Uma ilha de surpresas
Infelizmente o meu filho não encontrou o Cristiano Ronaldo em nossas mini-férias de fim de ano na Ilha da Madeira. O mais ilustre filho da Ilha preferiu curtir a passagem de ano em Dubai… Mas na perseguição ao ídolo, conhecemos as suas irmãs, pessoas de uma simpatia e simplicidade extremas. De qualquer forma, a Madeira […]
atualizado
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Infelizmente o meu filho não encontrou o Cristiano Ronaldo em nossas mini-férias de fim de ano na Ilha da Madeira. O mais ilustre filho da Ilha preferiu curtir a passagem de ano em Dubai… Mas na perseguição ao ídolo, conhecemos as suas irmãs, pessoas de uma simpatia e simplicidade extremas.
De qualquer forma, a Madeira é surpreendente. Talvez sua única falha seja a promoção turística, uma vez que desconhecemos os encantos do local, esse pedacinho de Portugal está fora do radar do Brasil e de muitos portugueses também. Vi muito poucos brasileiros por aqui.
Sabe aquele destaque que valoriza um imóvel? “Apartamento com vista para o mar”, “Casa com vista estonteante”?
Na Ilha da Madeira, é a coisa mais comum possível. Até “enjoa”. De qualquer canto, descobre-se um ângulo diferente da ilha. As encostas das montanhas onde as casas suavemente ficam incrustadas, as dezenas de mirantes (ou “miradouros”, como se diz em Portugal), as estradinhas que serpenteiam as serras.
Uma outra surpresa são os preços na Madeira. Eu imaginava que, por estar isolada do continente, tudo seria mais caro. Não é verdade. A começar pelos combustíveis. Em Lisboa paga-se em torno de 1,40€ o litro do diesel. No Funchal, a capital da Madeira, custa 1,25€. Sem falar que não há pedágios na Ilha, apesar de uma excelente infraestrutura rodoviária com centenas de túneis e viadutos, possivelmente a maior rede do mundo.
Como não podia deixar de ser, há também as surpresas gastronômicas. Como já disse na coluna anterior, me eximo de falar sobre a banana da Madeira, porque a banana está entre os poucos alimentos que não me descem de jeito nenhum. Mas pela quantidade de bananeiras espalhadas pela Ilha era de se esperar que houvesse dezenas de pratos feitos com a fruta. Nem nas sobremesas. Não há. Só vi um tal peixe espada com banana.
Para compensar, tem a espetada, que nada mais é que um espeto de pedaços de carne assada na brasa, que os garçons penduram num suporte sobre a mesa. Uma carne excelente e preços bem razoáveis para uma ilha cuja topografia não facilita a criação de gado. A variação da espetada mais típica é a “espetada em pau de louro”, na qual o espeto não é de metal, mas, sim, de um galho de louro. Atenção: onde os leitores mais mordazes vão enxergar alguma conotação sexual, que fique claro: o pedaço de madeira apenas dá um sabor especial semelhante ao das folhas de louro. Como acompanhamento, milho frito, muito parecido com a nossa polenta frita, só que com mais sabor.
Para abrir a refeição, como entrada, a sugestão é bolo do caco com manteiga d’alho.
O bolo do caco é outro ícone gastronômico da Ilha da Madeira. Na verdade, não é um bolo, mas, sim, um pão de origem árabe, inclusive se parece pelo tamanho e formato com um pão árabe, só que bem mais massudo. O seu nome deve-se à forma como tradicionalmente deveria ser cozido: numa pedra de basalto, chamada de “caco”, sobre brasas escaldantes. Hoje a modernidade se impôs e encontra-se o bolo do caco assado em fornos industriais em qualquer padaria ou supermercado da Ilha.
Para fechar o capítulo gastronômico-etílico, não dá para esquecer o Vinho da Madeira e a Poncha. O Vinho da Madeira é um vinho fortificado, de alto teor alcoólico, principal produto de exportação local, ideal para tomar como aperitivo ou digestivo.
E a Poncha é uma bebida feita com aguardente de cana, açúcar e suco de limão. Viu alguma semelhança com uma típica bebida brasileira? Pois é, reza a lenda que a nossa caipirinha tem origem na Madeira.
Talvez seja por isso e por muito mais que eu tenha me sentido em casa na Ilha da Madeira. As generosas temperaturas de inverno que chegam a 22 graus durante o dia, a vegetação muito parecida com a dos trópicos, diferente de Portugal continental, as cachoeiras e as trilhas. Um Brasil só de coisas boas, a apenas uma hora e meia de Lisboa.