Toshio Nakamura, ícone da educação no DF, volta ao Galois após 10 anos
Docente de matemática retorna à escola para, agora ao lado do filho, lecionar a disciplina que o fez ser conhecido em todo o DF
atualizado
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Você pode não ter tido aula com ele, mas, provavelmente, alguém próximo a você teve. Professor de matemática há quase 35 anos, Toshio Nakamura certamente é um dos mestres mais conhecidos de Brasília. Desde 1982, época em que começou a lecionar no Distrito Federal, aproximadamente 200 mil estudantes já passaram pelas salas de aula dele. A facilidade que o matemático possui para ensinar a matéria, considerada uma das disciplinas mais complexas da grade curricular, encanta gerações.
O bancário Luismar Vieira Machado, de 52 anos, faz parte desse grupo. Na década de 1980, foi aluno do matemático no curso pré-vestibular do antigo Colégio Objetivo. “As aulas aconteciam em auditórios lotados, todo mundo vibrava. A didática era maravilhosa e os alunos ficavam muito motivados”, lembra.
Trinta e dois anos depois, e por uma dessas manobras deliciosas do destino, quem vai ter aula com o famoso professor será a filha de Luismar, Isadora, de 16 anos, que irá cursar a segunda série do Ensino Médio no Galois. Isso porque depois de quase dez anos afastado, o mestre Toshio está de volta à escola onde lecionou entre 1996 e 2007.
O retorno à casa tem um sentimento ainda mais especial. O mestre será colega de trabalho do filho mais velho, Pedro Nakamura, que também leciona matemática na escola e graças ao pai foi conquistado muito cedo pela área de exatas.
Com apenas quatro anos de idade, ele brincava de fazer contas com as horas e, aos oito, já realizava cálculos de porcentagem. Durante a adolescência, aprendeu toda a disciplina assistindo às aulas de Toshio no pré-vestibular. “Sempre tive uma vontade muito grande de trabalhar ao lado dele. Agora, recebi essa notícia maravilhosa, que é um presente para mim”, conta.
Cada um terá uma frente de trabalho específica no ensino regular e no preparatório para a UnB e, juntos, irão preparar um atendimento especial para alunos que têm alguma dificuldade com exatas. O projeto ainda está em fase de planejamento, mas será ofertado ainda neste ano pelo colégio.
Para os Nakamura, o segredo da disciplina consiste em um trabalho de persistência e de autoestima. “Não tem mágica. Você precisa ensinar o aluno a pensar e fazê-lo compreender que precisa exercitar o que aprendeu. Quando ele consegue resolver exercícios sozinhos, se sente o máximo”, explica Toshio.
Outro mestre que é fã assumido de Nakamura é o ex-coordenador do curso na UnB, Lineu Neto, que leciona matemática na universidade desde 1998. Ele conta que chegou a entrar como penetra em um colégio para assistir a uma aula de Toshio, devido à fama do professor. Depois, se matriculou no Bernoulli, escola que seria o embrião do Galois, só para ter a oportunidade de ser aluno dele, mesmo no fim da universidade. “A didática, o domínio do conteúdo, a facilidade que ele tem de transmitir conhecimento é impressionante”, lembra.
De todos os professores que eu tive a honra de ter, ele foi indubitavelmente o que mais me inspirou
Lineu Neto, ex-coordenador do curso de matemática da UnB
Professores que inspiram
A transição da adolescência para a vida adulta e as grandes decisões que os jovens têm que tomar durante esta fase tornam o Ensino Médio uma etapa difícil e cheia de degraus para novos estágios da vida. Por isso, é essencial ter professores como Toshio, que sejam norteadores e ajudem os estudantes a passar de forma mais suave pela temida fase. Valem brincadeiras, dinâmicas, histórias e tudo mais que torne o aprendizado eficiente e prazeroso.
Todos os dias, a professora de literatura Camilla Yoshico Shimabuko Osiro, de 34 anos, tem que vencer um desafio: fazer com que os estudantes se interessem por obras de autores clássicos como Machado de Assis, José de Alencar e de outros grandes nomes do século 19 em tempos de redes sociais e grandes produções cinematográficas.
A fórmula encontrada por ela e que sempre envolve as turmas é a de recriar os diálogos dos livros por meio de poesias e contação de histórias. “Pego livros como ‘Os Miseráveis’, de Victor Hugo, e tento reproduzir algumas cenas. Quando conto a história de ‘O Guarani’, por exemplo, interpreto o Peri e a Cecília. Os meninos vibram, adoram. E eu também”, revela.
Ao lado da professora de música Liège Pinheiro, Camilla ajudou a produzir, por exemplo, o musical “PASsageiros”, que abordou de forma transdiscipliciplinar conteúdos e obras literárias cobradas pelo Programa de Avaliação Seriada. O projeto, que ganhou vida em 2016, envolveu 50 alunos e foi encenado no Teatro Unip, na 913 Sul (vídeo abaixo).
Outro mestre que tem muitas histórias para contar é Paulo Alves Cardoso, de 66 anos. Formado em História e Antropologia pela UnB, teve uma grande experiência no início da carreira que rende perguntas em sala de aula até hoje. Paulo participou de uma equipe de antropólogos que estudou e conviveu durante dez anos com a comunidade indígena dos Yanomami, uma das maiores tribos relativamente isoladas na América do Sul, localizada na floresta Amazônica.
“Os alunos perguntam de tudo, principalmente sobre a nudez. É uma festa, mas o mais importante é que gera um interesse enorme neles pelo estudo. Muitos voltam depois com pesquisas sobre a tribo”, destaca.
Já a professora Marissa Machado Borges, de 37 anos, ensina biologia há 17 e costuma utilizar paródias em suas aulas, principalmente quando o conteúdo exige memorização.“Utilizo músicas de diferentes ritmos e insiro os conceitos trabalhados em sala de aula. Encontro alunos já formados que ainda cantam as minhas músicas!”, ri.
Uma das paródias elaboradas pela professora garantiu aos alunos pelo menos um ponto na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O último item da prova justamente se referia ao processo de condução e transpiração dos vegetais, tema tratado em uma versão da música “Poeira”, de Ivete Sangalo.
Apesar dos conhecidos (e sempre celebrados) momentos de descontração, Marissa defende que a relação professor/aluno deve ser pautada pelo respeito, sempre com limites. “Eles entendem rapidamente que estamos ‘do mesmo lado’ e, assim, nos ajudamos mutuamente”.