Descubra o que você não pode deixar de comer em 2018
O boom da gastronomia brasiliense em 2017 promete um novo ano cercado de novidades e pratos deliciosos
atualizado
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Comida. Comida boa. Comida incrível. Comida memorável. Se for para uma resposta curta e grossa, essas seriam as possíveis conclusões acerca da pergunta do título. Pensar sobre 2018 exige uma breve retrospectiva de 2017 para entender o cenário gastronômico que se apresenta a Brasília neste novo ano, guarnecido de uma lista de desejos.
Em 2018 ainda quero comer hambúrgueres
Resistirão, imagino, aqueles lugares que conseguem transcender o modismo. O Parrilla Burger, com ótimos produtos e um atendimento a ser melhorado, e o Páprica Burger, com sua recém-inaugurada loja no Setor Hoteleiro Sul e um projeto de expansão para Águas Claras, deverão seguir firmes. Do mesmo modo o Madero, com a estabilidade de sua grife nacionalmente consolidada.
Quanto ao Geléia, surfando na crista da onda abrindo várias lojas e diversificando o negócio, precisa urgentemente reforçar o controle de qualidade de seus produtos. Começa a haver muita inconsistência entre um estabelecimento e outro (sobretudo nos food trucks).
Em Águas Claras, o Cumarim segue firme e forte. Veremos se a loja aberta na Asa Sul conseguirá desencantar com a voraz concorrência da região. Na mesma área, há o Secreto começando a se popularizar também. Taguatinga, que conseguiu crescer um pouco nessa modalidade com o Carcará, o Singelo, o Bullrger, ainda tem espaço para ampliar a oferta.
Das novíssimas hamburguerias, o Ricco Bar, da chef Renata Carvalho, me parece uma bela promessa, pela agilidade no serviço, a ambientação e, claro, a comida. Ainda é muito cedo para uma avaliação mais profunda. Voltaremos a ele neste novo ano. E há uma grande expectativa para a unidade brasiliense da grife carioca B, de Burger.
Carne, aliás, seguirá em alta no próximo ano, talvez na contramão do mundo – cujo consumo tem sido mais ponderado e ético. Deixo essa importante polêmica aqui para refletirmos muito sobre ela em 2018. Estabelecimentos recém-inaugurados, como o Cowtainer (Píer 21), Meat House (Asa Norte) e o Caminito Parrilla (SIG) apontam para uma estabilidade enorme do segmento. Estarei aqui para problematizá-la.
Em 2018 quero comer novas culturas
Algo de muito significativo ocorreu em 2017 no mundo: um crescimento exponencial da culinária de imigrantes, muitos dos quais refugiados em busca de asilo. Esta coluna inaugurou reconhecendo este momento na figura do Yalla Falafel. Lanchonete árabe vegana, com ótima comida e uma história de superação das adversidades da guerra civil na Síria.
Brasília ganhou seu primeiro restaurante africano. No Simbaz, podemos fazer uma volta por alguns dos principais pratos do continente, com ênfase na culinária do oeste, da Nigéria e do Senegal, sobretudo. Também encontramos um movimento diaspórico representado pelo Ewè Etnogastronomia Bistrô, na Asa Norte. Que o afroempreendedorismo aconteça pra valer na gastronomia de 2018!
Elaboro, neste momento, um pequeno roteiro do lámen (ou ramen) em Brasília. Tarefa quase impossível, uma vez que há uma única casa especializada no preparo do mais popular prato da culinária japonesa, a Katsu Lamen House, em Águas Claras. No Sudoeste, o Gomeon dedica espaço no seu menu à receita e o Yuzu-an já realizou festivais temáticos.
Mas para 2018, o chef Christiano Komyia também começará a servir esta famosa sopa de macarrão no novo estabelecimento desenhado ao lado do seu New Koto. E esperamos que o pessoal do Coma no Jardin retome suas reuniões mensais regadas a macarrão e caldo japonês.
Também cresceu a oferta de indianos, uma categoria superpopular no mundo inteiro mas que ainda engatinha em Brasília, bem como demais cozinhas asiáticas, a exemplo da tailandesa, da sul-coreana e da chinesa não pasteurizada. 2018 se abre para sabores mais picantes.
O próximo ano tem asfaltado ainda caminho para uma nova tendência dessas importadas de São Paulo e de Miami. Advindo do Havaí, o poke já pode ser encontrado em algumas lojas de delivery e físicas. Será mais um desses modismos passageiros que não se sustentarão por muito tempo. Lembra muito a onda dos temakis, por serem casas baseadas em um produto único de uma cultura riquíssima – mas estrategicamente não explorada justamente pelo modelo efêmero.
Em 2018 quero beber bem
Em 2017, tivemos o ano das cervejas artesanais. Ampliou-se a oferta da produção regional, e as tap houses (aqueles bares com chopes em torneiras) consolidaram a melhor forma de se experimentar bebidas das mais diversas, com uma temperatura bem controlada. Falamos do velho Santuário aos mais recentes, I Love Beer, Taverna e Cervejaria Criolina, por exemplo. E a microcervejaria Máfia Beer, em São Sebastião, agora abre aos sábados para visita de clientes e degustação. Belo passeio cervejeiro.
Mas para onde você vai quando o assunto é coquetelaria? Logo penso em restaurantões, nos quais despejamos as economias do mês com a finalidade de beber bem. Um dry martini rigorosamente equilibrado não está em qualquer esquina. Dificilmente encontramos bares que ofereçam um serviço minimamente profissional no preparo de drinques.
Fui surpreendido pelo trabalho do Empório Iracema e preciso voltar ao Bambambã, uma biboquinha também na Asa Norte, com bons preços e drinques. Espero que os nossos bares invistam em bartenders, embora a tendência seja ainda do crescimento das casas de cervejas especiais.
Em 2018 quero mais criatividade no prato
Sei que vocês adoram filé com risoto. Mas vamos trabalhar para um 2018 com mais diversificação, ousadia e sabor? Refiro-me, sobretudo, aos restaurantes ditos contemporâneos. Em 2017, surgiram alguns genéricos, porém esforçados, na Asa Sul: o Noah, o Contê e, também, O Contemporâneo (vindo de Águas Claras), ocupando o lugar deixado pela saudosa Villa Borghese.
As melhores sacadas deste ano estavam em quem buscou fugir do ordinário. O Saveur Bistrot, por exemplo, e a segunda casa do chef Thiago Paraíso, Ouriço (ainda devo uma visita rigorosa para avaliá-lo). Em Goiânia, fui assaltado pelo exímio trabalho da brigada de Ian Baiocchi, no Íz Restaurante – recomendo a visita.
Para 2018, espero que o chef Marcelo Petrarca, hoje um dos mais badalados da cidade, me apresente algo mais instigante em sua nova casa, batizada minimaliscamente de Lago, à qual devo prestar uma visita nos próximos meses. O Bloco C tem lá seu público fiel, mas não vejo todo o potencial do seu comandante ali. O Inverso Restaurante Contemporâneo, com cardápio assinado por ele no hotel Blue Tree Jade, foi uma grande decepção, da entrada à sobremesa.
A criatividade, contudo, também está nas mãos das iniciativas autônomas. Devemos ver muito mais delas acontecendo no novo ano, com aumento das feiras gastronômicas de rua e da pulsão criativa dos pequenos empreendedores, caso do chef Gustavo Maragna, com seus chocolates de origem Brass; ou também com o promissor Kombinado Comida de Rua, do chef Carlos Jacinto. Importante sempre ficarmos atentos ao que surge de novo na Quituart ou no Chef nos Eixos.
Em 2018 quero exercer meu direito à cidade
A baixa da vez na noite brasiliense de 2017 foi o Martinica – talvez os esforços envidados pelo público cativo evitem o encerramento permanente das atividades no tradicional endereço da 303 Norte. Um ponto de encontro dos mais legais que já tivemos sofre há alguns anos com a crise econômica, mas também com a reconfiguração do comércio local, tanto em um novo conceito de cafeteria (focada no serviço especializado de barista e grãos selecionados) como no endurecimento das relações com vizinhança e poder público.
Estamos falando, claro, da Lei do Silêncio, cuja nova redação encontra-se empacada na Câmara Legislativa e que, enquanto não se renova, vai emudecendo gradativamente a nossa cidade. O Pardim desistiu de suas tardes de samba em função disso. O Pinella e demais vizinhos do Baixo Asa Norte não suportam mais multas.
Alguém desligou o som.
Mas fecho 2017 com esperança renovada no empreendedorismo de guerrilha dos nossos brasilienses. Emocionei-me com o relato do Lucas Hamu, da Objeto Encontrado. O empresário peitou um movimento absurdo, desumano, do condomínio onde mantém o seu estabelecimento, que previa cercear a liberdade de ir e vir de vendedores ambulantes e de pessoas em situação de rua.
O ato de comer se traduz também em uma expressão de cuidado. É gesto de afeto. Desejo, assim, um 2018 com uma gastronomia com mais sabor e alteridade.