Interruptor do lado de fora e box minúsculo: surpresas do banheiro português
Uma das primeiras expressões que meus filhos aprenderam em português de Portugal foi a tal de “casa de banho”. Afinal, para qualquer criança num aperto na rua, saber onde fica o banheiro passa a ser mais importante que o telefone dos bombeiros ou da polícia. “Por favor, onde fica a casa de banho?” E lá se […]
atualizado
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Uma das primeiras expressões que meus filhos aprenderam em português de Portugal foi a tal de “casa de banho”. Afinal, para qualquer criança num aperto na rua, saber onde fica o banheiro passa a ser mais importante que o telefone dos bombeiros ou da polícia. “Por favor, onde fica a casa de banho?” E lá se vão os miúdos em correria desabalada aliviar o que os estava apertando.
Engraçado, pois a pergunta seguinte deles é: “Por que casa de banhos, se não é uma casa nem tem um chuveiro ou uma banheira lá?”. Bem… com as crianças, não dá pra entrar numa discussão linguístico-semântica, dizendo que em inglês é “bathroom”, em francês é “salle de bains”e, mesmo no português brasileiro, é “banheiro”, que tem a ver com banho e blá-blá-blá. No fundo, tudo remete à mesma coisa.
Mas o mais curioso mesmo é que o interruptor das casas de banho nas residências fica do lado de fora. Sim, é isso mesmo. E nenhum português me deu uma explicação plausível para isso. Imaginem quantas vezes, antes de me acostumar, eu entrava, procurava o interruptor e tinha que recuar para acionar pelo lado de fora.
E o que é pior: se você está ali em seu esforço concentrado e alguém simplesmente apaga a luz? Aí, realmente, não há o que fazer. Vai abrir a porta com as calças arriadas? Vai tatear as coisas no escuro? Se o celular ficou do lado de fora, não tem como usar a lanterna nem pedir socorro. É realmente uma situação incômoda e desagradável.Imagine se a moda pega no Brasil, com o nosso espírito sacana-gozador infinitamente maior do que o dos portugueses…
Superado o problema elétrico, entra uma questão hidráulico-anatômica. Ainda não vi nenhuma casa de banho em Portugal que tivesse aquela ducha higiênica, o chuveirinho comumente acoplado ao lado da privada. Aqui, ainda estamos na era do bidê. Mas é um bidê desprovido daquela prática duchinha de baixo para cima. Só tem uma torneira mesmo, pouco prática, que dá ao bidê uma cara mais de bebedouro do que de outra coisa.
Na hora do banho, esqueça a possibilidade de exercer seus dotes artísticos cantando e dançando um “Despacito”. O box é apertado mesmo: ora você bate o cotovelo na parede, ora enfia as costas no misturador e a água esfria. Malabarismos a dois num banho romântico, nem pensar, a menos que vocês sejam contorcionistas de circo.
Para ninguém dizer que estou exagerando, medi o box aqui de casa: um quadradinho de 68 cm de lado. Desconfio que talvez isso seja uma estratégia das companhias de água para economizar o precioso líquido. Faz todo sentido. Mesmo assim, o banho é sempre bom, o aquecimento da água normalmente é a gás, não tem aquele nosso chuveiro elétrico de pingos… O que faz toda a diferença nesses dias de inverno com temperatura mínima em torno dos 8 graus.
E, já que a nossa coluna também é educação e cultura, diga sempre às suas crianças para não esquecerem de acionar o autoclismo da sanita. Traduzindo, não esqueçam de dar descarga na privada. São as nuances da língua portuguesa dos dois lados do Atlântico. O que dá assunto para várias colunas…