Livro Histórias do Porão conta trajetória do Porão do Rock em Brasília
A obra é escrita pelo jornalista Pedro de Luna e apresenta histórias do maior festival roqueiro da capital
atualizado
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Em 20 anos de trajetória, o maior festival de rock de Brasília, o Porão do Rock, tem muitas histórias para contar. A 21ª edição acontece neste ano, nos dias 29 e 30 de setembro. E para imortalizar as duas décadas do evento, o jornalista Pedro de Luna (foto em destaque) lança o livro Histórias do Porão. A publicação conta casos de bastidores, cenas inesquecíveis e os desafios enfrentados ao longo desse periódo.
Ricamente ilustrado em 228 páginas coloridas e protagonizado por cinco roqueiros ilustres de Brasília, Histórias do Porão contribuirá para a (ainda) escassa bibliografia sobre cenas musicais e festivais independentes no Brasil. Ao lado dos irmãos Alf e Raul, o produtor Gustavo Sá é o único que trabalhou em todas as 20 edições do Porão.
Ele garante que o livro não será chapa branca: “Nossa única preocupação foi com a verdade, expondo a visão de quem trabalha nos bastidores para o evento acontecer todo ano e com sucesso. O Porão do Rock revelou muitas bandas, afirmou outras e continua sendo uma vitrine importantíssima no país”.
O niteroiense Pedro de Luna foi único jornalista de fora de Brasília a cobrir a primeira edição do Porão do Rock, em 1998. Desde então, ele voltou algumas vezes ao festival e ainda acompanhou, à distância, a evolução do evento. Em janeiro de 2018, De Luna foi convidado por Gustavo Sá, produtor do Porão do Rock, para escrever o livro sobre as duas décadas de festival. Com mais de 200 páginas, “Histórias do Porão” chega em breve da gráfica e estará à venda durante o festival (pelo valor de R$ 50). Em entrevista o jornalista – autor cujo nono livro, sobre a banda Planet Hemp, sai ainda este ano – conta como foi a elaboração do livro e o que os leitores poderão encontrar nele.
São 20 anos de muitas histórias. Mas qual dentre as que você descobriu na investigação para o livro mais te marcaram?
Como bem diz o nome, Histórias do Porão é um apanhado de boas histórias que, juntas, contam a trajetória dos 20 anos do festival Porão do Rock. Tem passagens bacanas, como a explosão na 207 Norte no dia em que a galera se reunia para assinar a ata de criação da ONG. Eu gosto muito da aventura e da tensão quando o Gustavo e o Raul levaram o Muse para Brasília em 2008, que comprova a intuição do produtor. Apesar de não ter ido em 2002, fiquei emocionado de tabela com o show do Sepultura no dia em que a seleção brasileira foi pentacampeã, por que já assisti a banda no Porão e sempre foi incrível. Uma sinergia voraz entre o público e os músicos. Tem ainda o episódio da separação entre a as produtoras For Rock e G4, que foi bastante dramático, a primeira vez em que o evento saiu do Mané Garrincha e foi pra Esplanada, e vários episódios incluindo drogas, bastidores, performances e a fatídica noite em que um vocalista punk defecou no camarim. Nesse caso sem fotos, claro.
Sobre a apuração para o livro, algum desafio? Alguma informação mais difícil de encontrar? Além dos entrevistados, quais as outras fontes de pesquisa consultadas?
O principal desafio foi o prazo apertado. Foram apenas três meses entre as entrevistas e a entrega do livro escrito, revisado e diagramado. A equipe da Ilustre Editora trabalhou duro para cumprir o prazo. Inicialmente a minha ideia era contar a ideia daquele jovem cearense (Gustavo Sá) que meio por acaso virou um grande produtor. A única pessoa que esteve por trás das 20 edições do festival, cujo irmão (Alf Sá) tocou em várias bandas e viveu a cena under de Brasília. No meio do caminho. o Gustavo me convenceu a entrevistar outras pessoas que participaram de tudo desde o início, como Márcio Cokin, vocalista do Zamaster; Clausem Bonifácio, vocalista do Nulimit; Alf Sá, vocalista do Rumbora; e o Marcos Pinheiro, assessor de imprensa do festival. Também batemos um papo com o Governador. Coincidência, no primeiro Porão, em 1998, o Rollemberg foi o grande facilitador junto à SETUR para que o evento saísse do papel, ocupando a recém reformada Concha Acústica. Então, além das entrevistas, eu pesquisei na imprensa e na internet, utilizei também o material de arquivo de terceiros, alguma coisa do meu acervo pessoal, e centenas de fotografias raras e inéditas dessas duas décadas de Porão. Escrever sobre a cena musical brasileira ainda é muito difícil, a nossa bibliografia ainda é mínima. Eu pesquiso bastante sobre os anos 1990, que é uma década analógica. Fotogravam pouco, filmavam quase nada. Sua história não está digitalizada e disponível na internet. Espero contribuir mais um pouco documentando a cena com “Histórias do Porão”.
Você esteve em algumas edições do Porão. Nessas ocasiões, o que, para você, era possível perceber que diferenciava o Porão de outros eventos semelhantes ao redor do Brasil?
Uma das minhas principais lembranças do Porão foi no primeiro de todos, em 1998, à beira do lago Paranoá (na Concha Acústica), numa noite linda e um clima incrível. Eu tinha apenas 23 anos, foi a minha segunda viagem como jornalista para cobrir um festival de rock Brasil afora (o primeiro foi o Abril Pro Rock). A minha segunda grande lembrança foi quando voltei pela segunda vez ao Porão, no ano 2000, e tomei um susto! O Porão estava muito maior, ao invés de um, ganhou dois palcos, kit para a imprensa, comercial de TV premiado e até cartão telefônico promocional. Em 2001 foi o auge, o Porão teve até uma revistinha de bolso! Comparações podem soar injustas, mas o que diferenciava o Porão do Rock dos demais festivais pelo Brasil era, em primeiro lugar, a infraestrutura que cresceu rápido e exponencialmente. Em segundo lugar, a localização geográfica (próxima ao poder e ao patrocinador) e os shows, sempre com um line up bacana. O Porão foi um dos primeiros a trazer os gringos pra tocar. Graças ao Porão, muitos artistas de fora tocaram (e tocam) no Centro-Oeste. Como o já citado Muse. Ao contratar atrações internacionais para Brasília, o Festival possibilitou também shows na vizinha Goiânia. Ao invés de uma, duas apresentações na região. Bom pro artista, melhor pro público. Em terceiro lugar, o merchandising, que já teve até lata de cerveja personalizada e o tal cartão telefônico. Ir ao Porão significava voltar com algum brinde comemorativo daquele ano em especial. Um brinde oficial e mais um monte de fitas e CDs demo na mochila. Em quarto, o fomento à cena do Distrito Federal, tanto com o evento principal quanto com as seletivas, as festas temporárias, a produção de conteúdo, o programa de rádio e agora este livro. Sem contar a própria história do festival, de ter surgido de um agrupamento de bandas que ensaiavam num mesmo subsolo.
E nessas suas vindas ao Porão, lembra de shows ou momentos de bastidores dignos de nota? Algo que você curtiu e passou a associar às suas boas lembranças do festival?
Cada vinda ao Porão foi uma experiência diferente e é isso que o faz ser tão bacana. Desde a pessoa que eles escolhem para dividir o apartamento contigo, já que eu sempre vim com a imprensa, até os papos na van, a oportunidade de assistir aos shows do gargarejo, bem de pertinho. Em 2013, por exemplo, foi maneiro demais ver a galera invadindo o palco do Suicidal Tendencies, e o Rodrigo Lima descer do palco durante o show do Dead Fish, se jogar para o público e voltar todo rasgado feliz da vida. Outra coisa que faz qualquer festival valer a pena é um bom backstage, e o Porão sempre teve um. Astral legal, pessoas legais, com muita interação entre todos.
O livro promove um passeio imagético pela história do Porão. Quais imagens você sugere que resumem essa trajetória?
As que me vem à cabeça são:
1) A célebre foto com todas as bandas fundadoras do Porão do Rock tirada em 1998 na 207 Norte.
2) A foto do show do Sheik Tosado no Porão de 1999 tirada de trás do palco, mostrando uma multidão e uma grua de TV.
3) Também de 1999, as fotos da Plebe Rude. A banda voltou por causa do Porão e foi uma felicidade tremenda ter um texto de abertura do livro assinado pelo baixista André X no livro.
4) O livro também tem um texto de outro baixista, Canisso, dos Raimundos. Então eu acho massa as fotos do show deles no Porão 2000, ainda com o Rodolfo no vocal.
5) Emblemática é a foto de 2001, com os fundadores da ONG Porão do Rock. Doze homens e um destino.
6) Outro ápice foi o show do Sepultura em 2002 no dia em que a seleção foi penta. Tem fotos do vocalista e do guitarrista da banda tocando, ambos com a camisa do Brasil.
7) O Gustavo Sá sempre destaca que o Porão foi o primeiro grande festival a dar espaço para a Pitty. Ela tocou em 2003, bem no início da carreira, e dali em diante voltou inúmeras vezes, inclusive em 2008, quando pediu para abrir pro Muse. No livro tem fotos desses dois shows, entre outras.
8) Então, claro, uma foto do Muse, um show divisor de águas na história do Porão.
9) Na sequência, o Gustavo fez o show do The Hives num evento paralelo chamada Pílulas Porão do Rock, e tem uma foto incrível do vocalista dando um pulo de uns dois metros. Não foi no festival, mas é demais!
10) Outro grande momento foi o show em tributo ao Legião Urbana, com Dado e Bonfá, na primeira e única vez que o festival aconteceu na Esplanada dos Ministérios. A noite estava azulada e o público se emocionou com a rosa branca no microfone reservado ao Renato Russo. Esse capítulo ficou lindo, com fotos iradas do Maskavo Roots original, Paralamas, Plebe Rude, Raimundos, Móveis Coloniais de Acaju, Sepultura, Little Quail, Detrito Federal e Eagles of Death Metal. São tantos! Logo depois rolou o Porão na Argentina, também em 2009. Caramba, chegamos a 10 fotos e ainda estamos no ano de 2009 (risos). São muitas histórias para contar sobre o Porão