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O tamanho das coisas num país pequenino como Portugal

Com casas e apartamentos menores, os espaços para guardar produtos alimentícios e de limpeza são mínimos: fazer estoque é inviável

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1 de 1 Map of Portugal, 3D rendering isolated on white background - Foto: IStock

Sou do tempo em que refrigerante em casa era produto de luxo, só consumido nos almoços de domingo. A molecada esperava ansiosa por uma garrafa de Guaraná Antarctica “caçulinha” ou a tradicional de Coca-Cola de vidro. Tudo em 250 ml. Lembro-me de quando lançaram a Coca tamanho família de 1 litro. Supostamente para servir a uma família. Como era um artigo de luxo, as garrafas eram retornáveis, ou seja, você deixava um vasilhame vazio para pegar um cheio. Não havia garrafas PET nem latas de alumínio.

Hoje, qualquer combo individual nas grandes redes de cinema traz aquele balde de pipoca e um litro de refrigerante. Por pessoa. Isso quando não é refil, ou seja, você pode “encher o tanque” quantas vezes quiser.

Toda essa longa e saudosa digressão para lembrar o quanto nos tornamos espaçosos no decorrer do tempo, fruto talvez da influência de uma cultura norte-americana dos tamanhos e quantidades gigantes. Pelo preço de um Big Mac você leva um Big Mac Double. Por uns cêntimos a mais, troca a batata frita e o refrigerante médios pelos grandes. Para uma pessoa só, não para uma família.

Aquele mesmo refrigerante que era vendido no máximo em garrafas de um litro, hoje é encontrado nos supermercados do Brasil em garrafas de dois, dois e meio e até três litros.

Cá em Portugal, o tamanho máximo que eu vi é bem mais comedido: 1,75 litro. E assim ocorre em geral com todos os produtos nos supermercados. É uma questão de espaço: as casas e os apartamentos são pequenos, por consequência, os espaços para guardar produtos alimentícios e de limpeza são mínimos, então não dá para fazer estoque ou guardar grandes embalagens.

Em geral, não há área de serviço, então a máquina de lavar roupa tem de ficar dentro da cozinha e ainda dividir espaço com a obrigatória máquina de lavar louça. Com tão pouco espaço assim, como reservar um armário grande para os mantimentos? Não há a tal “compra de mês” em que a família enche dois carrinhos até o topo. O português faz a compra fracionada, como nos velhos tempos em que se comprava na quitanda.

Se os supermercados têm essas limitações, isso se estende aos horários. O super onde eu me abasteço, perto de casa, abre às 8h30 e fecha às 21h. Não, não é uma vendinha. É supermercado grande. E não adianta chegar às 20h50 para começar a fazer aquela compra gigante. Às 21h em ponto, sutilmente os funcionários já vão te expulsando… Esqueça também os hipermercados 24 horas. Um ou outro fecha às 23h. E nesses, se você for depois das 22h, vai encontrar às moscas. É uma questão de hábito.

Assim como é hábito muitas lojas fecharem para o almoço. Isso não tem nada a ver com a famosa “siesta” espanhola, em que as pessoas dão aquela breve cochilada no início da tarde. Acontece que, em geral, há poucos funcionários nas lojas em Portugal, então é comum você dar com a cara na porta, justamente no horário que tem para resolver as coisas.

A gente se acostuma, é fato, mas irrita. Especialmente se você escolheu para almoçar naquela tasca justamente ao lado daquela lojinha fechada e descobre que ela também não está aberta, porque escolheu fechar sempre às terças-feiras…

Os espaços são pequenos, o país é minúsculo e assim também são as áreas para estacionar os carros. Sempre achei simpáticos aqueles carros minúsculos de dois lugares como o Smart. No Brasil, são caros e raros. Em Portugal, há uma profusão deles, tanto que há áreas de estacionamento em shoppings destinadas exclusivamente aos Smarts. Propositalmente muito bem localizadas.

Sem dúvida uma bela jogada de marketing, mas experimente achar uma vaga nas ruas de Lisboa onde caiba um carro “normal.” Às vezes, fico imaginando se Lisboa fosse invadida por uma dúzia de Chevrolet Suburbans, aqueles ultrasize SUV’s americanos. Entalariam nos becos e não fariam curva em algumas esquinas. Não haveria vaga onde coubessem.

Eu poderia enumerar aqui tantas situações em que o tamanho das coisas é o reflexo de um país… Prefiro ficar com uma das expressões mais gostosas do português de Portugal que refletem o afeto no diminutivo: enquanto nós brasileiros mandamos um largo “abração”, os portugueses e portuguesas mandam beijinhos.

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