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Futuro x passado: afinal, como se enxergam Brasil e Portugal?

Se somos eternamente o país do futuro, fodas em tudo; Portugal é a terra dos grandes heróis do passado, mas que começa a reergues os olhos

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Rising up brazil flags.
1 de 1 Rising up brazil flags. - Foto: Denisfilm/IStock

Desde os primeiros anos de escola, aprendi nos livros de educação moral e cívica que o Brasil era o País do Futuro – assim mesmo, em maiúsculas, para demonstrar a grandeza do feito. Mais de quatro décadas depois, continuo ouvindo a mesma história. Parece aquele adesivo no caixa da padaria que diz que “fiado só amanhã”.

Esperamos ansiosos pelo dia em que a grande profecia se cumprirá. Nem nos damos conta, mas somos um país superlativo que parece estar sempre competindo para ser o melhor em tudo. Não vou nem falar do futebol, pois somos os únicos pentacampeões e que participaram de todas as Copas.

O Brasil é o 5º maior país do mundo e o 5º mais populoso. É o maior produtor mundial de café, cana-de-açúcar e laranja. Em resumo, e me desculpem o termo chulo, somos FODA. No que ainda não somos, seremos em breve, é uma questão de tempo.

Muito se falou recentemente que as nossas reservas de nióbio, um mineral estratégico, nos tornariam o país mais rico do planeta. Assim como existem as teorias sobre o nosso futuro brilhante, existem as teses rasas sobre o que trava o nosso desenvolvimento. A colonização portuguesa e a dependência norte-americana são as teorias campeãs. Como se quase 200 anos depois da independência, ainda estivéssemos presos ao passado colonial.

Pode parecer estranho, mas precisei sair do Brasil para perceber esse nosso caráter megalomaníaco e egoico. É necessário reconhecer que a nossa superautoestima do tamanho da Amazônia tem o seu valor positivo, pois empurra os brasileiros para frente, contra todas as adversidades. Uma frase de campanha publicitária do governo federal de uns 15 anos atrás definia tudo: “Sou brasileiro e não desisto nunca”.

A campanha fechava com um slogan, adaptado de uma frase do antropólogo Câmara Cascudo: “O melhor do Brasil é o brasileiro”.

Mudando para o outro lado do Atlântico, Portugal não é o maior em nada, tirando o Cristiano Ronaldo. Os portugueses não são primeiro lugar ou campeões em coisa alguma. Não sei nem se o melhor pastel de nata e o melhor bacalhau do mundo, dois ícones da culinária local, são feitos em Portugal. Um país normal, com gente normal, que tem o seu ego exatamente do tamanho que deveria ser

Na verdade, os portugueses costumam ter uma autoestima bem abaixo do razoável, por viverem em um país que dentro do contexto europeu sempre teve menor importância.

“O artista é a antena da raça”, já dizia o poeta americano Ezra Pound. O grande poeta português Fernando Pessoa, por meio de seu heterônimo Álvaro de Campos, no Poema em Linha Reta, conscientemente ou não, talvez tenha captado esse espírito português:

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. (…)

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho (…)

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo? (…)

 

É uma ode contra a arrogância do ponto de vista pessoal, mas será que também não tem uma simbologia coletiva?

Se o Brasil é o país do futuro, Portugal tem cultuado ao longo dos anos o passado, da época das grandes navegações, quando o país foi uma das maiores potências mundiais. Pátria de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães, Bartolomeu Dias, uma turma pioneira no desbravamento dos sete mares. Sem falar de Cristóvão Colombo, que, pouca gente sabe que, mesmo a serviço da Espanha, também era portuga.

Hoje, depois de cinco séculos, Portugal parece erguer novamente os olhos e mirar o horizonte com otimismo, como os navegadores do início do século 16.

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