metropoles.com

Árabe vegano faz comida boa sem invencionice, respeitando as tradições

Aos quatro meses de operação na 208 Sul, o Yalla Falafel ajusta seu funcionamento, procurando se adequar à rotina brasiliense

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles
Yalla Falafel
1 de 1 Yalla Falafel - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Duas coisas me chamaram atenção quando ouvi que Brasília acabara de ganhar uma casa vegana especializada em sanduíches de falafel: vegana e falafel. Imediatamente precisei conhecê-la. Não apenas pela particularidade da proposta de uma culinária livre de matéria-prima animal, mas porque nunca entendi como algo tão popular quanto o famoso bolinho frito de grão-de-bico não protagonizava nenhum estabelecimento de acento árabe na cidade.

Aos quatro meses de operação na 208 Sul, o Yalla Falafel ajusta seu funcionamento, procurando se adequar à rotina brasiliense. Almocei lá duas vezes. Na terceira visita, o encontrei fechado. O horário mudou (de segunda a sexta ao menos) para de 17h às 23h — não vendia bem no almoço, justificou o atendente. Uma pena. Não por que faltem opções árabes na cidade para um repasto de meio-dia — a oferta, ao contrário, é enorme. Mas não é tão comum comer bem pagando relativamente pouco, ainda mais em uma refeição vegana.

Onívoros, não se assustem com a pecha nem torçam o nariz. Vegano também é gente e merece receitas mais genuínas do que apenas adaptações do universo carnívoro, como hambúrgueres e coxinhas. Aqui, o menu se apoia em preparos típicos da Síria, sem invencionice, mas com apuro técnico e respeito aos ingredientes.

O Yalla não abraça o veganismo como causa. Na verdade, surgiu de necessidade elementar. Antes de pedir refúgio ao Brasil, o proprietário, Bashar Sabbagh, e seus primos cozinheiros, George e Sami Al Nameh, não estavam acostumados a consumir muita carne na vila síria de Marmarita devido à crise financeira. Ali, falafel era a dieta básica e carne era muito caro. “Lá você encontra duas lojas do preparo a cada quadra”, diz George em ótimo português, traduzindo Bashar.

Como uma das cozinhas estrangeiras de maior popularidade no nosso país, a culinária árabe encontrada em Brasília é formada essencialmente por receitas de imigrantes sírios e libaneses, que nos mimaram com suas esfirras, quibes, caftas, tabule e toda uma fartura e variedade de produtos importados (das tâmaras ao maravilhoso halawi, aquele doce de gergelim de origem persa).O falafel era mero coadjuvante.

Rafaela Felicciano/Metrópoles
O falafel é a estrela do restaurante

 

Esta casa corresponde a um novo momento. Agora não mais os imigrantes empreendedores de décadas atrás, mas jovens refugiados em busca de condições mais humanas para estudar, trabalhar, enfim, viver. Embora conscientes de que a operação serve a um nicho crescente em demanda por opções veganas, o Yalla pode se dar mais crédito dentro da forte concorrência do segmento étnico no qual se insere. Aqui, por exemplo, você corre o risco de experimentar a melhor babaganush da cidade (ou mutabball, porque a pastinha fica mais aveludada).

O ambiente não é, à primeira vista, dos mais agradáveis, embora prime pela limpeza. Uma fachada verde-clara com a entrevisão de um salão apertadinho mostra duas refresqueiras de lanchonete e um aparador com cubas de ingredientes em conserva que remetem a uma pouco exitosa loja de frozen yogurt. Meu conselho: supere a primeira impressão e o atendimento cortês, porém, amador (conduzido pelos próprios primos-cozinheiros). Uma ótima recompensa te espera.

Ao sentar à mesa, às vezes após longa espera, o cliente é recepcionado com uma cortesia de legumes em conserva (repolho, beterraba, cenoura), que por duas vezes estavam excessivamente carregados no sal. Mas logo outro mimo vem à mesa: chá-preto servido em um charmoso copinho de vidro com pires.

5 imagens
Falafel vem à mesa com vários acompanhamentos e pastas
Ambiente simples e comida gostosa
Falafel em diferentes versões: bolo frito e sanduíche
Yalla Falafel: vale a pena conhecer
1 de 5

Mapa mundi decora o Yalla Falafel

Rafaela Felicciano/Metrópoles
2 de 5

Falafel vem à mesa com vários acompanhamentos e pastas

Rafaela Felicciano/Metrópoles
3 de 5

Ambiente simples e comida gostosa

Rafaela Felicciano/Metrópoles
4 de 5

Falafel em diferentes versões: bolo frito e sanduíche

Rafaela Felicciano/Metrópoles
5 de 5

Yalla Falafel: vale a pena conhecer

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Enfim, encontramos no Yalla uma vertente rara dentro da genericamente chamada culinária árabe. Aqui o falafel reina. A massa desenvolvida pelo trio durante seis meses antes de abrir o negócio consumiu quase 100 quilos de grão-de-bico só em testes. O resultado surge com um bolinho levíssimo, feito ao pedido com a ajuda de um molde que o deixa num formato semelhante ao de uma rosca.

Peça-o de todo jeito: em porções com suave molho tahine finalizado com sumac (R$ 8,50, a pequena; R$ 32,50, a grande) ou nos sanduíches de pão sírio com homus (aqui chamado de musabbaha) pepino, picles, alface, tomate, ervas, tahine e sumac. Os preços variam de R$ 12,50 (o pequeno) a R$ 32,50 (o imperador grande, em porção suficiente para compartilhar entre três).

Para uma experiência completa, vá em grupo e divida a chamada Mesa (de R$ 61,50 para duas ou três pessoas; R$ 99,50, para três ou quatro; e R$ 124,50, para um batalhão). Este item inclui falafel, sanduíche, pastinhas, uma porção de fava cozida (que merece um ajuste no tempero um tanto insosso), pão sírio tostado com zátar e outro recheado com murramara, uma viciante pasta de tomate, que por si só vale a visita.

Yalla Falafel
Na 208 Sul, Bloco A, loja 34. (61) 3797-7428. 17h às 23h. Sábado e domingo a partir das 11h. Wi-fi. Ambiente interno e externo. Aberto em 2017

Nota: Por falar em cozinha de refugiados, faça a si mesmo um grande favor e dê um pulo em Pirenópolis no próximo fim de semana (14 a 17 de setembro), para acompanhar a oitava edição do Slow Filme — Festival Internacional de Cinema e Alimentação, cujo tema será justamente a culinária que nasce em solo estrangeiro a partir de gente em busca de asilo para fugir de guerra e outras mazelas. E não, não ganhei nada para falar sobre esta iniciativa. Falo por experiência própria apenas.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?