R$ 52,90). Valorizo mais aquela energia mais minimalista, com uma estética mais embaralhada, provocativa, que talvez possamos encontrar nessa carne grelhada em chama aberta, ou nos camarõezinhos crocantes lambuzados em molho picante. Talvez.

Porém, diferentemente de um conjunto musical de sucesso, o ostracismo é um risco sempre a se considerar. Na fonte, lá nos EUA, a indústria alimentícia já se preocupa com os atuais efeitos da geração millenial, que agora alcança maturidade e independência (financeira ao menos). Segundo reportagem de Bijan Stephen, publicada no site norte-americano Eater há um ano, seriam os millenials a principal ameaça de cadeia de restaurantes casuais. O Applebee’s estaria por um fio. E o Outback teria lá na frente um destino semelhante, embora em Brasília ainda surfe na crista da onda, ovacionado pelos fãs, ávidos por um assento na arquibancada.

Outback Steakhouse
No Iguatemi Brasília (Lago Norte), no ParkShopping (Guará), no Venâncio Shopping (Asa Sul), no Pier 21 (Setor de Clubes Esportivos Sul) e  no DF Plaza (Águas Claras). Das 11h30 às 15h e das 17h às 23h. Sexta e sábado sem intervalo de 11h30 à 0h; domingo sem intervalo das 11h30 às 22h30 

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