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Se você gosta do modo de vida norte-americano, esqueça Lisboa

Adeptos da teoria do “next, please”, que faz com que as filas nos fast foods andem mais rápido, devem emigrar para Miami

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Tower of Belem, Lisbon
1 de 1 Tower of Belem, Lisbon - Foto: iStock

Se tem uma coisa que os norte-americanos, em especial seu atual presidente, Donald Trump, conseguem fazer é unir os desunidos. A frágil União Europeia, verdadeira Torre de Babel, mais fragilizada ainda com o processo de saída do Reino Unido, o chamado Brexit, esquece suas divergências quando se trata de defender os interesses do continente contra os Estados Unidos.
Mas essas rusgas vêm de longe.

Europeus “de carteirinha” e europeístas em geral têm verdadeiro desprezo pela cultura norte-americana e o American Way of Life. Consideram a cultura ianque rasa, superficial, pura e simplesmente focada em resultados. Uma cultura que não tem foco no conhecimento pelo conhecimento, na reflexão, no crescimento dos indivíduos. Ao fast food, os europeus contrapõem o slow food. Contra a acumulação de riquezas e de supérfluos, propõem o desapego e uma vida com o que é estritamente necessário.

Americanos curtem SUVs, Vans e carros de sete lugares. Europeus vão de Mini Coopers, Smarts e Fiats 500, carros menores, mais econômicos e que cabem em qualquer viela das milenares cidades europeias. Isso quando não optam pelo transporte público, pelas bicicletas e, agora, até patinetes.

Há um programa na TV a cabo sobre acumuladores compulsivos. Sujeitos que colecionam caixas de pizza vazias ou bonecos de pelúcia e preenchem todos os espaços de suas casas a ponto de não conseguirem viver nelas. É uma patologia séria, sem dúvida.

O mais triste é que é uma doença típica da sociedade norte-americana, que estimula o consumo além da conta. Compre 2, leve 3. Por mais 50 centavos de dólar, troque meio litro de refrigerante por um litro naquele combo que já é gigante. Essa acumulação atinge os próprios corpos e transforma os Estados Unidos num país de obesos e obesos mórbidos. Dados apontam que 40% da população norte-americana sofre de obesidade, enquanto na Europa, os índices oscilam entre 20% e 23% na maioria dos países.

Já os norte-americanos enxergam o Velho Continente com todas as conotações negativas que a palavra “velho” pode carregar. Europeus não são modernos, não evoluíram, são ultrapassados, lentos e, de certa forma, indolentes. Não se dedicam ao trabalho, não enfiam a cara, não são ambiciosos. Fecham as lojas na hora do almoço, quando poderiam abri-las 24 horas, 7 dias por semana. Prestadores de serviço na Europa não respondem com a presteza (com o perdão do trocadilho) que deveriam ter.

Muitos brasileiros que pensam em emigrar do país colocam hoje duas hipóteses possíveis: Miami ou Lisboa. Que fique claro que, mesmo sendo duas cidades solares, não têm absolutamente nada a ver uma com a outra. Se você é adepto da teoria do “next, please”, que faz com que as filas nos fast foods andem mais rápido, esqueça Portugal ou mude seu mindset.

Mas se você se encanta com aquelas luminárias com mais de dois séculos nas ruas e quer desacelerar a sua vida, Portugal, e toda a Europa, é uma opção a considerar.

A jornalista portuguesa Clara Ferreira Alves, em seu texto A Europa Resiste, publicado no jornal Expresso de 17 de novembro passado, faz uma análise profunda da evolução da Europa desde a queda do Muro de Berlim. Ela escreve: “No dia 11 de setembro de 2001, o sonho liberal estilhaçou-se. E a América reagiu como um grande animal ferido. Em 2007, a crise financeira fez o resto”.

E, pouco a pouco, começamos a perceber que o admirável mundo novo não era assim tão admirável. De cidadãos passamos a consumidores, a nova ordem mundial inverteu-se e perverteu-se com o gigantismo e o apetite aquisitivo da China, a América das hipotecas deu cabo dos bancos da Europa e impôs uma austeridade cujas consequências são visíveis no esfarelamento da União Europeia e no “Brexit”.

O fato é que enquanto uns ou outros julgarem sua cultura superior, continuaremos a assistir cenas cotidianas de ódio e intolerância, e não encontraremos soluções para problemas que são globais.

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