Fábrica de cervejas artesanais deve impulsionar mercado no DF e região
Com capacidade para produzir até 240 mil litros/mês, empreendimento será inaugurado em maio e poderá ser locado por cervejarias “ciganas”
atualizado
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O mercado de cervejas artesanais e especiais parece que caiu de vez no gosto do brasileiro. Segundo dados do Instituto de Cerveja Brasil, esse nicho não se importou com a crise que assolou o país e cresceu entre 12% e 15% em 2016. A expectativa é de que, com a recuperação da economia, o segmento cresça ainda mais, saltando de 1% para 1,5% do total da indústria de bebida até 2018. O número ainda é tímido, mas mostra que há um potencial incrível esperando para ser explorado.
Graças a esse novo paladar e à crescente demanda, a Stadt Cervejaria, principal marca de cervejas artesanais e especiais do Distrito Federal, irá inaugurar, em Luziânia (GO), a segunda fábrica da empresa. Prevista para começar a funcionar em maio, a unidade, que tem mil metros quadrados e capacidade para produção de até 240 mil litros por mês, será a segunda maior fábrica do segmento no Centro-Oeste. Apesar do volume de produção, a cerveja continuará sendo artesanal, pois não serão adicionados conservantes químicos, somente naturais.
Além de expandir a capacidade atual de 70 mil litros/mês, a cervejaria abrirá espaço para o desenvolvimento de outros produtores locais, conhecidos como “ciganos”. Essas microcervejarias são chamadas assim porque não contam com um espaço fixo e costumam alugar o maquinário ocioso de outras empresas para fabricar o próprio produto. Trata-se de uma prática comum no setor e que permite com que os pequenos fabricantes ampliem sua capacidade produtiva.Rogéria Xerxenevsky, sócia da Micro X, foi uma das pioneiras desse tipo de modalidade na capital. Para produzir os quase 5 mil litros de cerveja que comercializa mensalmente no DF, São Paulo e Goiás, a empresa contrata uma fábrica em Goiânia (GO).
“A fábrica que acomoda os ciganos do DF hoje está no limite. Vai ser maravilhoso ter outra opção. Com a inauguração, creio que muitos irão migrar e novos rótulos irão surgir”, acredita a empreendedora, que aproveitou para conhecer a fábrica pessoalmente.
Os sócios do empreendimento, Marc e Yann Cunha, explicam que foram bastante detalhistas no projeto e não deixaram faltar nada de que os produtores de cerveja precisam. Além de todo o maquinário, o espaço conta com escritório, salas de aula para realização de cursos, além de uma casa contêiner para que os cervejeiros ciganos possam acompanhar de perto o desenvolvimento da bebida, já que o processo de fabricação pode durar até 40 dias. “É uma forma de aproveitar todo o potencial do nosso espaço e incentivar o desenvolvimento do segmento no DF”, destaca Marc.
Para Rogéria, a casa é um diferencial. “Meu marido já chegou meia-noite em Goiânia e só terminou de produzir às 22 h do dia seguinte. Ele ficou todo esse período sem dormir, sem uma estrutura para descansar. É preciso acompanhar o processo de perto. Porém, há intervalos de fervura que em que é possível aproveitar para tirar um cochilo. O que essa nova fábrica oferece é sensacional”, afirma.
História de sucesso
Inaugurada em 2004, a Stadt foi a primeira microcervejaria do Distrito Federal. O negócio, que começou como um brewpub (bar que fabrica a própria cerveja), cresceu e, há dois anos, passou a contar com dois novos sócios: Marc e Yann Cunha. Os irmãos decidiram investir no negócio, focando na produção e distribuição para outros estabelecimentos e eventos. O sucesso foi imediato. Atualmente a empresa abastece mais de 30 bares, restaurantes e barbearias com cervejas da marca.
Para atender a toda essa demanda, os sócios construíram uma fábrica e um centro de distribuição no Núcleo Bandeirante. Com o novo projeto, em breve, os consumidores poderão levar para casa as versões Pilsen, Delirius (sucesso de vendas da casa) e IPA (India Pale Ale) em 600ml e long neck.
A cerveja brasileira em números
Ninguém duvida de que o brasileiro gosta de cerveja e os números do setor confirmam isso. Todos os anos, consumimos quase 14 bilhões de litros. No entanto, 99% da venda da bebida está nas mãos de um pequeno grupo de grandes indústrias, segundo o Instituto de Cerveja Brasil (ICB) — uma das principais organizações de formação de biersommeliers do país. De acordo com o ICB, apenas 1% do mercado brasileiro pertence às cervejas artesanais e especiais.
Na avaliação do diretor de operações do ICB, Estácio Rodrigues, há muito espaço para a produção artesanal no país, pois existe uma demanda reprimida. “É preciso melhorar a distribuição. Os donos de pontos de venda precisam entender que podem ganhar dinheiro com isso, pois a margem de ganho é maior do que a de uma cerveja tradicional. Mas, como tudo isso ainda é muito novo, as pessoas têm medo de arriscar”, ressalta.
“Hoje, você não precisa ter a sua fábrica logo de início. A modalidade cigana é uma forma de testar suas receitas e sua marca. Se você viu que tem boa aceitação do público, está apto para começar a sua cervejaria”.
Estácio Rodrigues, diretor de operações do Instituto de Cerveja do Brasil
Hoje o Brasil tem 450 microcervejarias catalogadas. Um dos fatores que dificultam o surgimento de novas cervejarias é a alta carga tributária, o que pode acabar inibindo pequenos empresários. Por isso, ele recomenda aos novos empreendedores começar pela modalidade cigana, já que a construção de uma microcervejaria pode custar de R$ 800 mil a R$ 1 milhão.